Maio de 2015, o médico Jaime Gold, 57 anos, é esfaqueado enquanto passeia de bicicleta na Zona Sul do Rio, abordado por dois adolescentes é esfaqueado, ainda que não tenha reagido ao assalto, morreu durante seu socorro hospitalar.
Abril de 2016, o aposentado e morador de Niterói, João Bosco Neves, 83 anos, é sequestrado, morto e jogado numa mata próximo ao Parque da Cidade. Segundo apurado, sua morte se deu após infrutíferas tentativas de digitar sua senha num cartão magnético ainda bloqueado.
Sábado, 25 de junho, Linha Vermelha, foi morta a tiro a médica Gisele Palhares Gouvêa, 34 anos, mais uma tentativa de assalto. No início da semana passada, seu marido, o cirurgião plástico Renato Palhares, anunciou que pretende deixar o país, “dominado pelos criminosos”.
Os crimes relatados impressionam por seu desprezo pela vida, qualquer reação por quem fala no polo passivo sempre é mais que justificável, no entanto, ainda que solidário com a dor de quem perde um ente amado, a manifestação do médico viúvo fez surgir uma pergunta, que não cessou por toda a semana: e, quanto aqueles que não podem mudar de país, o que fazer?
Embora publicamente reconheçamos em toda morte criminosa uma tragédia, por outro lado, carregamos certa dose de hipocrisia com a seletividade de nossas indignações. Cotejados os dados da violência divulgados em 2015, referentes ao ano anterior, estes surpreendem pela sua expressão.
Em 2014 ocorreram 160 mortes violentas intencionais por dia no país, totalizando 58.559 vítimas; vivemos com o índice epidêmico de 28,8 mortos para cada grupo de 100 mil habitantes; 28,4% dos crimes violentos, letais intencionais, aconteceram nas capitais; os roubos seguidos de morte atingiram 2.061 pessoas. (fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública).
Esse enorme drama, embora noticiado diariamente nas diversas mídias, no entanto, não guarda paridade de tratamento quanto a todas as suas vítimas, parece escolher quem merece maior atenção e quem deve sofrê-lo no anonimato.
O que chama a atenção e agora assusta a todos é que a violência saiu dos guetos e circula pelo asfalto, não respeita lugares ou posições sociais, como esperado, fez a todos reféns.
A questão é que há tempos não mudamos nossas condutas face a realidade que nos cercava e agora enfrentamos as opções que restaram: quem pode e quer, sai; para nós que ficamos, só há um caminho, mudar o país.
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