EDUCAÇÃO E LUSOFONIA

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A remota aldeia do Caleijão, em São Nicolau - Cabo Verde, via nascer Baltasar Lopes da Silva, em 1907. Uma povoação pequena, numa ilha pouco relevante de um arquipélago minúsculo, tanto que quase não se nota no mapa mundial; um ano comum, sem grandes acontecimentos: estabelecendo-se, dir-se-ia, uma redundância do banal e do ordinário.

Nesta conjuntura tão pouco especial e característica, não se poderia adivinhar que nasceria um dos grandes impulsionadores da literatura cabo-verdiana, um dos fundadores da Revista "Claridade", o escritor do livro mais lido e representativo do país, de contos maravilhosamente redigidos, trazendo consigo a essência e a vivência da "crioulidade", quem viria a ser, ainda, patrono da Universidade Lusófona de Cabo Verde.

Licenciado em Direito e em Filologia Românica, professor secundário numa época em que a educação ainda consistia num apanágio de muito poucos privilegiados, Baltasar Lopes da Silva desenvolveu um trabalho meritório na educação do povo das ilhas; escreveu em português e em crioulo-cabo-verdiano, numa quase aliteração do falar quotidiano, no qual se misturavam (e ainda se misturam) ambas
as línguas.

Escreveu sobre pessoas, simples e triviais, nas suas profissões, com os seus medos, sonhos e desejos, suas aventuras e desventuras. Denunciou os problemas sociais vigentes na época, como sejam a seca - tão recorrente no país, a fome - dela decorrente e a emigração - a qual separava famílias inteiras, mas que consistia na única esperança de sobrevivência.

Apresentou o cabo-verdiano na sua simplicidade, pintando o quadro real, de cores ocres e acres, da cor da terra na qual se semeia mas que, sem chuva, seria regada com o sangue do povo. Apresentou as mães e avós, de uma sociedade marcadamente matriarcal, pois os homens adultos alistavam-se no exercito da emigração, fugindo da seca e da fome e enviando víveres, dos quatro cantos da terra, para sustento das famílias. Falou da ânsia de ficar e da
necessidade extrema de partir… poetizou as dores e as tristezas, salpicando-as com laivos de fé e de resiliência.