Uma ressignificação momesca, será?

Chef Alexandre Gazé Filho destaca a necessidade de qualificação profissional em gastronomia - Foto: Alex Ramos

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Em clima de carnaval, pré-carnavalesco 'Pro dia nascer feliz' contará com os blocos Batuquebato e Exagerado

Foto:Renato Campos / Divulgação
A palavra da moda é mesmo essa: ressignificar. Quer dizer que pessoas podem mudar sua visão de mundo a partir de novos significados para acontecimentos. Colocando em prática, é entender que comportamentos inadequados, entre outros para ser mais nevrálgico, não estão mais sendo vistos como atitudes corriqueiras. Uma cantada fora do aceitável – da aceitação da outra parte, é entendida como assédio. É preciso entender que #naoenao, uma campanha contra assédio no carnaval que é muito importante nacionalmente.

Um bom exemplo disso é a crescente das ações em proteção dos direitos da mulher, nas mais variadas esferas de poder, nas redes sociais e, principalmente, na ampla divulgação e ações que visam alertar, divulgar e tentar prevenir certas condutas criminosas. Todos os dias, em média, são 180 mulheres vítimas de violência sexual no Brasil, uma a cada 11 minutos.

A moda do carnaval deste ano é vender garrafas de bebidas “batizadas” com drogas poderosas, seja para cometer crimes comuns, como os de furto, ou hediondos, como estupro e homicídios. É uma triste realidade da nossa doente sociedade, obrigada a não pregar os olhos, atentas a qualquer movimento suspeito. Aliás, dê uma olhada em @carnavaldalata, a ação fala sobre a segurança das latinhas.

O descabido dos últimos tempos nos levou, e aí a arte da opinião me deixa à vontade para divagar, a trazer para nós uma desregulada “obrigação” de sermos o protetor de etnias, costumes e mundos diferentes. Se o tal do politicamente correto nos “obriga” a manter uma postura para uma convivência pacífica, ou tentativa de, ele nos delega um fardo de ou ter de aceitar o interlocutor cortando a sua linha de raciocínio ou não poder ter o direito à livre expressão. E esse último se explica pela massiva pressão de grupelhos amealhados por líquidas verdades “lacradoras”.

Claro que nada invalida o discurso de ambas as partes, mas vivemos hoje em um país extremamente polarizado, principalmente quando se fala de política. Os anos passados da esquerda parecem ter deixado um legado tão desesperançoso que votos em qualquer tipo de mudança foram dados. Eu já imaginava que lobos em pele de cordeiro, até por acompanhar discursos, seriam soltos em verdes pastos, tal qual nossa bandeira. O que não podia imaginar era em qual nível do solo nossa política ia parar. Mas esse não é o viés do discurso, a companhia de águas do estado não me permite molhar as palavras.

Ademais, brasileiros movidos por paixões, estamos deixando de lado a nossa principal característica: o amor, e o amor à nossa liberdade conquistada à duras penas. E quando excluímos do outro do direito a expressar a sua opinião, se branco e outro negro, todxs homossexuais e uns héteros, um eu católico e você umbandista, já entendemos o resto do fio das idiossincrasias, usando uma alteridade cega. Pois trazemos para nós a responsabilidade de outros. Aceitamos um pela opinião da maioria, falamos por “ouvir falar” e tomamos como verdade. Esquecemos das polaridades, como falei anteriormente.

E chegando na chamada desta fala, é o período do carnaval, das diversas tradições e manifestações que tem trazido à tona, e a partir desta sexta feira (a vida toda! Anotem!), existem atitudes deploráveis que precisam ser combatidas e denunciadas: Não é Não! Sem assédio, NÃO comprem garrafas na rua. Denuncie o agressor, esteja junto dos seus, olhe ao seu redor e dos seus amigos. Chamem as autoridades quantas vezes forem necessárias, às vezes no calor do momento e dos seus engajamentos, você não enxerga o todo, deixe para outro tomar as atitudes cabíveis.

E finalmente, isso nos leva a um grande desafio nos próximos tempos: o exercício de ressignificar a alteridade. Ou entender o que realmente seja, pois parece que ninguém está absorvendo nada, ou criando para si uma realidade que apetece aos seus princípios, pré ou já concebidos a partir de suas próprias ressignificações umbilicais, vulgarmente conhecidos como interesse.

 As minhas? Se quiser bater um papo: [email protected] e @agazef nas redes! ;)

Alexandre Gazé Filho é chef de cozinha e jornalista