Negociação de carros vira caso de polícia em São Gonçalo

Por Vítor d'Avila

Veículos vendidos por menos da metade do valor de mercado possuem indícios de clonagem

Uma negociação de venda de automóveis terminou na delegacia, na manhã desta quinta-feira (30), em São Gonçalo. Os dois carros envolvidos têm fortes indícios de clonagem e estavam sendo comercializados por menos da metade do valor de mercado.

No mês de dezembro, um idoso, que é marinheiro aposentado e trabalha como motorista de aplicativos, comprou um Fiat Uno, avaliado em cerca de R$ 22 mil segundo a tabela Fipe. No entanto, o valor negociado foi quase três vezes menor: o vendedor pediu apenas R$ 8 mil pelo automóvel.

De acordo com o comprador, ele chegou ao anúncio pelo Facebook, pois sua esposa trabalha com divulgação de cursos através das redes sociais. Ele, que é morador de São Gonçalo, entrou em contato com o vendedor, que mora no bairro da Piedade, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

O idoso afirmou não ter desconfiado do baixo valor porque o carro está emplacado em Uberlândia/MG, e ele precisaria arcar com os custos de transferência da documentação para São Gonçalo. O serviço seria feito por um despachante, e foi orçado em cerca de R$ 3,5 mil.

O carro foi entregue ao motorista nas proximidades da Rodoviária Novo Rio, na capital, em meados de dezembro de 2019. No entanto, ao realizar os procedimentos de transferência do documento, o comprador estranhou que o recibo que ele possuía era datado de março de 2019, enquanto o despachante afirmou que o mais recente era de maio do mesmo ano.

Desconfiado, o idoso contratou um serviço de perícia privada, que constatou que o veículo possui fortes indícios de clonagem. O motorista, então, arquitetou uma “armadilha” para o vendedor. Ele acreditava que se reclamasse diretamente e mencionasse sobre o assunto, o homem iria desaparecer.

"Eu não desconfiei do valor porque o vendedor disse que tinha que fazer a transferência do recibo. Aí hoje de manhã eu marquei o encontro com ele fingindo querer comprar outro carro e avisei à polícia", disse o aposentado.

O idoso fingiu estar interessado em comprar outro carro, e afirmou ter “passado adiante” o Uno. Foi quando o vendedor ofereceu um Volkswagen Polo, que é avaliado em cerca de R$ 25 mil, por apenas R$ 10 mil.

Eles marcaram um encontro, na manhã desta quinta-feira, no São Gonçalo Shopping. O aposentado acionou a Polícia Militar, que o acompanhou no encontro. Tanto vendedor quanto comprador, além dos carros, foram conduzidos à delegacia que fica no bairro de Neves, na mesma cidade. Os automóveis ficaram apreendidos.

Na distrital, o vendedor negou as acusações de que estaria comercializando carros clonados. Sobre o Fiat Uno, ele afirmou ter comprado após ver um anúncio em um grupo de WhatsApp, com um homem, nas proximidades do bairro Arsenal, também em São Gonçalo, por R$ 5 mil. No entanto, a pessoa teria de atender as ligações e o bloqueou em todas as redes sociais após a negociação.

“O que vai acontecer comigo então se o carro for clonado?”, questionou o vendedor a um inspetor da delegacia. “Preso!”, respondeu o agente.

O caso foi registrado e está sendo investigado pela 73ª DP (Neves) como receptação de veículo roubado. Caso seja comprovada a responsabilidade tanto do comprador, como do vendedor, a pena prevista é de um a quatro anos de prisão e multa.