Promoção da saúde mental em SG

Coordenação de Saúde Mental de São Gonçalo realizou a roda de conversa pelo Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio - Foto: Divulgação

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"Sou o sexto filho de oito. Minha mãe só dedicou a vida dela aos filhos. Não conheci meu pai, ele faleceu quando eu era muito novo. Fico emocionado de estar em uma mesa falando com homens pretos igual a mim sobre nossas dores e sentimentos!", disse Enan Revolth, poeta, rapper, ator e organizador da Roda Cultural da Prainha, em Niterói. O jovem de 19 anos faz parte de um dos percentuais da população que mais comete suicídio no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde: negro, jovem e periférico. Para discutir sobre caminhos possíveis de promoção de saúde e a potência das juventudes na cidade, a Coordenação de Saúde Mental de São Gonçalo realizou uma roda de conversa pelo Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio. O encontro, que aconteceu na Faculdade de Formação de Professores (UERJ-FFP), no Patronato, reuniu estudantes e profissionais da rede de atenção psicossocial do município.

"Para nós é fundamental pensar o suicídio, a temática da depressão e ansiedade a partir daqueles que estão sentindo o corpo ser exposto e alvejado cotidianamente. E é importante falar sobre como essa imagem sempre muito selvagem e animalizada é construída sobre esses meninos. São corpos racializados. Não tem como pensar em atenção psicossocial se não pensarmos na cor desses corpos que estão sendo tombados todos os dias!", afirmou Tainara Cardoso, psicóloga, coordenadora técnica do Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (Capsi) de Alcântara e uma das organizadoras da atividade.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, da cartilha Óbitos por Suicídio entre Adolescentes e Jovens Negros, enquanto a taxa de mortalidade por suicídio entre jovens e adolescentes brancos permaneceu estável de 2012 a 2016, o número aumentou 12% entre a população negra com a mesma idade. O maior risco é entre jovens na faixa etária de 10 a 29 anos. E para jovens e adolescentes do sexo masculino, a chance de suicídio é 50% maior neste grupo do que entre brancos na mesma faixa etária. Para cada 100 jovens e adolescentes brancos que tiraram a própria vida em 2016, 150 negros fizeram o mesmo.

A atividade foi construída em conjunto com a Roda Cultural de Alcântara (RCA), encontro que já acontece há oito anos e tem como objetivo promover a cultura urbana através do hip-hop. A roda é ponto de encontro de skatistas, grafiteiros, poetas e artistas de diferentes áreas, tanto de São Gonçalo quanto de outros municípios, além de realizar rodas de conversas sobre diversos temas.

"Eu moro sozinho desde os meus 15 anos, hoje tenho 21. Por muitas vezes eu pensei em cometer suicídio. E só estou aqui hoje porque muita gente me abraçou e eu sou muito grato por isso. Ao longo da minha vida, eu não consegui criar um alicerce do que fosse família. Durante toda a minha infância eu fui oprimido de uma forma violenta e isso criou muitas revoltas em mim!", relatou Mesquitta, morador do Jardim Catarina e artista de rua que também foi um dos palestrantes.

A psicóloga, sanitarista e articuladora intersetorial e comunitária da rede de saúde mental de São Gonçalo, Kassia Rapella, também é uma das organizadoras da RCA e destaca a importância de pensar cuidado e acolhimento para além dos muros institucionais.

"A ideia dessa atividade foi pensar a questão do suicídio em São Gonçalo, ouvindo a juventude, quem está na mira para morrer. Nós precisamos ouvir esses jovens. Nós, que trabalhamos com saúde mental, muitas vezes ficamos pensando sobre o que podemos fazer dentro dos nossos serviços, mas na rua essa galera já está fazendo muita coisa. Precisamos estar nas ruas. Falamos muito sobre cuidado nos nossos serviços, mas foi com eles e na rua que eu aprendi muito e na prática!", ressaltou.