Falácia Geracional

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Há um certo fetiche em demarcar as gerações, diferenciando-as de suas antecessoras. Como se, a cada dez anos, nascesse um grupo totalmente diferente do anterior. Como se, naquele grupo, os interesses, gostos, hábitos fossem sempre comuns. A falácia geracional é um problema sociológico nascido no século XX e usado até os dias de hoje como forma primária de análise, sobretudo, da juventude. Em 1952 Karl Mannheim escreveu o seminal texto “O Problema das Gerações”, que hoje, mais do que nunca, faz sentido. 

O também sociólogo, o francês Pierre Bourdieu, já afirmava, há mais de 30 anos, que a juventude é apenas uma palavra e que somos sempre o jovem e o velho de alguém. A geração, portanto, é sempre relacional. A artificialidade com que a sociedade busca dividir as gerações, usando até uma taxonomia biológica, muitas vezes, induz a erros interpretativos. Por mais que acreditemos que os tempos são outros, que há uma fluidez maior nas relações, um desencaixe nas instituições, não sou adepto da ideia de tempo líquidos. Acredito que há, ainda, estruturas feitas para durarem, papéis sociais reproduzidos há séculos que não se modificaram. 

Quando leio reportagens sobre geração X, Y ou millennials, me pergunto se tudo não passa de um arbitrário cultural imposto pela sociedade de consumo. Se esse furor de diferenciação não serve, simplesmente, ao estímulo econômico em diferentes esferas, a partir da ideia de obsolescência programada. A tecnologia faz com que tudo que não é novo perca seu valor simbólico, ainda que funcione, ainda que possa durar. Quantas pessoas têm aparelhos eletrônicos que funcionam guardados nas gavetas, simplesmente porque foram substituídos por novos? Através do consumo, é possível “ser mais jovem, mais Y, mais X”. 

Encontramos afirmações vazias em textos e vídeos, que buscam definir o que não pode ser definido. Eufemismos mudam leituras de determinados comportamentos; a indisciplina virou criatividade, a insubordinação virou empreendedorismo. Trata-se da juventude como se as questões socioeconômicas, raciais, de gênero, religiosas não importassem mais e como se todos agissem e pensassem da mesma forma. A única coisa que sabemos é que o imprevisível será sempre um fator humano e social. Tentar colocar as pessoas em caixinhas etiquetadas, às vezes, nos atrapalha mais do que nos ajuda, no difícil exercício de entender o outro. 

Para aprofundamentos desses debates, convido os leitores e leitoras para o lançamento do livro “Culturas, consumos e representações midiáticas da juventude”, editora Appris, organizado pela Profa. Dra. Cláudia Pereira e com um artigo deste autor. Será segunda-feira, 21/08/17, na Livraria Timbre, Shopping da Gávea, a partir das 19h. 

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