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Adeus a um galã eterno: morre Francisco Cuoco, ícone da TV brasileira, aos 91 anos

Por Denise Emanuele Paz Carvalho

Francisco Cuoco, um dos maiores nomes da dramaturgia brasileira, faleceu nesta quinta-feira (19), aos 91 anos, deixando um legado de mais de seis décadas de arte, emoção e personagens inesquecíveis. O ator estava internado havia cerca de 20 dias no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e permanecia sedado desde então. A família confirmou sua morte nesta manhã. A causa oficial não foi divulgada, mas ele enfrentava complicações relacionadas à idade e uma infecção decorrente de um ferimento, segundo sua irmã Grácia Cuoco, com quem vivia.

Nos últimos meses, Cuoco enfrentava limitações físicas, ansiedade e um quadro de obesidade que o obrigava a depender de cuidadores para atividades básicas. “Ele estava frágil, mas muito lúcido até recentemente”, contou Grácia em comunicado emocionado.

Um artista completo
Nascido em 29 de novembro de 1933 no tradicional bairro do Brás, em São Paulo, Francisco Cuoco trocou o curso de Direito pela paixão pelos palcos. Estudou na Escola de Arte Dramática da USP e logo brilhou nos palcos do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e do Teatro dos Sete, ao lado de lendas como Fernanda Montenegro, Sérgio Britto e Ítalo Rossi.

Sua estreia na televisão se deu nos teleteatros ao vivo da TV Tupi, nos anos 1950 — um formato que exigia sangue frio e precisão dos atores. Ainda nos anos 60, conquistou espaço nas novelas da TV Excelsior e da Record, mas foi na TV Globo que Cuoco cravou seu nome na história.

Ele estreou na emissora em 1970 e emplacou uma sequência impressionante de protagonistas: Cristiano Vilhena, em Selva de Pedra (1972); Hugo Leonardo, em O Semideus (1973); Carlão, em Pecado Capital (1975); e, talvez seu papel mais célebre, Herculano Quintanilha, o vidente charmoso e ambíguo de O Astro (1977). A novela, de Janete Clair, foi um fenômeno popular e marcou uma virada narrativa nas tramas da Globo.

O galã dos galãs
Francisco Cuoco redefiniu o arquétipo do galã brasileiro: sofisticado, sedutor, mas sempre com um toque de humanidade. Com Regina Duarte, formou um dos casais mais adorados da TV, em tramas como O Astro e O Outro (1987).

"Ele foi meu par romântico favorito. Sempre generoso em cena e fora dela. Um cavalheiro", afirmou Regina Duarte em nota. Já Tony Ramos destacou a versatilidade de Cuoco: "Ele fazia o drama como poucos, mas também tinha um tempo cômico perfeito. Um mestre silencioso."

Além da TV
Embora seu rosto tenha se tornado um símbolo das novelas, Cuoco teve uma carreira rica também no teatro e no cinema. Atuou em produções como Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977) e Bar Esperança (1983). Nos palcos, seguiu ativo por décadas. Também se aventurou na música, gravando dois álbuns — um deles voltado à espiritualidade, com orações e mensagens reflexivas.

Nos anos 2000 e 2010, passou a interpretar figuras paternas ou especiais em tramas como Passione (2010), Sol Nascente (2016), Segundo Sol (2018) e Salve-se Quem Puder (2020). Sua última aparição na televisão foi em Juntos a Magia Acontece, especial de fim de ano exibido em 2020.

Em 2025, o Globoplay o homenageou com a série documental Tributo, que revisitou sua obra, com depoimentos de amigos e colegas de cena. “Francisco Cuoco foi um pilar da cultura brasileira. Seu legado viverá enquanto houver memória da nossa televisão”, disse o diretor e autor Silvio de Abreu, um de seus grandes parceiros criativos.

Curiosidades e bastidores
Poucos sabem, mas Cuoco foi um dos primeiros atores brasileiros a ser chamado para estrelar campanhas publicitárias de produtos de luxo — um reflexo de seu apelo entre o público feminino e da imagem de sofisticação que cultivava. Era também um ávido leitor de filosofia e espiritualidade, e costumava meditar antes das gravações. Seu camarim, contam colegas, era sempre silencioso, com cheiro de lavanda e uma vela acesa.

A despedida
A família ainda não divulgou informações sobre o velório e sepultamento, mas amigos próximos e fãs já se manifestam nas redes sociais com homenagens e recordações de seus personagens. Em um Brasil transformado pelas novelas, Francisco Cuoco foi um dos autores dessa metamorfose emocional coletiva. Um rosto, uma voz e um talento que atravessaram gerações.

“Ele era daqueles atores que fazem você esquecer que está vendo uma atuação. Você só sente.” — declarou a atriz Lilia Cabral, emocionada.

Francisco Cuoco nos deixa, mas suas obras permanecem. E, como todo verdadeiro artista, ele seguirá vivo em cada lembrança, em cada reprise, em cada lágrima e sorriso que sua arte despertou.

Por Ricardo Bernardes

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