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A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é considerada um idioma, já que possui suas próprias regras e estrutura gramatical independente da língua portuguesa. Sua construção gramatical não contém, necessariamente, pronomes, sujeito e predicado e não segue as mesmas regras da construção gramatical do português. É por isso que Edna Souto, diretora-geral da Escola Municipal Paulo Freire, no Fonseca, Zona Norte de Niterói, defende que a unidade de ensino é uma unidade bilíngue.
"Outras escolas têm inglês, francês ou alemão como língua adicional. Aqui nós temos a Libras, o segundo idioma mais utilizado no país. Nossa perspectiva é a de incluir melhor os surdos na sociedade", define.
A escola é referência na cidade há quase 20 anos. Na unidade, há turmas específicas bilíngues de primeiro e segundo ciclo. A partir do terceiro ciclo, as turmas específicas são introduzidas em turmas regulares, onde os professores dão aulas junto a um intérprete de Libras, com tradução simultânea. Assim, não somente os alunos surdos aprendem o conteúdo dado pelo professor, mas também os alunos ouvintes aprendem a língua, tanto pelo contato com os intérpretes quanto pelo contato com os alunos surdos.
Para o secretário de Educação de Niterói, Lincoln Araújo, essa inclusão dos alunos com deficiência auditiva junto às turmas regulares é uma poderosa ferramenta que potencializa o ensino em sala de aula.
"A Língua Brasileira de Sinais é uma das principais representações de inclusão social do país. Não poderia ser diferente termos em Niterói uma escola chamada Paulo Freire, com a experiência de 20 anos na educação bilíngue, garantindo o acesso à cultura escolar e à cidadania para crianças e adolescentes. O coletivo de professores engajados neste projeto simboliza a realização da escola que queremos: republicana, inclusiva, cidadã e de qualidade social", afirma.
A preocupação com as atividades para as crianças surdas não se dá apenas em um único turno na Paulo Freire. No turno da tarde, a escola oferece aulas de reforço para os alunos surdos. Para os estudantes de primeiro e segundo ciclo, as aulas de reforço são exclusivamente de Libras. A partir do terceiro ciclo, os alunos recebem reforço de outras disciplinas. Além disso, a escola oferece curso de Libras para pais, responsáveis e professores todas às terças-feiras.
"Aqui, os surdos são muito bem integrados, pois os coordenadores garantem o acompanhamento necessário a esses alunos. O corpo docente é muito capacitado. Entre os professores, temos muitos mestres e doutores. Além disso, a escola recebe estagiários do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e de outras universidades", detalha Edna.
Entre os professores está Ana Paula Lima que, desde 2004, leciona na escola. Ela aprendeu Libras na Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos (Apada). Depois disso, fez um curso avançado no INES. Ana Paula esteve por 12 anos em salas bilíngues e, mais recentemente, trabalha na sala de recursos multifuncionais.
"Foi um impacto muito grande, um desafio que eu achei que não daria conta. Em 2007 eu comecei a acompanhar as turmas de surdos como professora. Estou fazendo mestrado agora. Espero me aprimorar cada vez mais ", conta.
Sobre a Libras - A Libras é um idioma, um sistema linguístico legítimo e natural utilizado pela comunidade surda brasileira. Ela possibilita o desenvolvimento linguístico, social e intelectual, permitindo acesso à comunicação de maneira mais adequada aos surdos. Ela favorece o acesso ao conhecimento cultural-científico, assim como a integração no grupo social ao qual o surdo pertence.
Por possuir suas próprias regras, a Libras é considerada um idioma. A maioria dos surdos é alfabetizada primeiro em Libras e, por conta disso, não entende bem o português. Aprender a língua brasileira dos sinais é como aprender um novo idioma e uma nova forma de pensar e expor o raciocínio.