Fomento para continuidade das pesquisas científicas do Museu Nacional

Museu Nacional passa por reconstrução após ser atingido por incêndio - Foto: Nelson Perez / Governo do Estado do Rio de Janeiro

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O Museu Nacional está ganhando nova vida após o incêndio ocorrido há um ano. O aporte do Governo do Estado, representado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), vem permitindo que as produções científicas sejam retomadas e pesquisadores possam planejar seus projetos. O fomento, no total de R$ 2,5 milhões, contemplou 72 trabalhos que faziam parte das coleções que foram total ou parcialmente perdidas. Cada profissional recebe uma bolsa de R$ 3 mil por mês.

“O aporte de quase R$ 3 milhões de reais contemplou 72 pesquisas e também as obras de infraestrutura e segurança do prédio anexo. Nossos esforços se concentraram em priorizar e preservar o patrimônio intelectual da instituição e contribuir para restabelecer as condições de trabalho desses profissionais especializados. A Faperj, agência de fomento da ciência no Estado do Rio de Janeiro, colabora com o resgate do patrimônio do Museu Nacional”, falou o presidente da Faperj, Jerson Lima Silva.

O Museu Nacional, um dos maiores museus de história natural e antropologia das Américas, é vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ao todo, são 37 coleções, entre fósseis, múmias, registros históricos e obras de arte. Para a vice-coordenadora do núcleo de resgate do acervo do Museu Nacional e uma das paleontólogas contempladas com a bolsa, Luciana Carvalho, o edital “Apoio Emergencial ao Museu Nacional – 2018”, lançado em março deste ano, é um alento em meio à tragédia.

“O projeto é fundamental porque apoia as atividades que têm relação com o resgate. Muitos dos projetos contemplados pela Faperj estavam nas coleções que estão sendo resgatadas e, com isso, temos um suporte a mais para garantir que essas coleções possam receber o devido tratamento e realocá-las junto às coleções antigas. Para os pesquisadores foi um sopro de alento em um momento muito difícil, onde passamos pela perda e todo o processo do incêndio. Toda a comunidade tem uma relação muito próxima com o Museu Nacional e esse apoio nos ajudará a dar continuidade e não desistir das pesquisas”, afirmou Luciana.

Projetos contemplados

Liderado pelo paleontólogo Sérgio Alex Azevedo, o projeto “Dinossauros, múmias, meteoritos e muito mais: recuperação estrutural e operacional do Laboratório de Processamento de Imagem Digital”, visa à reconstrução da estrutura computacional do espaço que foi perdido no incêndio. Entre os materiais, estavam computadores de alto desempenho, além de scanners tridimensionais de superfície, tomografia tridimensional helicoidal, fotogrametria e equipamentos para impressão tridimensional, nos quais mais de 500 peças do acervo como múmias, meteoritos, estelas egípcias, urnas e vasos e o crânio de Luzia foram digitalizadas e alguns reproduzidos.

“O projeto com o aporte da Faperj tem como objetivo uma recuperação preliminar dos equipamentos. O grande intuito era não parar e comprar os materiais básicos para retomar a pesquisa, como computadores e câmeras, o que permitiu que a gente saísse do zero. Não paramos e todo esse apoio permitiu que fosse incorporado ao próprio projeto de resgate. Já vínhamos trabalhando com o processo de digitalização há quase 15 anos e, com o incêndio, incorporamos essa metodologia também à do resgate, fazendo a digitalização tridimensional das peças à medida que elas estão sendo resgatadas dos escombros do Museu”, comentou o pesquisador, que revelou que pesquisas experimentais começaram a ser desenvolvidas após a tragédia

“Projetos surgiram, inclusive este que realiza a impressão em 3D a partir dos escombros do museu, até mesmo das cinzas. Muito material salvo no resgate é feito de cerâmica. E, com isso, estamos desenvolvendo uma tecnologia para impressão 3D a partir deste material, que não é comum para este tipo de produção. Não só conseguimos reproduzir a peça mais próxima do que era a original, mas também podemos recompor alguma peça danificada no incêndio”, acrescentou.

Também apoiado pela Faperj é a pesquisa de Orlando Grillo. O laboratório de Paleovertebrados do Museu Nacional já atuava, antes do incêndio, em uma escavação palentológica de um sítio conhecido como “Tartaruguito”, localizado na cidade de Presidente Prudente (SP), com fósseis do Cretáceo. Rico em tartarugas, crocodilos e outros animais, nos últimos anos, a equipe está produzindo modelos 3D desse afloramento conforme o avanço da escavação.

“Parte deste material pode ter sido perdido no incêndio, como, por exemplo, o mapa que serve para nos balizar com relação às noções espaciais. A ideia do projeto dar continuidade, com retorno ao campo para refazer este mapa, com base no que ainda ficou lá. Além disso, vamos fazer modelos 3D com base nas fotos feitas em campos anteriores para justamente tentar recompor algum material perdido e ainda, coletar outros materiais para também recompor o acervo”, falou Orlando, que contou também sobre os avanços dos trabalhos desde março:

“Com base em imagens feitas no último ano de campo, em 2018, geramos vários modelos 3D. Dos cerca de 20 modelos, metade já foi processada. Temos modelos de áreas inteiras com ossos, outros com ovos e vários tipos de material. A previsão é de retomar ao sítio ainda esse ano para tentar fazer o mapa e coletar mais material”, concluiu o pesquisador.