O Centauro II é um veículo blindado 8x8 com um canhão de 120mm que serve o propósito de ter uma plataforma altamente móvel, de manutenção relativamente baixa e capaz de fazer contra-ataques, além de dar apoio direto à infantaria em ataques de armas combinadas. Este tipo de veículo vem à tona como um destruidor de tanques que requer menos manutenção do que os próprios tanques e, por serem mais leves, também são mais fáceis de serem transportados, especialmente quando existem problemas com a infraestrutura do território. A compra deste armamento é um passo significativo para as Forças Armadas para sanar lacunas em suas capacidades. Esta compra, porém, se encontra suspensa pela Justiça, mas devemos analisar a decisão da compra do Centauro.
A escolha por este veículo foi feita pelo Exército Italiano, por exemplo, justamente por disponibilizar uma capacidade antitanque versátil que é mais facilmente locomovida pelas montanhas do país, sem ter de construir uma frota muito maior de tanques ou criar um problema logístico. A dificuldade em transportar os tanques Ariete no arsenal italiano é, portanto, diminuída pura e simplesmente por haver menos necessidade deste sistema. Os tanques comuns também têm o problema de manutenção mais complexo por conta do sistema de lagartas, que requer manutenção mais especializada, além de serem mais caros por unidade para serem adquiridos. Desta forma, há uma maior quantidade de veículos de combate, resultando capacidades semelhantes, com alta versatilidade e com custo menor. Esta mesma lógica foi usada pelo Japão na adoção do Type 16. O transporte de tanques tradicionais é complexo quando se trata de um arquipélago montanhoso densamente urbanizado como é o caso do Japão.
No Exército Brasileiro este veículo terá um perfil de uso similar, afinal, nosso país é permeado de problemas de infraestrutura que dificultam o transporte de tanques pontes. As ferroviárias e as estradas que não foram desenhadas para facilitar a passagem de veículos de quase 60 toneladas como os tanques Abrams. Tanto que o Exército procura encontrar tanques mais leves e mantem os Leopards em inventários parcialmente por pesarem a volta das 40 toneladas facilitando este problema logístico. O Centauro seria altamente recomendado pela maior facilidade de locomoção.Outro aspecto a ser considerado, é o fato dele ter o armamento de 120mm, que é superior ao armamento em uso atualmente pelo Exércioto - os tanques Leopard I com canhão de 105mm.
Também foram avaliados outros sistemas, como o LAV700G do Canadá e o ST1 da China, que foram, respectivamente, o 2° e 3° qualificados na competição que selecionou o Centauro. O produto chinês ficou abaixo porque o país fabricante tem muitas incertezas a nível político e diplomático. Além disso, a China não é um país que tem um histórico de suprimento de equipamento ao Brasil e, quando se trata de equipamento militar, os países tendem a escolher parceiros com quem já têm relações de longo prazo. Já o produto canadense teria problemas na produção local devido ao uso de tecnologia americana.
Por outro lado, o Centauro carrega ainda mais vantagens. O tanque é produzido por um conglomerado, do qual a IVECO faz parte. Empresa esta que já é responsável pelos VBTP-MR Guarani utilizados hoje pelo Exército Brasileiro e que também fazem sucesso no mercado internacional. Soma-se a estas qualidades, o fato de que muitas peças do Centauro terão semelhanças com as dos tanques já adquiridos pelo Exército Brasileiro, facilitando sua manutenção. É pública a vontade da IVECO de produzir o equipamento para o Brasil, tendo em vista sua boa relação com as Forças Armadas do país e também com a indústria brasileira.
A produção local deste tanque junta-se com a possibilidade de usar a torre do Centauro e outras tecnologias transferidas ao Brasil no upgrade previsto para as viaturas blindadas do tipo Leopards, em uso pelo Exército, o que torna a decisão ainda mais justificada. Ao adquirir esta capacidade o Brasil compra uma tecnologia de ponta, não de segunda mão, como é o hábito, e ainda de uma empresa que está disposta a trabalhar com a indústria nacional. Agora resta só saber se a Justiça vai manter a suspenção deste projeto.
*João Timóteo é historiador