O Brasil tem a intenção de adquirir até 2040 um porta-aviões. Este plano vem desde a desativação da embarcação São Paulo, em 2018, em consequência de problemas com seus sistemas de catapultas e pelo uso de caças A-4. Para saber se realmente vale a pena termos um porta-aviões com os sistemas atualizados e com capacidade de atender as demandas da Marinha do Brasil, é necessário analisar todas as condições.
O investimento financeiro é bem alto e é preciso ter em mente de que ao adquirir um porta-aviões, haverá, indubitavelmente, momentos em ele será convocado, mas não poderá atender, já que estas instalações exigem manutenção constante - o que provoca o afastamento do porta-aviões de suas funções. Outro problema são as instalações portuárias, assumidamente um novo porta-aviões seria o maior navio operado pelo Brasil, o que irá requerer investimento em novas instalações para recebe-lo. Também devemos ter em mente que o gasto de tanto recurso em um único sistema leva a possibilidade de perda do mesmo, afinal, este tipo de embarcação está sujeita a acidentes quando empregada em missões. Um exemplo de prejuízo neste contexto, foi a perda do porta-aviões General Belgrano da Marinha Argentina durante a Guerra das Malvinas.
Afinal, para que o Brasil planeja obter um porta-aviões? O Brasil parte do princípio da não intervenção em outros países, prova disto é que somente envia contingentes em missões das Nações Unidas, a ONU, que são ações de paz. Neste cenário, a princípio, se torna desnecessário investir em uma plataforma de projeção de poder. Mesmo assim, imaginando que o Brasil decida agir com maior força no cenário internacional, ter à disposição um único porta-aviões não é suficiente para assegurar a projeção de poder longe das fronteiras nacionais. Os Estados Unidos, por exemplo, que são uma superpotência, possuem 11 supercarriers de capacidade ímpares no mundo. Apesar disto, os americanos se veem em situações em que precisam de mais porta-aviões do que estão disponíveis, situação que solucionam elevando ao conceito do Lightning Carrier, que consiste no uso dos F-35B Lightning II em navios de assalto anfíbios.
Se, de fato, obtermos um porta-aviões, ficaremos em situação semelhante à da França, que possui somente uma embarcação deste tipo. Porém, os elementos em comum se limitariam ao número, pois o cenário francês é outro. A França precisa desta capacidade devido o seu interesse em intervir em conflitos pós-coloniais e intervenções conjuntas com a OTAN. Apesar da França fazer um uso eficiente de suas forças com o porta-aviões Chales de Gaulle, o país pretende adquirir um segundo porta-aviões para suprir suas necessidades estratégicas, dada a demanda por esta capacidade pelas Forças Armadas Francesas.
Em verdade, ao Brasil adquirir um novo porta-aviões, nós estaríamos mais próximos do paradigma russo, que o tem não por necessidades estratégicas, mas por prestígio nacional. Se o Brasil for se envolver em um conflito, este será local, na América do Sul, pois o atual emprego de Forças do Brasil tende a ser em manutenção da paz ou na defesa das fronteiras contra o tráfico de drogas e pessoas, ocasionalmente se defendendo contra grupos como, por exemplo, as FARC. Nenhum destes cenários dão bom uso a um porta-aviões e, no caso de entrar em uma guerra longínqua, um porta-aviões não seria suficiente e a falta de capacidade de transporte aéreo e naval seriam um problema maior.
Um investimento de dezenas de bilhões de reais neste tipo de plataforma aparenta ser um uso inadequado dos recursos limitados disponíveis às Forças Armadas. Perduram lacunas no equipamento brasileiro, como a falta de sistemas de mísseis antiaéreos de longo e médio alcance, ou a falta de mísseis balísticos táticos. Além de haver outras necessidades como a aquisição de novos tanques, ou a necessidade, como temos visto na guerra na Ucrânia, de manter uma frota de drones que sejam suficientes para fazer reconhecimento do campo de batalha e ataques a posições inimigas vulneráveis. Em resumo, o investimento em um porta-aviões necessariamente requer o corte de investimento em outros setores das Forças Armadas, que tendem a ser mais úteis aos possíveis conflitos que Brasil deve se encontrar. Não excluo de forma alguma a utilidade desta plataforma, porém, quando vemos a estrutura de forças atuais e as falhas que lá se encontram um porta-aviões é um custo demasiadamente elevado e removerá recursos necessários em outros setores das Forças Armadas.
*João Timóteo é historiador
O Brasil Precisa de um Porta-Aviões?
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