Tragédia anunciada no paraíso: o desaparecimento de Juliana Marins expõe descaso no turismo de aventura internacional

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Niterói
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A jovem brasileira Juliana Marins, de 24 anos, natural de Niterói (RJ), está desaparecida desde a noite de sexta-feira (20), horário de Brasília, após cair durante uma trilha no Monte Rinjani, na paradisíaca ilha de Lombok, na Indonésia. Juliana, que é dançarina profissional de pole dance, estava sozinha quando tropeçou e despencou por cerca de 300 metros em um dos trechos mais perigosos da rota que leva ao topo do segundo maior vulcão ativo do país.

A tragédia comove não só sua família, mas também uma legião de amigos e seguidores que acompanham sua jornada artística e pessoal pelas redes sociais. Desde fevereiro, Juliana realiza um mochilão pela Ásia, visitando países como Vietnã, Tailândia e Filipinas — uma experiência que mistura espiritualidade, performance e superação pessoal. O que era para ser uma viagem de descoberta, no entanto, virou um pesadelo.

O que choca, porém, não é apenas o acidente — comum, infelizmente, em trilhas montanhosas mal estruturadas e mal sinalizadas —, mas o que veio depois dele. Segundo sua irmã, Mariana Marins, a agência local contratada para conduzir a trilha prestou informações falsas, omitiu dados importantes e atrasou procedimentos essenciais no resgate. “A gente virou a madrugada recebendo versões desencontradas. Eles mentiram para a gente, não sabiam informar com precisão onde ela caiu. Houve negligência e omissão”, desabafou Mariana ao UOL News.

A denúncia é grave e exige atenção. Quando uma brasileira cai em um penhasco, em um país estrangeiro, sob responsabilidade de uma empresa de turismo, a resposta institucional — seja local ou diplomática — precisa ser célere, precisa ser humana, e, sobretudo, precisa ser verdadeira.

Mariana relata que a família só conseguiu algum nível de ação após insistentes contatos com a embaixada brasileira em Jacarta, que agora acompanha o caso. Mas o tempo corre contra Juliana, e cada minuto de desorganização pode custar sua vida. Até o momento da publicação deste artigo, as equipes de busca ainda não haviam localizado a jovem.

Esse episódio joga luz sobre um problema recorrente e muitas vezes invisível: a vulnerabilidade de turistas — especialmente mulheres — em ambientes remotos, em países onde barreiras culturais, linguísticas e burocráticas transformam qualquer emergência em uma batalha. E onde operadores turísticos pouco fiscalizados veem nesses viajantes não pessoas, mas oportunidades.

Juliana não é uma exceção. Ela é parte de uma geração que viaja para se encontrar, para se curar, para viver. São mulheres que se lançam ao mundo com coragem — mas que não deveriam precisar contar com a sorte para voltar para casa.

Não é aceitável que em pleno 2025 uma brasileira desapareça sob responsabilidade de uma agência e que as primeiras respostas sejam desencontros, omissões e mentiras. O caso exige não só justiça e responsabilidade, mas também um olhar mais atento das autoridades brasileiras e internacionais sobre o funcionamento da indústria do turismo de aventura.

A família Marins vive agora o pior tipo de espera: aquela em que o tempo se torna um inimigo, e onde cada notícia que não chega é uma tortura.

Juliana é artista. É filha. É irmã. É uma brasileira. E precisa ser resgatada com o mesmo empenho e urgência que dedicamos a tragédias nacionais. Porque, para sua família, essa já é uma tragédia — uma que poderia ter sido evitada com um mínimo de profissionalismo e humanidade.

Por Micheli Faria (professora e jornalista)