Li numa plataforma digital, no perfil de uma mulher, que ela foi demitida após 14 anos de empresa quando retornava da licença maternidade. Abaixo do depoimento forte e, ao mesmo tempo delicado, que ela escreveu, havia o comentário de um homem dizendo que mulheres dão prejuízos às empresas quando engravidam. Não posso deixar de responder a algo tão neandertal.
Prejuízo é falta de competência e empatia. Ser mãe é se tornar ainda mais responsável, ter ainda mais compromisso com tudo, não apenas com a profissão. A mulher que se torna mãe, muda o pensamento sobre a concepção de mundo. Se antes, havíamos nos desconectado (por ter uma vida corrida) das pequenas mudanças naturais que acontecem no corpo, por exemplo, durante e após a gravidez, redescobrimos cada pedacinho. Se antes, julgávamos a educação das outras pessoas, agora somos mais compreensivas e enxergamos de forma ampliada o que um choro comum, pode estar querendo expressar. E, acima de tudo, enxergamos a nossa importância no mundo.
Quanto ao trabalho, este não poderia ser mais valioso. Afinal, oferecer ao filho tudo que ele merece, custa caro, e isso não é novidade. Porém, ser mais valioso não quer dizer que seja mais importante do que nós mesmas. É importante observar a diferença entre produtividade e figuração no trabalho. Estar muitas horas e produzir pouco é comum e, infelizmente, valorizado pelas cabeças de chefes incapazes de enxergar o quanto vale se programar para ter tempo livre.
São condições básicas para uma vida prazerosa e produtiva, mas muito difíceis de serem implantadas. É preciso que os profissionais da empresa, sejam patrões ou colegas de trabalho, estejam preparados para entender todo esse apanhado de fatos. E ainda há mais. Segundo o relatório de 2021 do World Economic Forum, as mulheres são, muitas vezes, mais qualificadas que os homens. A pesquisa mostra que brasileiros e brasileiras têm o nível de escolaridade básica igual na infância, mas nas universidades as mulheres são maioria. Somando a competência com o fato de que estamos nos tornando cada vez mais chefes de família, demonstramos ainda mais resultados superiores.
Nós temos o poder do planejamento familiar, que é feito com muito mais cuidado por alguém que sabe das consequências de deixar o cargo por seis meses. É uma insegurança que ataca com ferocidade, não só na área profissional (afinal, na cabeça sempre vem a pergunta: "serei substituída?"), mas também na pessoal, pois só aprendemos a ser mãe, sendo. Quantas coisas temos que pesar, pensar e encarar ao decidir pela ousadia de exercer a maternidade. Quem pensa que é simples, não faz ideia do que é ser mulher.
O mesmo estudo que citei acima demonstra que hoje já somos responsáveis por 1/4 das famílias - digo "já" porque nós entramos no mercado de trabalho de forma tardia, e apenas lá na década de 60 que começamos a realmente "ganhar alguma coisa". Antes, éramos apenas uma forma de preencher lacunas da Revolução Industrial. Cada vez mais as mulheres são responsáveis pela administração de toda a família.
A partir do momento em que o planejamento familiar passou para o lado feminino, aconteceu um resultado interessante que asfixia ainda mais essa ideia ignorante do homem que critica a gravidez de uma mulher que está no mercado de trabalho. Qualquer estudo censitário demonstra que hoje há a diminuição da população, ou seja, quando as mulheres passaram a decidir, de fato, o que querem sobre seus corpos e sobre que tipo de família querem constituir, os números passaram a apontar que é uma decisão muito bem pensada. Ao passo em que a quantidade de filhos cai, o número de mulheres que buscam mais posições de sucesso no mercado de trabalho, aumenta. Não é preciso muito esforço para fazer esta observação.
Portanto, dizer que gravidez no trabalho é um problema para a empresa, é assinar embaixo a falta de informação e valorização de quem mostra diariamente, através das pesquisas, como a supracitada, que capacidade não nos falta. E para finalizar, deixo a frase da primeira prefeita de Ottawa, Charlotte Whitton: "Espera-se que as mulheres façam o dobro dos homens, na metade do tempo e sem reconhecimento algum. Ainda bem que isso não é tão difícil."
*Nathalia Alvitos é jornalista, pós-graduada em Psicanálise e membro da Academia Niteroiense de Letras (ANL)
Gravidez e trabalho: o nó gordio do chefe ignorante
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