Escolha certa para uma ‘boa hora’

Quarto humanizado tem se tornado uma escolha cada vez mais frequente entre as gestantes que preferem o parto natural - Foto: Lucas Benevides

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Quarto humanizado tem se tornado uma escolha cada vez mais frequente entre as gestantes que preferem o parto natural

Foto:Lucas Benevides
Uma estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que um terço da população das Américas não tem acesso a atenção à saúde e, muitas vezes, se vê num dilema: ter gastos com saúde ou investir em outras necessidades do dia a dia. O alerta surge no Dia Mundial da Saúde, comemorado neste domingo, que tem como tema “Saúde Universal: para todos e todas, em todos os lugares”, concentrando-se na atenção primária à saúde, equidade e solidariedade.

Com o intuito de divulgar informações sobre doenças e tratamentos, a partir desta edição até sábado, O FLUMINENSE traz o projeto especial “Sua Saúde”. Diariamente, no impresso e no site, médicos e especialistas debaterão sobre os principais desafios na medicina e a busca por um atendimento mais humanizado e preventivo.

Um relatório da OMS aponta que em países de baixa renda, onde os serviços de saúde são mais escassos, 1 em 41 mulheres morre por causa materna. Nos países ricos, esse número passa para 1 em 3.300.

Visando diminuir os riscos para a mulher e o bebê, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) implementou em 2015 o programa Parto Adequado, que busca sensibilizar gestantes e profissionais de saúde para que evitem a realização de cesáreas desnecessárias e o parto agendado.

Em Niterói, duas unidades hospitalares já trabalham com o método: o Complexo Hospitalar de Niterói (CHN) e a Maternidade São Francisco.

No CHN, a adoção ao programa em sua primeira fase já apresentou efeitos significativos: o número de partos naturais aumentou 36%. Segundo a coordenadora da maternidade, Daniela Machado, se faz necessária a mudança no próprio profissional e, também, na sociedade.

“As pessoas aqui estão trabalhando para conscientizar as gestantes a tentarem o parto normal. Temos que estimular o que é bom para a mãe e para o bebê, no limite da segurança, claro”, conta Daniela.

Há algum tempo, a mulher preferia fazer o parto com o médico que acompanhou seu pré-natal, por se sentir mais segura e conhecer mais o trabalho do profissional. Hoje, segundo Daniela, essa visão vem mudando. O CHN estimula a circulação da gestante pelo hospital durante o pré-natal, para que ela conheça a equipe médica e o ambiente, sentindo mais confiança em ter o parto normal com os plantonistas.

“Tem muito obstetra de consultório que não assume o parto normal, porque não tem disponibilidade, até porque o parto pode durar horas. Essas gestantes hoje, sabendo desse impeditivo, estão mais conscientes de que podem vir para a emergência e aqui vai ter estrutura, e a gente vem dando esse suporte”, explica.

Outro importante fator estimulador ao parto natural é o quarto humanizado. Nele, a mulher pode optar pela melhor forma de ter o bebê, seja numa maca ou sentada numa banqueta. Bolas e banheiras são outros utensílios disponibilizados como um método natural de alívio da dor.

A Maternidade São Francisco aderiu ao Parto Adequado em 2017, na segunda fase do programa. Desde então, somente a equipe interna do hospital aumentou em 40% o número de partos vaginais. No geral, incluindo equipes médicas externas que chegam ao hospital para atender suas pacientes, esse índice é de 15%. Para o CEO do Parto Adequado na Maternidade São Francisco e chefe médico do Serviço de Obstetrícia da unidade, André Dourado, dentre tantas escolhas durante a maternidade, a mulher deve optar pela via de parto que achar melhor, mas essa tem que ser uma escolha consciente.

“O que o CRM preconiza é que a mulher tem o direito da escolha da via do parto. Hoje, a decisão não é solitária do médico, e o melhor é o incentivo ao parto vaginal, claro, a não ser que haja indicação obstétrica”, avalia André.

Um conceito que reacendeu nos últimos anos foi o parto domiciliar, que acabou virando um modismo, principalmente entre as mulheres famosas. Essa, no entanto, é uma decisão que envolve sérios riscos.

“A conquista do parto hospitalar diminuiu muito a mortalidade perinatal e materna. A gente confunde o parto natural e o domiciliar, aquele que pode gerar inúmeras complicações. É possível realizar um parto natural, com tudo o que a paciente deseja, mas com toda a segurança. Há um anestesista próximo, uma pediatra, toda uma equipe. A paciente tem direito a certas coisas e ela pode decidir, como a analgesia, por exemplo. Outras questões são técnicas”, recomenda o obstetra.