Grande Rio: média de tiroteios em 2019 é menor em relação ao ano anterior

O País jamais registrou tantas mortes por conta de ações policiais como em 2019. E neste ano a situação se agravou - Foto: Douglas Macedo / Arquivo

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A zona norte, com 2.388 registros, foi a região do Grande Rio com mais tiroteios/disparos de arma de fogo e concentrou 32% de todos os registros de 2019. Em seguida, vem a Baixada Fluminense (1.647), Leste Metropolitano (1.372), zona oeste (1.365), centro (337) e zona sul (256).

Em segundo lugar no ranking, a Baixada Fluminense concentrou, com 33% (494), o maior número de mortos (dentre 1.519). Já o Leste Metropolitano, em terceiro lugar no número de tiroteios, teve mais feridos: foram 423, 31% de todos os feridos no Grande Rio em 2019 (1.357).

A capital, Rio de Janeiro, concentrou 59% dos tiroteios no Grande Rio em 2019: foram 4.346 registros. São Gonçalo (800), Belford Roxo (544), Niterói (425) e Duque de Caxias (339) completaram o ranking. O Rio de Janeiro também foi o município com mais baleados: 1.227, sendo 569 mortos e 658 feridos.

A Vila Kennedy, na zona oeste, foi o bairro do Grande Rio com mais tiroteios: 376 no total. Complexo do Alemão (275), Cidade de Deus (268), Tijuca (181) e Praça Seca (153) vêm na sequência. Em terceiro lugar no ranking de tiroteios, a Cidade de Deus, também na zona oeste, foi o bairro que teve o maior número de mortos (30) e de feridos (29) no Grande Rio em 2019.

1.192 tiroteios/disparos de arma de fogo ocorreram em áreas de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), o que representa 16% de todos os registros do Grande Rio em 2019 (7.365). O Complexo do Alemão (275), Complexo da Penha (179), Borel (96), Complexo de Manguinhos (81) e Macacos (58) concentraram o maior número de tiros nessas áreas. Em primeiro lugar no ranking, o Complexo do Alemão também teve, com 53 registros, o maior número de baleados em área de UPP (228).

Balas perdidas

Os 7.365 tiroteios registrados em 2019 deixaram 2.876 pessoas baleadas. Deste total, 189 pessoas foram vítimas de bala perdida - das quais 53 morreram. Em 2018, esse número foi 16% maior: houve 225 vítimas de bala perdida, das quais, 43 não resistiram aos ferimentos e morreram.

Entre as vítimas está uma criança de 4 anos baleada de raspão na cabeça na frente de sua casa, na Rua Zarlinda Custódio Nunes, no Rocha, em São Gonçalo. A criança, que não teve a identidade divulgada, estava com parentes em frente de casa, quando homens armados apareceram e efetuaram disparos contra um rapaz, de 25 anos, que morreu. O caso ocorreu no dia 28 de novembro, data do aniversário da criança.

 

Agentes de segurança

Em 2019, 234 agentes de segurança foram baleados no Grande Rio. Destes, 74 morreram. Este número é 30% menor que o registrado em 2018, quando 334 agentes foram baleados, sendo 113 deles, mortos. Do total de agentes de segurança baleados em 2019, 56 morreram e 75 ficaram feridos fora de serviço, e 18 morreram e 83 ficaram feridos durante o trabalho.

Entre os agentes baleados em serviço (101), 92 foram feridos durante ações/operações policiais. Já entre os baleados fora do posto de trabalho (131), 72 foram durante roubo/tentativa. Dos 234 agentes baleados, a maioria - 202 - era Policial Militar (62 deles morreram e 140 ficaram feridos). O número de PMs baleados em 2019 é 28% menor que o registrado em 2018 (279: sendo 84 mortos e 195 feridos).

Não há lugar seguro

24 vítimas de balas perdidas foram atingidas quando estavam dentro de casa - 3 delas, da mesma família. O cinegrafista Rafael Santos, de 34 anos, foi morto após ser atingido por bala perdida durante tiroteio no dia 15 de junho no Morro da Coroa, no Catumbi. Além dele, Karla Luana Santos, de 38 anos, e Tadeu Santos, de 12, irmã e sobrinho do cinegrafista, também foram baleados - mas sobreviveram.

Nem na igreja se está a salvo. Wallace Evangelista Meira, de 34 anos, foi atingido no dia 14 de março quando orava em uma igreja evangélica no bairro de Trindade, em São Gonçalo. Outros lugares que imaginamos estar a salvo, também mostram o contrário: 4 pessoas foram baleadas quando estavam dentro de algum meio de transporte, 1 dentro do hospital, 1 no shopping e 1 dentro de uma estação de trem.

O caminho da escola também pode ser perigoso: 8 vítimas de balas perdidas foram atingidas quando estavam dentro/indo/voltando da escola. Stephani Aparecida Silva dos Santos, de 18 anos, foi um dos últimos casos. A estudante voltava da escola quando foi atingida por uma bala perdida na esquina da Rua Cuba com Avenida Prado Junior, na Penha, zona norte do Rio, no dia 21 de novembro, próximo ao fim do período letivo.

Houve ainda 14 casos onde os tiros não deixaram vítimas, mas acertaram residências (6), veículos (2), unidades de saúde (2), escola (1), shopping (1) e um edifício público (1). No dia 6 de setembro, por exemplo, 3 ônibus foram atingidos durante tiroteio no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no Leste Metropolitano.

 

Nem animais escapam

Até animais de estimação foram vítimas em 2019. Dos 9 animais baleados, 1 deles foi vítima de bala perdida. A vítima, um cachorro já idoso, foi atingido em uma das patas no dia 19 de setembro, durante operação policial no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, zona central do Rio.

Em 2018 também houve casos de animais baleados, foram 4 atingidos por bala perdida, 1 morreu. Entre as vítimas estava um jabuti de 20 anos, que teve que ser sacrificado após ter o casco perfurado por uma bala perdida durante ação policial em Higienópolis, na zona norte do Rio, no dia 19 de junho.

 

Aulas afetadas

Em 2019, houve 7.365 tiroteios disparos de arma de fogo na região metropolitana do Rio, dos quais 2.335 foram no entorno de escolas e creches das redes pública e privada. Houve uma média de 12 tiros no entorno escolar por dia letivo. Em 854 casos houve presença de agentes de segurança. Das 7.386 escolas e creches nos 21 municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, 26% (1.941) foram afetadas por tiroteios no seu entorno.

Para chegar a este número foram considerados apenas tiroteios/disparos em um raio de 300 metros das escolas, em dias letivos e horário escolar (de segunda à sexta-feira de 06 às 22 horas). A Vila Kennedy, bairro da zona oeste do Rio, é a "bicampeã" desta triste estatística: liderou, com 150 registros, o ranking de tiroteios/disparos de arma de fogo no entorno de unidades de ensino. Em seguida vem Cidade de Deus (124), Tijuca (71), Complexo do Alemão (70) e Maré (61). 

Idosos baleados

A região do Grande Rio registrou o número de 40 idosos baleados no ano de 2019, de acordo com levantamento da plataforma Fogo Cruzado. Deste número, 25 foram vítimados por balas perdidas. O número representa um recuo de 3% em relação ao índice de 2018, quando 43 idosos foram baleados naquele ano.

Do número total, 24 não resistiram aos ferimentos. Representando 61% dos casos de idosos baleados no Grande Rio, as balas perdidas não foram a única forma de vitimar idosos: 10 foram vítimas de homicídios ou execuções e outros 8 foram baleados durante assaltos (4 mortos e 4 feridos).

Vítima de execução, o advogado Jorge Pires Vieira, de 67 anos, foi morto com 3 tiros dentro de casa, em 8 de novembro, no bairro Jardim Meriti, em São João de Meriti, Baixada Fluminense. Depois do crime, a esposa de Jorge, a professora aposentada Márcia Menezes passou mal e foi levada às pressas para uma UPA. Márcia teve um AVC e morreu.

A cidade do Rio de Janeiro, assim como em 2018, concentrou o maior número de baleados também em 2019: 13 (5 mortos e 8 feridos). Apesar de aparecer em segundo lugar no ranking do total de baleados (12), São Gonçalo, no Leste Metropolitano, foi a cidade mais letal para idosos em decorrência da violência armada no Grande Rio: foram 9 mortos e outros 3 feridos. Em relação a 2018, houve um aumento de 167% no número de mortos no município, quando 3 idosos foram mortos a tiros.

Na sequência do ranking dos cinco primeiros municípios com mais baleados, ficaram Niterói, com 5 baleados (2 mortos e 3 feridos); Belford Roxo, com 4 baleados (2 mortos e 2 feridos); e Maricá, com 2 mortos.