Alerta para o câncer de ovário

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Por doutores Jussara Mote de Carvalho Novaes, Ana Carolina Baptista Rodrigues e Marina Sophia Leite Rodrigues, a convite do professor Aderbal Sabrá e professora Selma Sabrá, especial para O FLUMINENSE

O câncer de ovário representa a sétima neoplasia mais comumente encontrada em mulheres no mundo todo, com 46% de sobrevida em 5 anos.

A sobrevida relativa em 5 anos é de 29% para apresentações em estágio tardio, em contraste com 92% para aquelas em estágio inicial. Cerca de 75% das pacientes são diagnosticadas na fase tardia, em parte devido à natureza assintomática da doença.

Anualmente em todo o mundo, o número de novos casos é estimado em cerca de 230 mil e o número de mortes em cerca de 150 mil.

As maiores taxas de incidência são encontradas na Europa e América do Norte e as mais baixas na China e África. No entanto, tais dados podem ter sido afetados por falhas de registro, o que contribui para o sub-registro do câncer de ovário em alguns países.

O Reino Unido e a Rússia registram as taxas mais altas.

A estimativa para o triênio 2020-2022 no Brasil, é de cerca de 6.650 novos casos, o que corresponde a um risco estimado de 6,18/100 mil mulheres. O câncer de ovário ocupa a sétima posição mais frequente nas Regiões Nordeste e Norte, nas regiões Sudeste Centro-Oeste, ocupa a oitava posição, e na Região Sul a nona posição, sem considerar o tumor de pele não melanoma. As estimativas das taxas brutas de incidência de câncer de ovário por regiões brasileiras em 2020.

O câncer de ovário é a neoplasia ginecológica mais letal, sendo responsável por mais de 152 mil mortes por ano em todo o mundo.

A incidência do câncer epitelial ovariano é de cerca de 3/100 mil mulheres na faixa etária menor que 30 anos, 17,6/100 mil mulheres na faixa etária de 40 a 49 anos, e 58,6/100 mil mulheres na faixa etária de 70 a 79 anos.

Apenas 25% das mulheres são diagnosticadas nos estágios iniciais I e II, enquanto 58% são diagnosticadas em estágio mais avançado, no estágio III e 17% no estágio IV, devido em parte à falta de um método de rastreio eficaz, além de sintomas inespecíficos.

A despeito de múltiplos mecanismos carcinogênicos terem sido propostos na patogênese do câncer de ovário, como ovulação prolongada, estímulo hormonal e inflamação crônica, a etiologia permanece não completamente compreendida, particularmente devido à natureza heterogênea da doença.

Um melhor entendimento da complexidade etiológica é necessário, para que novas estratégias preventivas possam ser estabelecidas.

Os fatores de risco são diversos e podem variar de acordo com subtipo histológico do câncer. Os mais comuns são: menarca (primeira menstruação) precoce e menopausa tardia, história familiar de câncer, tabagismo, etilismo, condições ginecológicas benignas, terapia de reposição hormonal, obesidade e uso de talco íntimo.

Dentre os fatores protetores estão o uso de contraceptivos orais, laqueadura tubária, gravidez e amamentação.

Embora a sintomatologia seja inespecífica, alguns estudos mostram a acurácia dos sintomas individuais e a história médica no diagnóstico da neoplasia ovariana, como a presença de massa abdominal, distensão ou aumento da circunferência do abdômen, dor pélvica ou abdominal e a história familiar, servem de sinal de alerta.

Quanto ao prognóstico do câncer de ovário têm sido propostos fatores relacionados à falta de atividade física, definida pelas Diretrizes de Atividade Física para Americanos (PAGA), como comportamento potencialmente modificável envolvido na melhora do prognóstico dessas pacientes.

A inatividade física permanece como preditor independente de mortalidade, mesmo em pacientes com doença avançada, embora essa associação necessite de confirmação por mais estudos.

A idade média das pacientes com câncer de ovário é cerca de 60 anos. Todavia, em alguns países como a Jordânia, a maioria dos casos ocorre em mulheres abaixo de 50 anos. As mulheres na pós-menopausa apresentam risco em particular, com aumento de 11% a cada ano em mulheres com 50 anos ou mais e 2% em mulheres com menos de 50 anos.

Os ovários são um par de órgãos sólidos, achatados e ovóides, que medem cerca de 2 a 4 centímetros de diâmetro.

Múltiplos mecanismos carcinogênicos têm sido propostos para a patogênese do câncer de ovário, incluindo ovulação persistente, que possivelmente danificaria o tecido ovariano, além de estimulação hormonal e inflamação crônica.

Os fatores de risco para o câncer de ovário diferem de acordo com o tipo histológico e estudos recentes sugerem que possam estar associados à agressividade da doença.

Entre os fatores de risco propostos encontram-se a obesidade, nuliparidade, história familiar de câncer de ovário e mama, menarca precoce (primeira menstruação), menopausa tardia, abortamento, endometriose, uso de talco genital, índice de massa corporal (IMC), tabagismo e diabetes.

Enquanto contraceptivos orais, multiparidade (múltiplas gestações), ligação tubária, histerectomia (retirada do útero), ooforectomia unilateral (retirada de um dos ovários) e dispositivo intrauterino, parecem ser fatores protetores.

Amamentação também parece ser fator de proteção.

Terapia de reposição hormonal na menopausa tem sido relatada como fator de risco para câncer de ovário de cerca de 50% por 5 anos de uso.

Endometriose é causa frequente de dismenorreia e é fator de risco para alguns subtipos de câncer de ovário.

A atividade física pode reduzir em torno de 30% o risco de câncer de ovário, enquanto a obesidade e o sobrepeso aumentam em 3% a incidência de câncer de ovário.

A sintomatologia do câncer de ovário é inespecífica e se sobrepõe a sintomas de distúrbios mais frequentes como dispepsia, síndrome do intestino irritável, menstruação e menopausa, incluem distensão e aumento do volume abdominal, sensação de plenitude pós-prandial, náuseas, alteração do padrão intestinal, queixas urinárias, lombalgia, fadiga e perda de peso. Cerca de 95% das pacientes apresentam sintomas antes do diagnóstico.

Os sintomas mais frequentemente identificados sáo sangramento pós-menopausa, dor abdominal e pélvica, enquanto a mudança do ritmo intestinal, plenitude pós-prandial, hiporexia e sintomas urinários podem estar presentes menos frequentemente.

A presença de massa abdominal, distensão abdominal, aumento da circunferência abdominal, dor abdominal ou pélvica, hiporexia e história familiar positiva para câncer de ovário, além de diarreia, dor abdominal isolada, perda de peso, mudança de hábitos intestinais, constipação, polaciúria ou urgência urinária, dispepsia e sangramento vaginal anormal são sintomas moderadamente úteis na suspeição do diagnóstico. Dismenorreia é um sintoma relevante no câncer de ovário.

O rastreamento com a glicoproteína CA-125 é o biomarcador atualmente mais utilizado em pacientes com câncer de ovário. Alguns estudos apontam que o CA-125 tem maior utilidade como um exame de screening, porém ainda não há um consenso, já que outras condições benignas como a endometriose, doença inflamatória pélvica e a gravidez também possam aumentar esse marcador.

Diagnóstico - No exame físico, o achado de aumento do volume abdominal, ascite e/ou massas pélvicas é altamente suspeito na neoplasia ovariana.

É importante que pacientes jovens com endometriose sejam acompanhadas ambulatorialmente, pois estas podem apresentar risco aumentado de câncer de ovário.

O diagnóstico abaixo dos 50 anos de idade é raro e fala a favor de uma predisposição genética.

Os exames de imagem, como a ultrassonografia transvaginal associada ao dopplerfluxometria das lojas ovarianas, podem ser muito úteis quando as lesões ovarianas ainda são pequenas e limitadas, além da importância entre a natureza de benignidade ou malignidade das lesões. A ultrassonografia transvaginal por ser exame de baixo custo e de fácil acesso, continua como método propedêutico útil no rastreio e diagnóstico precoce.

Para que o melhor planejamento terapêutico seja realizado, é necessário confirmar a existência de malignidade, sua localização e a avaliação histopatológica. Desse modo, as pacientes devem ter uma avaliação histológica ou citológica para confirmar o diagnóstico de tumor primário invasivo de ovário ou de tuba uterina ou de câncer peritoneal primário e excluir outras causas primárias antes de proceder ao tratamento.

O tratamento do câncer de ovário pode ser curativo ou paliativo, dependendo do estágio e diferenciação da neoplasia.

Mesmo com boa resposta clínica ao tratamento, as taxas de recidiva são elevadas na neoplasia ovariana.

O diagnóstico precoce ainda é um grande desafio. O conhecimento de fatores sociodemográficos pode influenciar na prevenção, desenvolvimento da doença e diagnóstico precoce, bem como no tratamento com melhor prognóstico para essas pacientes.n

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