Polícia investiga caso de negligência e abuso em hospital

Família relata falta de informações sobre a paciente e a dificuldade para conseguir uma transferência - Foto: Reprodução via Facebook

Niterói
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A polícia investiga a denúncia de uma família contra o Hospital Icaraí, em Niterói, por negligência, abusos físico e sexual, sofridos por uma jovem de 18 anos, no período em que ela estava internada na unidade de saúde.

Segundo a investigação, o caso começou quando a estudante Luana deu entrada no hospital, no último dia 27, com quadro convulsivo e precisou ser internada. Familiares relataram que desde o início foi difícil manter comunicação com o hospital, então ficavam sem notícias sobre o quadro de saúde da paciente, além de serem proibidos de visitá-la.

Ainda segundo relatos da família, após algum tempo de insistência, foram informados de que a jovem sofreu uma parada respiratória por conta de múltiplas convulsões e precisou ser intubada. De acordo com a irmã da estudante, depois desse acontecimento, o hospital negou informações sobre o quadro clínico da paciente, os procedimentos que ela necessitaria passar, seguindo sem diagnóstico desde então.

Na manhã de terça-feira (1º), a mãe da jovem conseguiu ir até a unidade para visitar a filha, que ainda estava consciente. Durante a visita, como afirmou a irmã da estudante em uma ligação por telefone, ela teria contado, em meio ao choro, que queria sair do hospital, pois estava sendo maltratada pela equipe médica e que teria acordado com suas pernas abertas, enquanto um médico introduzia um objeto em sua vagina. Assustada, a estudante havia gritado por socorro.

Ao saber do relato, mãe e outros familiares da jovem tentaram transferência para outra unidade hospitalar, porém - de acordo com o relato da irmã - a estudante teria sido intubada propositalmente novamente para evitar que saísse do hospital, já que o motivo não foi dito à família desta vez. A irmã da jovem ainda afirma que o hospital se negou a fornecer relatórios sobre o quadro de saúde da vítima para a transferência.

Ainda há relatos de que a vítima estaria amarrada na maca em que estava intubada. De acordo com Beatriz Franco, uma amiga da vítima, os familiares tentam a transferência da vítima há dias e o hospital havia se comprometido a enviar os relatórios necessários, porém, quando foram informados que a jovem seria retirada do hospital, se negaram a dar as informações.

A polícia está realizando investigações sobre o relato da jovem após a mãe dela ter se dirigido até a delegacia e registrado um boletim de ocorrência pedindo exame de corpo de delito na jovem, na 76ª DP (Centro).

Segundo os agentes, as investigações estão em andamento na 76ª DP para apuração os fatos.

"A mãe da vítima vai ser ouvida, nesta sexta-feira, na unidade policial. Os agentes também vão intimar todos os médicos do hospital envolvidos no atendimento à vítima para serem ouvidos na delegacia", informaram.

No momento, segunda a família, a jovem está sedada e intubada, mas com estado de saúde estável. A família ainda tenta transferência, mas sem êxito.

Procurado, o Hospital Icaraí negou todas as acusações do suposto abuso e alegou que a família está sendo comunicada diariamente sobre o caso. Veja a nota da unidade:

 

Com o objetivo de dirimir dúvidas e questionamentos da população e da imprensa sobre uma denúncia de suposta negligência por parte do Hospital Icaraí, no tratamento de um paciente que deu entrada na emergência de nossa Unidade de Saúde, o hospital esclareceu também  os seguintes pontos sobre o protocolo de atendimento e questões referentes ao caso.

1 – O hospital prestou informações para família?
No tocante às informações acerca de quadro clínico de paciente, estas são passadas para a família em toda visitação, de forma presencial. E, no caso que nos é questionado, há registro de que a mãe da paciente compareceu durante todo o período de internação, nos horários de visita, ocasião em que os médicos esclareceram todo o quadro clínico da paciente. Inclusive, quando houve mudança significativa, foi feito contato telefônico solicitando a presença dos familiares para melhor esclarecimento, o que ocorreu.

2 – Qual motivo da paciente ter sido amarrada na cama do hospital?
De acordo com o protocolo de segurança do paciente, em situações de agitação, dificuldade de sedação que pode comprometer a integridade física do paciente, faz-se necessário contenção mecânica até controle do quadro geral por meio da medicação, o que é feito com toda a proteção dos membros superiores e inferiores para evitar lesões ao paciente.

3 – Qual procedimento pode ter sido realizado que pudesse levar a indagação acerca do toque nas partes íntimas da paciente?
Em algumas situações em que há quadro febril com suspeita de processo infeccioso associado, indica-se a realização de exame de culturas, hemocultura e urinocultura. Esse último se faz por meio de sondagem vesical, ou seja, passagem de cateter plástico por meio da uretra para coleta da urina ainda na bexiga. Esse exame é solicitado pelo médico que o prescreve e quem executa, ou seja, realiza a coleta, é a enfermeira. No caso questionado, o exame não chegou a ser finalizado.

4 - Qual motivo de intubação de paciente com crise convulsiva?
Esse é o procedimento realizado após crises convulsivas graves que evoluem com queda do nível de consciência e parada respiratória.

5 – Como ocorre a transferência de paciente ?
A transferência de paciente é possível quando este encontra-se em condições clínicas de remoção e há vaga em outra unidade hospitalar. A transferência pode ocorrer em duas situações: por indicação médica, quando o local em que a paciente está internada não tem todo o suporte necessário para o tratamento, ou quando por vontade do próprio paciente ou representante legal. Nesse último caso, cabe a parte interessada providenciar local para transferência de forma particular ou via plano de saúde. No caso da definição da transferência, é feito um relatório médico de transferência.

6 – Qual o diagnóstico da paciente?
Essa informação não pode ser prestada, pois diz respeito a dados do paciente que são protegidos por sigilo médico.

7 – Qual posicionamento do hospital quanto à alegação da prática de abuso sexual em seu estabelecimento?
O Hospital Icaraí repudia qualquer tipo de violência contra a mulher e jamais compactuaria com um crime tão hediondo dentro de sua instituição.
O Hospital disse que, até o presente momento, não foi intimado por nenhum órgão competente quanto à denúncia de suposto crime e afasta qualquer possibilidade de tal prática.