Selo 'Laranjas da Região de Tanguá' é concedido pelo INPI

Esta é a primeira Indicação Geográfica da fruta no país - Foto: Divulgação

Rio de Janeiro
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Os municípios de Tanguá, Itaboraí, Rio Bonito e Araruama, na Grande Rio, conquistaram o primeiro e único registro, atualmente, de Indicação Geográfica (IG) de laranjas no Brasil. O selo, concedido recentemente pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), viabilizou-se através de estímulos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro (Emater-Rio) e patenteia todo o processo produtivo da fruta, tornando única as "Laranjas da Região de Tanguá".

O registro funciona como um selo de qualidade, reconhecendo fatores naturais e humanos diferenciados, e especifica a Denominação de Origem de laranjas da espécie Citrus sinensis, dos tipos Seleta, Natal Folha Murcha e Natal Comum. Uma das características que mais destaca-se é a doçura intensa perceptível ao paladar e o maior rendimento de sucos. O regime de chuvas e o clima da região enriquecem o solo de fósforo e potássio e influenciam diretamente na composição físico-química dos frutos.

O engenheiro agrônomo e extensionista da Emater-Rio, Licínio Louzada, explicou que foi um processo longo e complexo, com tratativas iniciadas em 2011 sobre conseguir a patente dos laranjais.
- A nossa laranja tem uma cor muito forte, um alaranjado que não é comum, e um adocicado marcante. A vontade de oficializar o produto era antiga, e a partir de discussões entre técnicos da Prefeitura de Tanguá e especialistas da Emater-Rio, formalizamos o projeto de mapeamento ao Ministério da Agricultura - detalhou.

Ao todo, R$ 300 mil foram angariados via governo federal como investimento ao processo de IG das laranjas, e uma empresa de consultoria ambiental foi licitada para fazer o catálogo dos dados levantados. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) participou das análises das frutas e do solo, através das entidades vinculadas Embrapa Agroindústria de Alimentos e Embrapa Solos. Louzada afirmou que semanalmente, durante três anos, foram feitas reuniões com os produtores a fim de definir um padrão de qualidade.

- Fizemos reunião com 40, 50 produtores a cada semana, no intuito de fortalecer a associação gestora do projeto. Nós ajudamos a reativar a instituição que representa a citricultura local. Agora é a fase das comemorações; dia 25 marcamos um evento com todos os envolvidos para celebrar a conquista. Daqui para frente é um trabalho mais cuidadoso, de implementar o selo e enquadrar os produtores para eles usarem a marca devidamente - completou.

A IG leva em conta o "saber fazer", passado de geração em geração, como um dos critérios de garantia à denominação de origem. Segundo o exame de mérito do INPI, as análises químicas demonstraram altos índices de sólidos solúveis totais (ºbrix), entre eles os açúcares. Isso decorre essencialmente pela variação de altas e baixas temperaturas em períodos bem definidos, com abundância de água na fase de desenvolvimento dos frutos e deficiência hídrica na fase de maturação.

Selo "Laranjas de Tanguá"

A presidente da Associação dos Citricultores e Produtores Rurais de Tanguá (Acipta), Alessandra Bellas, frisou que o produtor interessado em vincular o selo da Indicação Geográfica ao seu laranjal deverá procurar a instituição, que é responsável pelo credenciamento. Após a entrega de documentação cadastral, a associação fará uma visita técnica para georreferenciar a propriedade e avaliar os lotes de laranjas conforme o Caderno de Especificação Técnica.

- Todo o processo dos selos será realizado pelo Conselho Regulador das Laranjas da Região de Tanguá, órgão dentro da Acipta criado para esta finalidade. O conselho é formado por sete membros, sendo quatro produtores associados e eleitos e três representantes de instituições técnico-científicas, sendo a Emater-Rio, Defesa Agropecuária e Embrapa - esclareceu.

Um dos pontos-chaves do selo é conseguir o aumento de renda aos produtores de laranja; somente no município de Tanguá foram cerca de mil hectares de laranjais catalogados no projeto. A técnica em agropecuária da Emater-Rio, Mari Rosélia da Silva, que também acompanhou os trabalhos de mapeamento desde o início, comentou que o maior efeito é o de valorização das cadeias produtivas e da agricultura familiar local.

- A laranja cultivada aqui é mais limpa e orgânica que em outros lugares, com menos agrotóxicos, e isso não é tão reconhecido como deveria. Sempre incentivamos o reaproveitamento consciente da matéria orgânica, com caidas naturais e biofertilizantes para o melhoramento das lavouras. Tudo que a Emater-Rio faz é nesse sentido de facilitar e melhorar o trabalho do produtor porque já é uma vida difícil, então o selo ajuda as famílias a permanecerem no campo e dá visibilidade ao trabalho em conjunto - concluiu.