Doença sem sintomas, perigosa e democrática

Níveis elevados da pressão trazem consequências para todo o corpo - Foto: Divulgação

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Níveis elevados da pressão trazem consequências para todo o corpo

Foto:Divulgação
Uma em cada quatro pessoas sofre de pressão alta. Assim, estima-se que mais de 30% da população adulta do Brasil tem a doença. Apesar desse alto índice, somente metade sabe do diagnóstico. Segundo os dados da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), a doença é responsável por 40% dos infartos e 80% dos derrames.

Essa pode ser considerada uma das doenças mais democráticas do mundo. Não há idade, sexo ou cor: a hipertensão pode atingir homens e mulheres, brancos e negros, ricos e pobres, idosos e crianças ou gordos e magros.

O coração bombeia sangue para diversas partes do corpo. Esse sangue passa pelas artérias, que oferece uma certa resistência para essa passagem. Quando os vasos se contraem e a força que o sangue precisa fazer é maior, há hipertensão. De forma prática, esse sistema pode ser comparado com uma mangueira d’água ligada: se a ponta da mangueira for fechada, a pressão da água aumenta.

A doença crônica é assintomática, ou seja, na maioria das vezes não apresenta sintomas que denunciem sua presença. Para os médicos, esse é o maior desafio na busca pelo diagnóstico. No entanto, quando a pressão arterial sobe muito podem ocorrer dores no peito, dor de cabeça, tonturas, zumbido no ouvido, fraqueza, visão embaçada e sangramento nasal.

Por ser tão silenciosa, é preciso redobrar a atenção e aferir a pressão. Segundo os médicos, essa é a única forma de diagnosticar a doença crônica.

O Ministério da Saúde recomenda que pessoas acima de 20 anos devem medir a pressão ao menos uma vez por ano. No caso de pessoas com a doença na família, deve-se medir, no mínimo, duas vezes por ano.

A pressão é medida através de aparelhos como o esfigmomanômetro ou tensiômetro e em milímetros de mercúrio. A aferição determina duas pressões: a máxima, quando o coração se contrai (sistólica); e a mínima, quando ele se dilata (diastólica).

“A principal maneira para avaliar a pressão arterial é por meio do esfingmomanômetro (aparelho de pressão). De maneira simples e pouco invasiva, ele avalia de uma maneira precisa a pressão arterial, podendo ser realizada no consultório médico, em postos de saúde, ou em casa por meio de aparelhos automáticos – mais fáceis de manejo por pessoas leigas”, aconselha o Cristiano Pisani, cardiologista especialista pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas.

O famoso 12 por 8 (120/80 mmHg) é considerada a pressão ideal, mas, para algumas pessoas, o 10 por 6 é tratado como normal. Para diabéticos, o valor ideal é de 13 por 8. Caso sejam identificados valores iguais ou acima de 14 por 9, são considerados como hipertensão.

De acordo com os médicos, a pressão arterial sofre várias alterações ao longo do dia, por diversos fatores. Assim, não é possível basear o diagnóstico em apenas uma aferição. Se, por exemplo, uma leitura inicial apresentar um valor alto, é necessário conferir novamente e em, pelo menos, mais dois outros dias. Dessa forma, ainda é possível definir sua gravidade.

Mortalidade

O último levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde mostra que foram registrados 983.256 procedimentos de internação e ambulatorial ligados à hipertensão em 2016. Neste mesmo ano, foram contabilizadas 49.640 mortes pela doença, sendo 23.529 em homens e 26.106 em mulheres.

Considerando um período de 10 anos, entre 2006 e 2016, a hipertensão já causou a morte de mais de 4,8 milhões de pessoas.

Gravidez - Mulheres que tenham o diagnóstico de hipertensão devem redobrar os cuidados. As alterações da pressão podem causar graves complicações ao feto, além de elevar o risco de mortalidade, tanto para a mãe quanto para o bebê. Essa, inclusive, é a principal causa de mortalidade materna em países em desenvolvimento, sendo responsável por um grande número de internações em centros de tratamento intensivo.

Obesidade é fator de risco para quem tem pressão alta

Entre as principais recomendações está a mudança na alimentação, dando preferência aos alimentos cozidos e assados

Foto:Freepik
Segundo o Ministério da Saúde, em 90% dos casos, a hipertensão é herdada dos pais. Mas outros fatores influenciam para esse quadro. O envelhecimento está entre eles, já que o risco aumenta de acordo com a idade, tanto em homens quanto em mulheres. A incidência da doença também é maior em negros, diabéticos e obesos.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, o sobrepeso e a obesidade podem acelerar em até 10 anos o aparecimento da pressão alta.

“A obesidade é um dos principais e mais frequentemente encontrados, porém existem vários outros agentes, principalmente envolvendo condições genéticas que podem estar ligadas à pressão alta.

Pacientes magros podem apresentar essa doença. Crianças e indivíduos jovens que apresentam pressão elevada necessitam de investigação para checar outras causas estruturais, e, nesse caso, chamamos de hipertensão secundária”, disse o cardiologista.

Se não tratada, a doença pode trazer sérios danos à saúde e afetar os órgãos, como o coração, os rins e o cérebro. Entre os casos mais comuns decorrentes da hipertensão estão o infarto, insuficiência cardíaca, insuficiência renal ou paralisação dos rins e alterações na visão, que podem até levar à cegueira.

Hábitos saudáveis: o melhor remédio

Não há cura para pressão alta e quem é diagnosticado com a doença deve seguir o tratamento pelo resto da vida para controlá-la. Antes de tudo, o hipertenso precisa adotar hábitos mais saudáveis.

Para o cardiologista Cristiano, um dos principais desafios do médico é convencer os hipertensos a tomarem a medicação todos os dias.

“Isso ocorre porque, principalmente em casos mais graves, muitas vezes é necessário utilizar mais de um medicamento. Como a pressão alta é uma doença silenciosa e que gera poucos sintomas, mas com consequências importantes a longo prazo, esse convencimento do indivíduo para utilizar a medicação passa pela conscientização de que tudo é importante para prevenir complicações no futuro, como infarto, arritmias e AVC”, explica o cardiologista.

Entre as principais recomendações está a mudança na alimentação, dando preferência aos alimentos cozidos, assados, grelhados ou refogados, e a escolha por temperos naturais que realcem o sabor.

O sal é o grande vilão da pressão alta e, por isso, é preciso diminuir a quantidade e não utilizar saleiro à mesa.

A prática de atividades físicas deve ser feita pelo menos cinco dias por semana, como caminhadas, pedaladas, dança e natação.

Em alguns casos, no entanto, isso não é suficiente e é preciso iniciar o tratamento medicamentoso, para reduzir a resistência vascular periférica. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza, gratuitamente, medicamentos nas Unidas Básicas de Saúde e no programa Farmácia Popular. Para retirá-los, basta apresentar um documento de identidade, CPF e a receita médica com validade de 120 dias.