Ensino "Híbrido"!

Seus Direitos na Justiça com Guaraci Campos Vianna
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Dr. Guaraci de Campos Vianna

Híbridos são criaturas mitológicas fruto da combinação de partes do corpo de mais de uma espécie que apareceu nas religiões e no folclore de várias culturas como criaturas lendárias. Talvez a associação da mitologia grega a figura do Minotauro, Quimera, Centauros ou Medusa induza a falsa noção de que eles representam uma coisa não muito boa ou associada a um mau presságio. Mas não é bem assim, há virtudes nos seres híbridos citados e há outros como o Grifo (criatura mitológica que possui cabeça e asas de águia e corpo de leão, que punha ovos de ouro e eram utilizados como guardiões) e as Harpias (aves de rapina com seios e rosto de mulheres, que despertavam paixões arrebatadoras) que trazem bons presságios. Mas de qualquer forma, pensamos que o nome híbrido não exprime o real significado do que representa o ensino aqui exposto.

O fato é que o modelo tradicional de ensino está se adaptando as constantes transformações ocorridas recentemente e com isso a modalidade de ensino híbrido vem ganhando força e revolucionando a educação.

O ensino híbrido ou blended learning é uma modalidade de ensino que une o ensino tradicional presencial (sala de aula) e o online, que utiliza tecnologias digitais para promover o ensino a distância. Há momentos em que o aluno estuda sozinho, de maneira virtual e outros em que a aprendizagem ocorre de forma presencial, valorizando a interação entre professor e aluno. Trata-se de uma das grandes tentativas para o futuro da educação, isso porque concilia as vantagens das duas modalidades. Mas como tornar essa modalidade realmente eficiente?

É preciso criar novas metodologias, fortalecer as equipes de apoio pedagógico do ensino à distância, produzir bons materiais e conteúdos didáticos digitais (e sempre que possível não repetí-los), capacitar o corpo docente, utilizar-se da empatia com os alunos (colocar-se no lugar deles) e avaliar o nível de satisfação de cada um.

O assunto estava sendo discutido no Brasil antes da pandemia e talvez o nome não revele a essência do que tratamos. O híbrido significa uma espécie de cruzamento de duas criaturas distintas. Aqui não. Não nos parece que as duas modalidades de ensino são duas coisas autônomas que se juntam e formam uma terceira. Não. O que temos é a educação escolar transmitida harmônica e efetivamente de duas formas diferentes, que antes pareciam antagônicas, mas agora se demonstrou serem perfeitamente conciliáveis: o professor divide a tarefa de exposição do conteúdo com as ferramentas digitais, o que vai exigir uma mudança sensível no seu papel e, reflexamente, também do aluno.

O educador continua sendo o principal responsável pela aprendizagem e pela transmissão do conteúdo programático. Contudo, a presença da tecnologia na sala de aula deve direcionar e induzir o aluno a se interessar a utilizar a internet para buscar mais informações e conteúdo, além do que foi passado pelo mestre. O professor deve estar preparado para inspirar o aluno (e guia-lo) no desenvolvimento de suas competências, sem abrir mão (ou esquecer) do tradicional, como a indicação e utilização de um bom livro (leitura obrigatória) e avaliação periódica (provas) para saber se houve aproveitamento do conteúdo transmitido.

Destarte, no lugar nos alunos permanentemente passivos, teremos um acréscimo de outras ferramentas como a tutoria individual, atividades baseadas em projetos e trabalhos em grupos, alternando-se essa inversão de papéis: ora o aluno se coloca na posição de receber o conteúdo, ora o professor assume essa posição para receber o conteúdo que o aluno por si só trouxe à sala de aula.

Obviamente, tudo deve ser feito dentro da mais rigorosa disciplina e bom senso, devendo as ferramentas utilizadas em sala de aula constarem no projeto pedagógico da escola e os temas incentivados ou direcionados para a pesquisa pelo aluno estarem em harmonia com o conteúdo programático rígido da escola.

Como se observa, não se trata de um monstro educacional, fazendo referência as criaturas mitológicas acima mencionadas, mas sim um adorno extra e moderno que se acrescentou à educação tradicional, aproveitando-se as ferramentas digitais disponíveis ( e já utilizadas pelos alunos) para colherem melhores resultados.

Aliás, para que não se pense que o tema surgiu recentemente, por causa da pandemia, desde 1990 a lei 8069/90 (ECA) se estabeleceu que é um dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente "o acesso aos níveis mais elevados da pesquisa..." (art. 54, V), "o atendimento no ensino fundamental através de programas suplementares de material didático-escolar" (art. 54, VII); o estímulo à "pesquisas", experiências e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação" (art. 57) dentre outras coisas, que são na verdade ferramentas tecnológicas caracterizadoras do que denominam (equivocadamente) de ensino híbrido.

Não é, pois, um caminho novo, mas uma nova maneira de caminhar para todos, professores, alunos, pais, educadores, gestores etc. Voilá!