O câncer de estômago e a prevenção necessária

Por Antonio Carlos Weston - Foto: Divulgação

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No Brasil, a incidência de câncer de estômago é muito alta. Em algumas regiões do país, como a região Norte e a Sudeste, esta incidência é ainda mais alta podendo chegar a 30 casos por 100.000 habitantes por ano. Equivale a dizer que, no Estado de São Paulo, somente este ano, em torno de 15.000 pessoas serão acometidas por esta doença. Ou seja, números nada desprezíveis. Mas existem alternativas de prevenção e de cuidados que podem ser tomadas no sentido de mudar esta realidade .

O câncer de estômago tem uma característica: nas fases iniciais ele praticamente não produz nenhum sintoma. Apenas um leve desconforto que, muitas vezes, é atribuído a uma "indigestão", como diziam os mais antigos. E este é um problema importante porque, justamente nas fases mais precoces da doença é que estão as maiores chances de cura se houver um tratamento adequado. Após esta fase inicial começam a surgir sintomas mais intensos como, por exemplo, dor abdominal que piora com a alimentação, náuseas, vômitos e perda de peso. Mesmo neste momento muitas pessoas acabam retardando a busca de uma consulta médica atribuindo os sintomas a fatores de menor gravidade. Infelizmente ao demorar muito a busca do recurso e da avaliação médica muitas vezes existe a perda do momento adequado para tratarmos com êxito o câncer de estômago.

Ou seja, existem duas realidades diferentes em relação a esta doença. Uma perspectiva de grande êxito se tivermos a sorte de a diagnosticarmos precocemente mas, infelizmente, uma pequena chance de sucesso se o diagnóstico e o tratamento vierem numa fase mais tardia.

Então, o que devemos valorizar, ou prestar a atenção no sentido de tentarmos prevenir, ou se for o caso, tratar o câncer de estômago com maiores chances de sucesso? Em primeiro lugar o entendimento que não se trata de uma condição rara, ao contrário, ela é bem comum em nosso meio. O Estado de São Paulo tem uma característica populacional marcante. Nele habitam pessoas do Brasil inteiro fazendo com que as características epidemiológicas de doenças comuns em várias regiões do país também sejam uma realidade neste Estado. Da mesma forma, não se deve subestimar sintomas do aparelho digestivo, especialmente se forem recorrentes. Ou seja, não existe uma "indigestão permanente". Há que se buscar atendimento se houver manifestações repetitivas de algum problema.

Quando se fala sobre qualquer tipo de câncer, sempre vem à mente a palavra prevenção. A melhor prevenção parte da base do conhecimento dos fatores de risco que podem levar à doença e no caso do câncer de estômago não é diferente. Os (maus) hábitos de fumar e consumir bebida alcoólica com frequência, especialmente quando em conjunto, são grandes fatores de risco. Mas existem outros como o consumo de alimentos gordurosos, ou muito salgados, em especial os conservados em sal tais como embutidos, salames, charque, carne de sol, e outros que, em grande quantidade, podem também representar um risco. Ao contrário, uma dieta saudável, especialmente contendo frutas e verduras frescas podem desenvolver uma função protetora para o estômago. Também devemos levar em consideração a chamada história familiar de câncer de estômago, mais ainda se for de um familiar próximo como mãe ou pai que teve a doença. Isto deve servir de alarme para o início precoce de cuidados e prevenção.

A melhor prevenção é feita através de um exame chamado Endoscopia Digestiva Alta (EDA) que é muito temido pelas pessoas por acharem, erradamente, que é um exame invasivo e que produz um grau de desconforto elevado. Nos dias atuais, a EDA é realizada de forma rotineira em muitos centros médicos. É feita sob sedação, sem nenhum desconforto ao paciente salvo um jejum de 8 horas. Hoje em dia este exame é coberto pelo SUS e por qualquer plano de saúde. Vale a pena ser feito e, em alguns casos, especialmente nos mais precoces, pode até ser usado para tratar a lesão produzida no estômago pelo câncer, com isso evitando tratamentos mais invasivos como cirurgias e outros. Outro fator importante é a pesquisa que deve ser feita por uma biópsia, realizada durante EDA, de uma bactéria chamada Helicobacter Pylori. Esta bactéria também se constitui num fator de risco para o câncer de estômago, mas pode ser tratada com o simples uso de antibióticos adequados, e isso representa um importante fator de prevenção.

A Associação Brasileira de Câncer Gástrico (ABCG) tem um histórico de mais de 20 anos na pesquisa e divulgação para a comunidade médica do diagnóstico precoce, prevenção, e tratamento do câncer de estômago. Neste sentido ressalto o trabalho pioneiro do nosso querido Professor Joaquim Gama-Rodrigues, nosso primeiro Presidente, e mentor deste importante fórum científico.

Em resumo, não devemos temer o câncer de estômago. Ao contrário, devemos buscar todos os recursos que estão ao nosso alcance para o evitarmos, ou se for o caso, fazermos seu diagnóstico precoce. Desta forma estaremos atuando ativamente no sentido de minimizar o impacto desta doença, ou mesmo evitá-la, o que é sempre o melhor.

*Antonio Carlos Weston é cirurgião do Aparelho Digestivo e Presidente da Associação Brasileira de Câncer Gástrico.