A cumplicidade mascarada

Ozéas Lopes - Foto: Douglas Macedo/Arquivo

Cidades
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OZÉAS LOPES

Como medida de prevenção ao contágio pela Covid-19, a Organização Mundial da Saúde - OMC, vem recomendando o uso das máscaras de proteção, indicando e, inclusive, ensinando como fazer modelos domésticos do utensílio de proteção. Aliadas no combate à pandemia, as máscaras de proteção e o isolamento social são considerados dois modos indispensáveis e efetivos para conter o mal.

Acontece, que na ânsia de romper com o retiro, que já se prorroga desde meados de março de 2020, todavia, por conta de sua precária efetividade, o que vem aumentando em muito o tempo de confinamento, que se aplicado de maneira ideal já poderia ter sido minorado, com retorno às atividades de modo mais regulado e seguro, as pessoas, sob comandos imprudentes de vários governantes, passaram a assumir o risco de voltar a circular livremente pelas ruas, munidos de suas máscaras, como se justificados na falsa ideia que aqueles aparatos sejam suficientes para garantias de imunidades individuais e coletivas.

Cúmplices na irresponsabilidade, muitos por dever de trabalho, outros por opção desmedida, talvez no momento mais crucial da pandemia, essa significativa parcela da população que retorna às ruas ostentando suas máscaras, como se portadoras de um escudo protetor de total efetividade, burlando a lógica científica da necessidade de combinação entre uso de barreiras físicas com o indispensável isolamento social, se tornarão responsáveis pela indefinida prorrogação do estado pandêmico que assola o país.

Quanto aos trabalhadores que são obrigados ao retorno prematuro de suas atividades, não há outros a quem aferir responsabilidade senão aos governantes, que autorizam a reabertura econômica antecipada, atendendo as pressões dos setores empresariais, insensíveis ao momento de maior gravidade na saúde pública mundial nos últimos cem anos, que apesar de todos os avanços na área de saúde, entretanto, são insuficientes até agora para dominar o vírus.

Por outro lado, àqueles que espontaneamente se oferecem ao risco, expondo não só a si, mas também a coletividade, não há justificativa ou razão para tamanha desfaçatez. Confirmadas as previsões abalizadas de aumento vertiginoso de contaminações, com decorrentes internações e óbitos, serão coniventes com toda sorte de fatalidades que estão por vir, portanto, tão responsáveis quanto os gestores públicos que agora autorizam prematuramente uma inadequada intimidade social.

Não raros, os mesmos que se indignam e lamentam os números de óbitos diariamente noticiados, ainda em espiral ascendente, no entanto, no momento de suas quotas-compromissos, desafiam as regras de segurança coletiva indo às ruas, escondidos por trás de suas máscaras, quase num descaro de cumplicidade, motivados por necessidades de retorno a uma vida com mínimos aspectos de normalidade, após um longo, porém, descontínuo, tempo de afastamento coletivo.

Qualquer volta sem urgência e necessidade é prematura, perigosa e passível de censura. De nada vale a repulsa contra o inoportuno retorno autorizado pelo poder público se, podendo, cada um não fizer a sua parte, mantendo necessário isolamento, até que se alcance números percentuais satisfatórios e que a curva de contaminação se estabilize em valores aceitáveis à um ordenado modelo de reaproximação.

Em síntese, o que resta são dois resultados: ou o tempo dará razão aos que desafiam a ciência e as previsões de agravamento do quadro, vencendo a tese que estamos no momento apropriado à flexibilização do isolamento ou, do contrário, certos os referenciais científicos, não há prognósticos esperançosos que indiquem o fim da crise sanitária, com todas as suas desastrosas consequências. Não é uma boa aposta, podendo, fique em casa.