Delegado afirma que família de João Pedro foi avisada de morte no mesmo dia em que jovem foi baleado

Por Vítor d'Avila

Versão contraria afirmação da família, que afirma ter ficado até a manhã do dia seguinte sem notícias sobre o rapaz

O delegado Allan Duarte, titular da Delegacia de Homicídios (DH) de Niterói, afirma que a família do jovem João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, foi avisada sobre a morte do rapaz e que seu corpo estava no IML de São Gonçalo, no mesmo dia em que ele foi baleado, durante operação no Complexo do Salgueiro, em 18 de maio.

A informação vai de encontro à alegação da família, que afirma ter ficado por cerca de 17 horas sem notícias sobre João, até encontrá-lo, somente na manhã do dia 19 de maio, no próprio IML. Duarte afirma que dois policiais do setor de permanência da especializada prestaram depoimento e sustentaram que o aviso aconteceu ainda no dia 18, uma segunda-feira.

“Foi falado para eles no mesmo dia”, afirma o delegado Allan Duarte. Ainda de acordo com o titular, o registro de ocorrência da operação também foi feito naquele dia. Uma nota divulgada pela Secretaria de Estado de Vitimados sustenta a versão do delegado, e também afirma que um familiar foi notificado sobre a morte do menino ainda no dia 18.

“A Secretaria de Estado de Vitimados (Sevit) informa que a equipe de Assistência Social entrou em contato, na noite dessa segunda-feira (18/05, às 21h49), com um tio de João Pedro Matos, para informar que o corpo estava no Instituto Médico Legal (IML)”, afirma a nota, divulgada no dia seguinte ao acontecimento, 19 de maio.

Depoimento de amiga

Outro ponto que causou controvérsia é o depoimento prestado por uma amiga de João Pedro, de 15 anos, que testemunhou o tiroteio que vitimou o jovem. Em declaração à DH ela alegou ter visto criminosos armados invadindo a casa durante a operação, mas a família, representada pela Defensoria Pública (DPRJ), contesta essa versão.

No sábado (6), durante uma entrevista, Neilton Matos, pai de João, afirma que a jovem foi coagida a narrar o fato desta forma. Já a DPRJ, durante coletiva de imprensa, disse que a jovem, em depoimento prestado na última semana ao Ministério Público Estadual (MPRJ), alegou que jamais deu tal declaração. O órgão defende que o depoimento à DH deve ser invalidado, pois a jovem não estava acompanhada de seus pais, mas sim de uma tia de João Pedro.

De acordo com Allan Duarte, a própria jovem, voluntariamente, avisou aos policiais de que houve invasão de homens armados, que estariam em fuga durante a operação. Como essa declaração, para ser formalizada, deveria ser dada na sede da DH, o delegado nomeou a tia de João como representante legal da jovem para aquela ocasião, diante da ausência dos pais da menina naquele momento.

Outro ponto contestado pela DPRJ é a condução até a distrital num veículo blindado (caveirão). Duarte alega que a Polícia Civil tem a obrigação de garantir a segurança da testemunha e que, como o Salgueiro é considerada uma área de alto risco, a única forma de transportar a jovem em segurança seria num veículo daquele tipo. De acordo com o delegado, todos os procedimentos foram protocolares.

Além disso, uma segunda testemunha disse, em depoimento, ter visto homens armados andando próximo à casa. No entanto, essa pessoa afirmou que o ângulo na qual estava não permitiu que pudesse ver se os suspeitos tentaram fugir em direção à cara onde estava João Pedro.

Granada

Outro ponto que gerou questionamentos da Defensoria foi uma granada, encontrada próximo ao local onde o rapaz foi baleado. Os defensores contestam o fato de ela ter ficado sob custódia de um dos policiais da Core que participaram da ação, mas o delegado afirma que todo o procedimento foi padrão.

O agente que ficou responsável pela apreensão do artefato tem especialização para o manuseio de objetos explosivos. Ele apreendeu a granada e apresentou à DH, onde foi realizada a perícia no material. Em seguida, o mesmo agente transportou o explosivo ao Esquadrão Antibombas, da Core.

Segundo Duarte, ao chegar no esquadrão, a granada precisou ser detonada, pois não poderia ser armazenada. O delegado ressalta que todo o procedimento seguiu normas específicas. “Era um dever dele”, afirmou Duarte, ao ser questionado sobre os trâmites de transportes terem sido feitos pelo policial da Core.

Reconstituição

De acordo com o delegado, a reconstituição será importante para elucidar diversos fatos, como a dinâmica do acontecimento. Mas a reprodução simulada, prevista para esta terça-feira foi adiada, seguindo a determinação do Supremo Tribunal Federal, que suspende operações em comunidades até o fim da pandemia. A diligência, imprescindível para a conclusão do inquérito, será realizada em nova data a ser definida. As investigações seguem em andamento.

Allan Duarte informou que apenas policiais que estavam no helicóptero da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), participaram da ação e foram ouvidos. A reprodução iria ajudar a especializada a entender a cronologia dos fatos desde quando eles estavam no ar, até a possível perseguição, que aconteceu em terra.

A Defensoria Pública, que representa a família de João Pedro foi procurada mas, até o momento, não havia respondido.

(Colaborou Marcelo Feitosa)

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