O efeito Orloff vai se repetir

Rodrigo Amorim - Foto: Divulgação

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Rodrigo Amorim

Nos anos 80, havia uma expressão muito utilizada por economistas, que era o "efeito Orloff", expressa na sentença "Eu sou você...amanhã". A frase era dita em um comercial, no qual o personagem que acabava de pedir uma vodka recebia uma visita de uma pessoa igual a ele, que se dizia bem e sem ressaca. Os economistas passaram a usar a expressão para se referir às economias de Brasil e Argentina, no sentido de que o que acontecia em um, acontecia mais tarde no outro. Primeiramente, na Argentina: hiperinflação, dólar alto, desemprego.

O "efeito Orloff" foi combatido no Brasil com os remédios de sempre contra a ressaca: planos econômicos e congelamentos. O "efeito Orloff" foi repetido recentemente, como sabemos: a Argentina elegeu, em 2019, novamente um presidente de esquerda - Alberto Fernández - substituindo Maurício Macri, ex-presidente do Boca Juniors e notamente um político de centro. Três anos depois, o Brasil sofreu a ressaca e elegeu Lula.

Eis que agora estamos às voltas com a possibilidade de um novo efeito Orloff e bem forte: o libertário Javier Milei venceu as primárias argentinas e se tornou, desde já, o favorito a se eleger presidente em outubro. O candidato do governo é o ministro da Economia - pasmem - Sérgio Massa, mas que só foi escolhido por já ter sido presidente da Câmara de Deputados e, portanto, ter grande capacidade de articulação. A candidata de Macri é a ex-ministra da Segurança, Patricia Bullrich, que também já foi prefeita da província de Buenos Aires. Ou seja, temos um cenário muito interessante, semelhante, na verdade, ao de 2018, em que apenas um candidato é a ruptura com o sistema: o ex-jogador de futebol e roqueiro Javier Millei, o político sem papas na língua e que é um verdadeiro trator. Lembra alguém? Sim. Lembra Jair Bolsonaro, que em 2018 ofereceu ao povo brasileiro uma chance de dar uma guinada histórica, sair do lulopetismo, abandonar as opções moderadas.

Eu torço muito por Javier Milei e seu partido La Libertad Avanza. Mas no Brasil, a imprensa militante já começou seu trabalho de assassinato de reputação - a exemplo do que sempre fez com Bolsonaro. Já começou a chamar Milei de "extrema-direita" (nunca temos "extrema-esquerda", é curioso), já o chama de fascista, racista e homófobo. O que é mentira. Milei não é racista e, além disso, apoia a união entre pessoas do mesmo sexo. É contra a legalização do aborto - mas é justo chamar de "fascista" quem é contra o assassinato de bebês?

A verdade é que Milei é um libertário, é a favor da saída da Argentina do Mercosul (eu discordo dessa medida), expõe suas opiniões abertamente sobre a China e defende a dolarização da economia. São opiniões polêmicas, e e está aí o que a extrema-imprensa ou imprensa militante mais detesta: assim como Bolsonaro, Javier Milei é alguém que não se deixa controlar pelo esquerdismo. E isso apavora quem quer manter o poder nas mãos da esquerda, porque este tipo de pessoa fala diretamente com o povo, suas palavras vão em cada bairro, são conduzidas pelos trabalhadores,são multiplicadas nas redes sociais, e é por isso que Milei conseguiu mais de 7 milhões de votos nas primárias.

E essa é uma razão para que a mídia tenha abandonado completamente a investigação do governo atual e se dedique apenas a incensar questões relacionadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro: não querem novamente a sensação de que não controlam a pauta. Mas o efeito Orloff me parece inevitável: Milei vai ganhar em 22 de outubro e as candidaturas de centro-direita no Brasil no ano que vem terão uma força imensa.

A esquerda mesmo se mostra tonta com a ascensão de Milei - esta semana, o ator José de Abreu, que é da Globo e do Lula ao mesmo tempo, disse que "se Javier for eleito haverá guerra civil na Argentina". Preferiu "esquecer" que em 2001, após o "corralito" implantado pelo então presidente Fernando De La Rua, é que a Argentina literalmente pegou fogo.

O partido de De La Rua? União Civil Radical, filiado à Internacional Socialista.

Recomendo ao distinto leitor que de agora em diante leia com filtro todas as notícias sobre Javier Milei - o papo de "extrema-direita" é coisa de quem já está com medo de perder o controle da pauta. A liberdade avança!