Por Denise Emanuele Paz Carvalho
Nos últimos anos, tem se intensificado no Brasil e em outras partes do mundo a preocupação com a crescente violência envolvendo crianças e adolescentes, especialmente em situações que envolvem o uso de armas de fogo e a internet como ferramenta para cometer crimes. Casos alarmantes, como o recente ocorrido em Mato Grosso e Rio de Janeiro, colocam em xeque o que poderia parecer impensável: a utilização de plataformas digitais para o planejamento de homicídios e atos violentos.
A Trágica História de Mato Grosso e Rio de Janeiro: Planejamento de Assassinato de Pais e Irmão
O caso ganhou grande repercussão em junho de 2025, quando a Polícia Civil prendeu uma adolescente de 15 anos, em Água Boa, Mato Grosso, sob a suspeita de envolvimento no planejamento de um assassinato, não apenas de seus próprios pais, mas também do irmão e da família do namorado virtual. O relacionamento dos dois adolescentes, que começou em um jogo online, gerou um plano macabro para concretizar um "amor proibido" à custa de vidas humanas.
A investigação revelou que a jovem teria incentivado o namorado, um adolescente de 14 anos residente em Itaperuna, Rio de Janeiro, a matar seus pais e irmão. No contexto dos diálogos analisados pela polícia, o objetivo do casal era eliminar qualquer pessoa que pudesse impedir a união deles, incluindo as famílias de ambos. O delegado responsável pela investigação, Matheus Soares Augusto, afirmou que, assim que se encontrassem em Mato Grosso, os dois planejavam assassinar os pais da adolescente. “O objetivo final deles era ficar juntos e matar todos aqueles que os impedissem de viver esse amor proibido entre eles”, disse o delegado.
Motivação e Detalhes do Crime
A motivação por trás do crime, segundo a Polícia Civil, envolve uma mistura de dois fatores: o relacionamento virtual proibido e um interesse financeiro do adolescente de 14 anos. De acordo com as investigações, o garoto planejava usar R$ 33 mil do FGTS de seu pai, que seria acessado após o assassinato da família, para viajar até Mato Grosso e ficar com sua namorada.
No dia 21 de junho, o adolescente de 14 anos, que possuía uma arma de fogo registrada no nome de seu pai, um colecionador de armas, matou seus pais e o irmão mais novo, de apenas 3 anos. A execução do crime ocorreu enquanto os pais dormiam, e o jovem atirou nas vítimas, sem hesitação. Quando a polícia chegou à residência, os corpos foram encontrados com sinais evidentes de ocultação, após um forte odor ter sido detectado pela vizinhança.
Após confessar o homicídio, o adolescente foi apreendido e conduzido à delegacia de Itaperuna. Ele responderá por ato infracional análogo a triplo homicídio e ocultação de cadáver, sendo o caso encaminhado ao Ministério Público para as devidas providências.
A Preocupante Conjuntura de Violência entre Jovens e o Uso Indevido de Armas de Fogo
Este não é um caso isolado. Em um cenário onde o fácil acesso a armas de fogo se entrelaça com a crescente dependência de plataformas digitais, muitos jovens se veem expostos a situações de violência que antes eram impensáveis. A pandemia acelerou o uso de jogos online como forma de entretenimento, mas também tem sido um terreno fértil para o cultivo de relações virtuais perigosas. Em muitos casos, como o de Mato Grosso, essas conexões digitais se transformam em laços perigosos e violentos, onde jovens são incitados a cometer crimes.
Outro fator preocupante é o crescente número de casos envolvendo o uso de armas de fogo em incidentes de violência entre adolescentes. Embora a posse de armas no Brasil seja regulamentada, a realidade de que muitas delas estão nas mãos de menores é alarmante. No caso da família assassinada no Rio de Janeiro, a arma utilizada estava registrada no nome do pai, mas foi acessada pelo filho, ilustrando o risco que a exposição de crianças a ambientes armados pode representar.
O Papel da Internet na Radicalização Juvenil
O uso de plataformas digitais para planejar e executar atos violentos é uma realidade cada vez mais presente. Em muitos casos, como o observado entre os dois adolescentes envolvidos no assassinato da família no Rio, a internet serve como um meio de radicalização. O anonimato proporcionado pelos jogos online, redes sociais e fóruns permite que ideias perigosas e incitação à violência se propaguem sem a devida supervisão, o que pode ter consequências trágicas. A vulnerabilidade dos adolescentes a influências externas, muitas vezes ligadas a grupos radicais ou comportamentos violentos, é uma preocupação crescente para especialistas em segurança pública e psicologia juvenil.
Desafios no Enfrentamento do Problema
Este caso revela a urgência de políticas públicas mais eficazes que integrem a educação digital, a regulação do acesso a armas e o apoio psicológico a jovens vulneráveis. É necessário um esforço coletivo entre pais, escolas e autoridades para monitorar e proteger os adolescentes das influências perigosas presentes tanto no ambiente virtual quanto no físico.
Em tempos de desafios tecnológicos e sociais, cabe à sociedade como um todo refletir sobre a crescente violência juvenil e buscar soluções que, além de combater a criminalidade, promovam a prevenção e o cuidado com os jovens. Este caso trágico é apenas o mais recente de uma série de incidentes que alertam para os riscos iminentes de uma sociedade cada vez mais conectada, mas também mais suscetível à violência.
Por Gazeta Rio/Ricardo Bernardes