'Formamos lideranças na Lusofonia'

António Montenegro Fiúza - Foto: Divulgação

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OFLU - Como aconteceu a sua vinda para o Brasil?

ANTÔNIO MONTENEGRO FIÚZA - O convite para administrar uma instituição de ensino superior, no Brasil, surgiu em 2011, em decorrência das atividades desempenhadas, nas mesmas funções, em universidades na África - nomeadamente na Guiné-Bissau e em Cabo Verde. Integrando, há 15 anos, o Grupo Lusófona, a integração no Brasil foi feita com a mesma inspiração que conduziu alguns dos antigos navegadores portugueses: o espírito de missão, a firme convicção de que o mundo é um amplo espaço para descobrir e para crescer, enquanto pessoa e profissional e o reconhecimento de que, nas palavras de Fernando Pessoa, "Minha Pátria é minha língua".

OFLU - Como surgiu a oportunidade de ser diretor dos colégios e faculdades no Brasil?

FIÚZA - A oportunidade surgiu na sequência das outras atividades já desempenhadas, enquanto diretor de instituições nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Há décadas que os estabelecimentos de ensino do nosso grupo, seja em Portugal, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau ou Moçambique, cumprem a missão de pesquisar, investigar, para que haja mais conhecimento, mais tecnologia, mais ensino, mais promoção da cultura, das ciências, das artes e das tecnologias em ordem ao desenvolvimento dos países e povos do espaço Lusófono e, principalmente, o desenvolvimento dos indivíduos que integram esses países.

OFLU - Em que consiste este projeto? E qual o principal objetivo?

FIÚZA - O projeto educativo no Brasil consiste numa extensão às atividades que o Grupo Lusófona tem levado a cabo desde a sua fundação, empenhando-se no desenvolvimento das sociedades, através da educação dos cidadãos que a compõem. Na verdade, nós definimos a educação como a força motriz das sociedades, transformando informação e experiência em conhecimento. Tanto o Colégio Português de São Paulo, o Colégio Paraíso, a Faculdade Lusófona do Rio de Janeiro, a Faculdade Lusófona de São Paulo e a Faculdade Lusófona da Bahia consiste num projeto educativo que alcança a sociedade brasileira, nomeadamente, a de São Paulo, Rio de Janeiro e da Bahia desde as suas bases - as nossas crianças até a formação dos adultos - cimentando o futuro, para uma construção grandiosa do mesmo. Buscamos a formação integral do aluno, no sentido de lhes conceder estímulos suficientes para o desenvolvimento de um sentido crítico.

OFLU - De que forma os colégios e as faculdades se aproximam da cultura e da comunidade portuguesa?

FIÚZA - Adotamos, por imposição legal, o sistema de ensino brasileiro, ao qual fizemos algumas adaptações, para melhor se adequar também ao sistema de ensino português. Também fazemos questão de destacar aspetos intrínsecos da cultura portuguesa, concretizadas na gastronomia, na história, na música, no teatro e no cinema.

OFLU - Quais as expetativas do Grupo Lusófona para o futuro?

FIÚZA - A nível institucional, visionamos instituições de referência, mas, principalmente, prenunciamo-nos nos nossos alunos, futuros quadros/ agentes da sociedade brasileira e portuguesa e de todos os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, com mais de 270 milhões de falantes da língua de Camões, de Jorge Amado, de Mia Couto e de tantos outros, contribuindo para o aprofundamento da amizade mútua e cooperação entre os nossos povos irmãos.

OFLU - Como funciona o processo de seleção?

FIÚZA - O âmbito das nossas instituições não se restringe aos alunos portugueses, mas abrange todos os aqueles que pretendam aderir ao sistema educativo proposto. Temos uma demanda adicional e muito interessante de alunos ou progenitores com nacionalidade e ligação a associações culturais ou comerciais portuguesas. Temos também muitos alunos que depois prosseguem a sua formação nas nossas Instituições em Portugal buscando uma experiência de ensino e o contato com uma realidade cultural diferenciada em condições privilegiadas ao abrigo de um programa de mobilidade existente nas nossas Instituições, nomeadamente com a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias na cidade de Lisboa e com a Universidade Lusófona do Porto.

OFLU - Promovem atividades que liguem os alunos à comunidade portuguesa e a Portugal?

FIÚZA - Absolutamente, por um lado privilegiamos uma educação que une os currículos brasileiro e português, adaptando-os à realidade e aos sistemas de ensino. Dessa forma, os nossos formandos estão aptos a integrar o ensino superior em Portugal ou no Brasil ou na Comunidade de países da União Europeia.

OFLU - No atual contexto da pandemia covid-19, como é este desafio de proporcionar ensino de qualidade aos alunos?

FIÚZA - É um período de transformação e adaptação de tarefas, para manter o mesmo padrão e qualidade de ensino no ambiente virtual, alcançando nossos alunos e estimulando novos recursos e ferramentas. Nosso ambiente virtual, além de contar com elementos interativos, possui conteúdos diários para que os nossos alunos tenham um material dinâmico e completo, garantindo o real e efetivo aprendizado. A implantação de conteúdo, disponível em ambiente multi-plataforma tem sido a condição sine qua non para que pudéssemos proporcionar a todos os alunos e aos pais, as medidas necessárias para tal funcionamento e para que alcancemos os nossos objetivos últimos.

OFLU - Como os alunos passam a ter envolvimento nas atividades à distância?

FIÚZA - Os alunos do Colégio Português de São Paulo e do Colégio Paraíso são protagonistas do futuro. Aqui eles também ensinam e a gente aprende com eles. Podemos citar: os tutorais feitos pelas crianças do ensino fundamental, nos quais eles mostram aos outros coleguinhas como acessar o ambiente virtual no passo a passo; as atividades propostas nas aulas, onde os alunos possuem a missão de trazer o resultado por meio de pesquisas e orientações dos professores; entre vários outros.

OFLU - Até que ponto a metodologia de ensino e de trabalho poderia ser diferente?

FIÚZA - A nossa metodologia tem seguido o padrão e buscando sempre os meios tecnológicos como caminho de inovação e superação dos conhecimentos. Acreditamos que o aluno tem autonomia para aprender e explorar, além de contribuir com boas ideias. O nosso principal objetivo é o de oferecer o melhor ensino aos nossos alunos, e estamos abertos a mudanças, nomeadamente de metodologia, caso se apresentem melhores alternativas. Para que tal aconteça, apostamos na pesquisa contínua e na conciliação entre os objetivos e os meios técnicos existentes.

OFLU - Qual a expectativa para o período de pós-isolamento social?

FIÚZA - Esperamos que os alunos voltem mais estimulados, engajados e com outra energia. Valorizando o ensino, propondo e participando das aulas, questionando e usando em casa mais os recursos da internet como base do conhecimento, a leitura dinâmica para o processo e o desenvolvimento intelectual de cada um deles, trazendo novas experiências e compartilhando boas histórias de atividades com a família.