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Cinco toneladas de lixo são retiradas de rios em Niterói por projeto ambiental da UFF

Por Denise Emanuele Paz Carvalho

Iniciativa liderada por professora da universidade mobiliza moradores da Região Oceânica e busca conscientizar a população sobre a importância da preservação ambiental

Cinco toneladas de resíduos sólidos foram recolhidas apenas nas ecobarreiras instaladas no Rio João Mendes, na Região Oceânica de Niterói. O número expressivo é resultado do projeto Ressignifica, uma iniciativa de educação ambiental conduzida pelo Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense (UFF), sob a coordenação da professora Dirlane Carmo.
Criado em 2024, o Ressignifica vai além da coleta de resíduos: ele identifica, classifica e correlaciona os materiais poluentes com os tipos de uso e ocupação do solo em áreas críticas como as lagoas de Piratininga e Itaipu. Além disso, mapeia pontos de descarte irregular, envolvendo moradores, escolas e pescadores em mutirões de limpeza e ações de conscientização.
“Já conseguimos retirar duas toneladas de lixo do João Mendes somente neste ano. Nossa proposta é mostrar o que tem sido feito para cuidar do rio e, com isso, envolver mais pessoas nesse processo de preservação”, destaca Dirlane.
Apesar dos resultados expressivos, a professora aponta o maior obstáculo da iniciativa: a desconfiança da própria população sobre a efetividade de ações ambientais. Segundo ela, a poluição crônica e o abandono dos rios geraram um sentimento de descrédito e indiferença.
“Não é tarefa fácil reverter essa falta de credibilidade. Buscamos alternativas para envolver a população no projeto como forma de sensibilizá-la. Educação ambiental é a ferramenta, mas a grande questão é como torná-la realmente efetiva”, afirma a pesquisadora.
Uma pesquisa de percepção ambiental conduzida pela UFF com moradores da Região Oceânica revelou que muitos desconhecem as iniciativas em andamento e não acreditam em sua eficácia — um reflexo direto do cenário de degradação. Em trechos do Rio João Mendes e do Rio Jacaré, por exemplo, há construções erguidas sobre os cursos d’água, inclusive imóveis de alto padrão. O estrangulamento dos rios por muros e edificações é visível.
“O meio ambiente não é obstáculo. Pelo contrário: quase todos os recursos da atividade econômica vêm dele. Se não cuidarmos, vamos perder nossa base de sustento”, adverte Dirlane.
O projeto também realiza oficinas educativas sobre o impacto dos plásticos e o uso sustentável de materiais. A iniciativa inclui, ainda, atividades voltadas à compostagem e à pirólise, transformando resíduos orgânicos e sólidos em insumos agrícolas.
Além do João Mendes, o Ressignifica monitora a qualidade das águas do Córrego dos Colibris e dos rios Boa Vista (ou Rio da Vala), Itacoatiara e Jacaré, todos considerados críticos em termos de poluição e contaminação.
Em uma nova fase, o projeto conta com apoio do Instituto de Computação da UFF para o desenvolvimento de um aplicativo gratuito. A ferramenta permitirá que a população denuncie despejos irregulares e acompanhe a situação dos corpos hídricos da cidade em tempo real. O lançamento está previsto para até o fim deste ano.
Com uma abordagem que une ciência, ação comunitária e tecnologia, o Ressignifica busca transformar não apenas o cenário dos rios da cidade, mas também a relação dos moradores com o meio ambiente.

Por Redação Gazeta Rio

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