[or-di-ná-ri-o] adj. | s. m. | interj. | etimol.
(adjetivo) - que está em conformidade com o habitual; que é comum; normal, que se repete com regularidade; que tende a acontecer com frequência; que não possui, nem demonstra brilho (proeminência ou destaque); em que há mediocridade; medíocre. (substantivo) - aquilo que é comum e habitual; frequente. (etimologia) do latim ordinarium - que segue a ordem estabelecida, comum, vulgar, costumeiro; (sinônimos) frequente, vulgar, trivial, corriqueiro, comum, banal, medíocre.
Para início de conversa, precisamos aceitar que o Brasil de hoje se resume a uma sociedade de homens ordinários com poderes extraordinários.
A disputa pelo poder e a relação pecaminosa e vexaminosa do status quo com a política e o Estado sempre foi um escárnio aqui pelas terras de Cabrais. As famílias que dominam nosso jogo de xadrez sem brilho e sem estratégia são as mesmas há quinhentos anos. Somos os melhores do Mundo no quesito lambe botas de estrangeiros ricos e imorais desde 1500 DC, e aplaudimos sem crítica, sem senso e sem decência inúmeros coronéis, capitães do mato e aspones que dão base de sustentação ao poder financeiro estabelecido desde a fundação de nossa república de centrões, blocões, parlamentares bajuladores históricos, eminências pardas, baixos cleros, lobbistas sem cultura, negociadores sem escrúpulos e aduladores sem pudores.
Assim criamos nossos "médios escalões" hierárquicos, seja nas relações sociais, na política, nas empresas e nas relações público privada que sempre mantiveram a roda girando sem que atentássemos que ao longo dos anos criamos uma legislação e uma moral volátil, dúbia, gerando uma ética e uma legalidade questionável que transforma tudo que poderia ser preto no branco em cinza.
Não é preciso estar fora da lei para se fazer algo imoral por aqui. Muito pelo contrário. São gerações e gerações de brasileiros que se profissionalizaram para alargar os limites legais até os limites morais pessoais de cada imoral geração após geração, fazendo com que hoje possamos estar totalmente dentro da lei e totalmente alijados do bom senso, do elogiável e do civilizado. Nós ensinamos isso. Os maiores absurdos são feitos aqui justificados por não ser crime tipificado em lei. Como diria um espectador de um famoso podcast dessa semana: me fale onde a Biblia condena o canibalismo?
Poderia me estender por anos falando só disso, mas o intuito do texto é outro. Eu apenas queria dizer que mesmo com esse cenário descrito acima, conseguimos, dentro dessa realidade macunaímica sem nenhum caráter, viver hoje um cenário que quase nos faz acreditar que o aguardado fundo do poço, enfim, chegou.
Por que "aguardado" e "enfim", você pode estar se perguntando?
Pois, pense bem, quem criou a expressão fundo do poço é, com certeza, um otimista inveterado. Ele olhou para uma determinada situação e, otimista como é, determinou que dali para baixo era impossível de ir. Ou seja, quem criou essa expressão definitivamente não nasceu no Brasil.
A única instituição que ainda resistia minimamente ao escárnio e desrespeito dessa sociedade de homens ordinários com poderes extraordinários era a Igreja Católica. Com erros e acertos, com críticas e elogios, a igreja conseguia manter a liturgia da seriedade e respeito por seus símbolos, ritos e tradições, mesmo entre seus adversários e detratores.
Conseguia.
O festival grotesco de agressões, insultos e uso eleitoral no último 12 de outubro, no maior santuário católico do Brasil, em Aparecida, chocou a parcela do país que não tinha entendido ainda que vivemos sob a égide do fundo do poço, ou seja, nosso único objetivo como sociedade é provar que nós sempre podemos fazer algo para piorar. Somos uma nação de homens ordinários com poderes extraordinários, agindo de forma bárbara, e outros, cínicos, tentando justificá-los em malabarismos retóricos dignos dos duplos twists carpados de Daiane dos Santos.
Ao contrário do que muitos pensam, na minha visão o país lida, neste momento, não contra as vertentes mais tóxicas do pensamento autoritário, reunidas para perpetuar o assalto ao Estado e o extermínio do pensamento democrático, mas sim, lida com o mais profundo descaso pelos valores civilizatórios. É como se não estivéssemos combatendo o fascismo, tão ligado ao século XX, mas defendendo-nos das invasões bárbaras de canibais e mercenários pagãos, na antiguidade.
Tudo isso validado por gente ordinária, com poderes extraordinários alçados a lideranças e exemplos por uma sociedade que carece tanto de valores, de empatia, de ética, de moral, quanto de lideranças que sejam faróis que nos guiem para fora desse poço que nos acostumamos a estar.
Como sou um otimista, acho que chegamos ao fundo do poço, e, daqui pra frente, só nos resta subir.
Graças a Deus e a Nossa Senhora Aparecida.
*Bruno Perpétuo é especialista em Marketing, Posicionamento e Comunicação Política
Fundo do poço é a expressão mais otimista do Brasil
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