Após 72 anos, idosa submetida à escravidão é resgatada por auditores do trabalho

Nascida em 12 de outubro de 1936, ela veio da cidade de Vassouras, no interior do estado, aos 12 anos de idade, e desde então nunca estudou, namorou, casou ou mesmo teve filhos - Foto: Divulgação

Rio de Janeiro
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Uma mulher de 86 anos, que trabalhou na mesma casa durante 72 anos sem receber qualquer salário ou direitos trabalhistas, está sob os cuidados de assistentes sociais da Prefeitura do Rio após ser resgatada da condição de trabalho escravo em uma casa na Zona Norte do Rio. Nascida em 12 de outubro de 1936, ela veio da cidade de Vassouras, no interior do estado, aos 12 anos de idade, e desde então nunca estudou, namorou, casou ou mesmo teve filhos. Muito menos férias, décimo-terceiro, FGTS, Pis ou qualquer outro benefício.

“Cumpre esclarecer que não se exige, para a configuração da jornada exaustiva, que o trabalhador seja encontrado já com as forças exauridas, mas, sim, que a ausência de folgas ou descansos para a recomposição de energia seja potencialmente capaz de assim a agir no tempo em face de sua saúde física e mental”, informou o Auditor-Fiscal do Trabalho, Alexandre Lyra.

Em todos esses anos a idosa, que teve a identidade preservada, não teve qualquer contato com familiares, e não faz ideia do paradeiro deles. Durante 72 anos ela serviu a três gerações de uma mesma família. Morava e trabalhava na casa dos patrões e dormia em um sofá acanhado, sem ter direito sequer a uma cama simples.

O resgate foi feito em março por auditores fiscais do Ministério do Trabalho. A idosa foi encontrada após denúncias anônimas. Ela era cuidadora da dona da casa, da mesma idade. A mulher foi levada para a central de recepção de idosos da Secretaria Municipal de Assistência Social com documentos originais, passe de ônibus para idosos e um cartão bancário.

“As informações colhidas nos permitiram concluir, em síntese, que os pais da trabalhadora laboravam em uma fazenda da mesma família, que levou a criança, em caso de trabalho 

infantil, para a capital, prometendo oferecer estudo, mas na realidade com o objetivo de fazer os serviços da casa”, finalizou o Auditor-Fiscal, que participou da operação.

Segundo a Prefeitura do Rio, a idosa foi encaminhada para a Clínica da Família Assis Valente, unidade de saúde de referência da região. Lá ela atualizou a caderneta de vacinação e passou por uma consulta médica, a fim de avaliar o quadro emocional e problemas oftalmológicos, e está sob tratamento.