Após quase 27 anos à frente da concessão dos trens urbanos no Rio de Janeiro, a SuperVia deixará um sistema em ruínas e um rastro de abandono. Mais do que a degradação da malha ferroviária, o que se impôs ao longo das últimas décadas foi o desrespeito à população fluminense, que depende diariamente de um transporte marcado por atrasos, composições quebradas, insegurança e humilhação.
Com a devolução do serviço ao governo estadual prevista até setembro, o balanço da concessão é desolador. Os trens estão mais lentos do que em 1998, os intervalos mais longos, os vagões mais deteriorados e o sofrimento dos usuários se tornou uma rotina. A viagem entre a Central do Brasil e Japeri, por exemplo, passou de 75 para 103 minutos. Em Santa Cruz, o tempo aumentou de 75 para 98 minutos. No ramal Belford Roxo, de 53 para 64 minutos. A cada dia, o trabalhador perde tempo de vida, de família e de dignidade, empilhado em composições superlotadas e sem manutenção.
Em 2024, quase cinco mil viagens foram canceladas ou interrompidas sem justificativa. O número reflete um sistema colapsado que penaliza o povo mais pobre — justamente quem não tem outra opção de deslocamento. A superlotação nos horários de pico é tão comum quanto a ausência de ventilação, atrasos e composições circulando com portas abertas. Em muitos casos, usuários são obrigados a descer nos trilhos e caminhar até a estação mais próxima. Isso não é transporte público: é um retrato de abandono institucional.
O desrespeito à população também se materializa no que ficou conhecido como o “cemitério de trens”. Em Japeri, 79 composições antigas e depenadas foram abandonadas. Muitas viraram abrigo para usuários de drogas, colocando em risco a segurança de moradores. Em Deodoro, outros 113 vagões estão apodrecendo, penhorados há décadas. A negligência com o patrimônio público reflete o mesmo desprezo com o qual a concessionária tratou os passageiros durante quase três décadas.
As justificativas da SuperVia — pandemia, evasão de passageiros, furtos de cabos — não explicam a ausência de investimentos, a deterioração visível da via permanente, a falência da sinalização e a falta de respeito com os usuários. O colapso não é recente: foi construído com anos de omissão e má gestão.
Fontes:
– Agência Reguladora de Transportes Públicos do Rio de Janeiro (Agetransp); Companhia Estadual de Transporte e Logística (CETL); O Globo; Relatórios técnicos anexos ao contrato de concessão da SuperVia; Entrevistas com passageiros e moradores de áreas próximas aos ramais ferroviários
Descaso sobre trilhos: SuperVia deixa legado de abandono, trens sucateados e humilhação à população
Tpografia
- Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
- Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
- Modo Leitura