Família de idosa morta em Saquarema clama por justiça

O homicídio de Marilza Marins é repleto de mistérios, em uma cidade conhecida pelo sossego e tranqulidade - Foto: Arquivo Pessoal

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No último dia 9 de junho a aposentada Marilza Marins, 79, se arrumou para ir ao mercado, acompanhada de sua carteira e de seu inseparável carrinho de compras, além de uma proteção incorporada recentemente à sua rotina, uma máscara de pano contra o coronavírus.

Antes de sair, ela falou com sua filha, que se prontificou a acompanhá-la mais tarde nas compras, algo que foi recusado por Marilza, que tinha o costume de fazer suas atividades de forma independente. Depois da conversa, a idosa saiu de casa, no distrito de Bacaxá, em Saquarema, indo em direção ao estabelecimento, a poucos metros de sua casa.

Ao terminar as compras ela conversou com um ambulante que estava em frente ao local e partiu. No entanto, Marilza não chegou em casa e logo foi considerada desaparecida, sendo encontrada morta quatro dias depois a 40 minutos de sua residência, em um terreno privado no bairro Rio de Areia, fechado por portões, correntes e cadeados .

Cerca de 20 dias após o fato, a família de Marilza tenta entender o que aconteceu, cobrando diariamente respostas da 124ª DP de Saquarema, que acompanha o caso e falou à veículos de imprensa, em primeira instância, que ela pode ter sido vítima de homicídio e cárcere.

A neta de Marilza, Vivian Atanes, 19, viu a avó pela última vez na manhã do desaparecimento, e quando chegou em casa se inteirou do sumiço e começou a mobilizar por meio de redes sociais informações que pudessem ajudar na procura pela avó. “Soube por uma pessoa que ela pode ter andado em direção a um supermercado que era mais distante, e buscando informações pelo local me falaram que ela de fato passou pela rua, em frente do local”, comentou Vivian.

 

Marilza foi vista pela última vez ao sair de casa para ir ao supermercado. Ela foi encontrada morta em um terreno a 40 minutos da residência

Foto:Arquivo Pessoal

Detalhes sem explicação

No laudo do IML que foi entregue à família dois dias depois de ter sido concluído, constam informações sobre a morte por asfixia, esganadura feita pelas mãos ou pelo corpo do assassino que, até o momento, não se sabe quem é, ou se teve algum comparsa.

Alguns fatos chamaram atenção: as roupas de baixo da idosa haviam sido retiradas, ainda que o laudo não tenha indicado violência sexual. O carrinho e algumas compras estavam ao lado do corpo de Marilza, mas a carteira com cartões, documentos e o dinheiro que haviam ali sumiram, bem como a sandália da vítima.

Conforme Jean Lima, advogado da família que tem comparecido continuadamente na delegacia para cobrar uma aceleração na investigação, os procedimentos seguem em andamento, tendo como foco análise de câmeras dos lugares por onde ela pode ter passado, além de oitivas com suspeitos.

“Eles estão em diligências, soube que estavam aguardando informações do banco, para verificar o extrato bancário. Ainda não existe nenhuma novidade concreta sobre o caso até o momento”, explicou.

Tatiane Sandes, jornalista e sobrinha de Marilza, tem estado à frente na divulgação do caso na imprensa. Ela pontuou que um dos principais mistérios gira em torno da última conversa que a idosa teve com um vendedor na rua, fato que aparece em um cena de câmera de segurança que a família teve acesso.

“Até agora ninguém falou quem era esse moço. Não sei se ele foi interrogado... Até saber quem é para ouvi-lo, tentar mesmo obter uma declaração pra falar dessa ocasião, talvez algo que ele saiba que possa ajudar. Se ela era freguesa, se ele tá sempre ali, o que ela comprou?”, perguntou Sandes.

Investigadores e o próprio delegado à frente do caso foram procurados e estavam em diligências. Até o fechamento da matéria não obtivemos resposta das partes.

Terreno pertence à instituição religiosa

O espaço onde Marins foi encontrada é um sítio administrado pela Instituição Rio Fluminense, que comanda a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ali era um local disponível não para cultos, mas para encontros de jovens fiéis, um grupo conhecido em todo o Brasil como ‘Desbravadores’.

De acordo com informações da assessoria da Rio Fluminense, para a utilização do espaço era necessária a permissão da sede, e que pelo menos uma semana antes e na ocasião do assassinato não houve nenhum evento.

Em nota, a Rio Fluminense não entrou em muitos detalhes, esclarecendo apenas o posicionamento da igreja em relação ao caso. “A sede da Igreja Adventista do Sétimo Dia para a região fluminense do RJ, proprietária do CTD (Centro de Treinamento dos Desbravadores), lamenta profundamente o ocorrido e está acompanhando e colaborando com as investigações”, diz o comunicado enviado ao O FLUMINENSE.

Também houve uma fala por parte de representantes da instituição sobre um caseiro contratado pela empresa, que mora no local, cuidando da estrutura. Sobre isso, a Rio Fluminense alegou que as investigações policiais fizeram diligências com o funcionário, mas que até agora não tiveram mais informações pois ainda não existe inquérito aberto.

A família de Marilza afirmou que, até o momento, ninguém da Rio Fluminense entrou em contato.

Marilza procurou Saquarema para curtir a velhice

Tatiane contou que Marilza morava com o marido, já falecido, na Zona Norte do Rio, mas que há quase seis anos decidiu ir para Saquarema, uma cidade consideravelmente menor e mais calma, longe da violência, onde poderia curtir a aposentadoria e a idade.

“Minha família mora toda no mesmo terreno, todos são muito próximos e minha tia teve como principal ideia da mudança a procura por um lugar tranquilo para curtir a velhice. É revoltante a demora na comunicação feita pela polícia e todo o caso em si”, disse.

A família tem compartilhado cartazes online sobre uma postagem do Disque Denúncia da Polícia Civil, viabilizado por Tatiane, que pede informações que possam contribuir com o caso. O número para contato, pelo WhatsApp, é (21) 98849-6099, e pelos telefones (21) 2253 1177 e 0300-253-1177.

A filha única de Marilza chegou a fazer homenagens a vítima no local onde foi encontrada, colocando uma série de fotos, cartazes e velas. Na lápide presente onde foi enterrada familiares escreveram, ao lado de frases que evocam saudades, a palavra “Justiça”.