Alerta para a escassez de água no Estado

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Falta de chuva, prevista para até o fim de setembro, diminuiu consideravelmente o nível da água no Rio Guapiaçu

Foto: Lucas Benevides

O uso consciente de água vem se tornando cada vez mais indispensável. Quem faz o alerta são as concessionárias Cedae e Águas de Niterói, diante da forte estiagem que atinge a bacia dos rios Guapiaçu e Macau, em Cachoeiras de Macacu, que abastecem o sistema Imunana-Laranjal. Especialistas alertam que a região pode enfrentar uma forte crise hídrica a partir de 2020, que já começa a dar seus sinais. Empresas já adotam medidas operacionais para conter a escassez.

As águas captadas dos rios da Região Serrana do Rio não têm reservação. Por isso, dependem exclusivamente do regime de chuva. Os níveis de água das bacias estão visivelmente baixos, com pedras aparentes. No entanto, sem previsão de mudança de tempo para, pelo menos, até o fim deste mês, as concessionárias alertam para a seca.

“Estamos trabalhando para diminuir os impactos da estiagem com ações de informação à população e aumento na disponibilidade de carros-pipa. É fundamental, neste momento, a conscientização das pessoas para o uso racional da água, evitando o desperdício”, atenta a Cedae. 

A Águas de Niterói também reforçou o pedido. “É muito preocupante depender das chuvas para assegurar o abastecimento de aproximadamente 2 milhões de pessoas. Águas de Niterói tem implantado ações operacionais para minimizar o impacto para os clientes. A concessionária pede que a população use água de forma consciente até que a situação seja normalizada”, ressalta a Águas.  

O oceanógrafo e coordenador da Rede Universidade Federal Fluminense de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Julio Wasserman, aponta que a escassez do recurso na região leste da Baía de Guanabara já é um problema antigo.

Um estudo realizado por ele, em 2008, já apontava que o sistema Imunana-Laranjal já tinha atingido seu limite de vazão e que, em situações extremas de seca, não haveria abastecimento para algumas áreas do fim da rede.

“Neste sentido, é altamente aconselhável que, desde já, seja pensada a construção de barragens na região”, dizia o estudo de 2008.

Essa é exatamente uma das soluções apontadas por ele, e por outros especialistas, para conter a crise hídrica. A construção de uma barragem no Rio Guapiaçu é um projeto anunciado pelo Governo do Estado em 2015, mas que continua sem previsão de execução. 

“Veja que o tempo para sua construção (barragem) está estimada em 4 anos e, se começarmos agora, é provável que entraremos no estado de escassez hídrica antes de terminar o empreendimento”, alerta Julio.

De acordo com o especialista, a crise hídrica enfrentada entre 2014 e 2015, e a escassez de água observada agora, não são resultado de constantes mudanças climáticas. Mas, sim, do aumento da demanda pelo recurso. E, por isso, já deveria ter soluções em prática. 

“Em vários estudos que realizei, não há absolutamente nenhuma indicação de que estes anos sejam realmente muito mais secos do que outros anos. O que existe é uma falta total de planejamento diante de uma população que cresce e que demanda cada vez mais água”, aponta o oceanógrafo.

A licença ambiental para a construção da barragem está parada desde então. Isso porque, para a realização da obra, cerca de três mil pessoas precisariam ser desapropriadas de suas terras. Ambientalistas e produtores locais são contrários ao projeto, alegando que a área é altamente produtiva e responsável pelo abastecimento de 40% do aipim distribuído no Estado. 

“Entendo o ponto de vista dos agricultores, mas a situação é muito grave e, se tivesse que escolher, eu escolheria a água à mandioca. A situação é realmente crítica e existe necessidade de se construir reservatório nesta região. Também é necessário que existam mais estudos de planejamento hídrico”, alerta o especialista. 

Custo - De acordo com a Águas de Niterói, a barragem resolve o problema da escassez por, no mínimo, os próximos 15 anos, atendendo à demanda do aumento do uso de água pelo crescimento da população, na região entre Niterói, Maricá, São Gonçalo, Itaboraí e Ilha de Paquetá.  

A barragem armazenaria a água para uso em tempos de seca, evitando, ainda, alagamentos na região de Cachoeiras de Macacu. Todo o custo seria arcado pela Petrobras, devido ao licenciamento para a instalação do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj).  

“Não há outra solução de custo suportável. Estamos falando de uma solução que resolverá o abastecimento de água, bem essencial à vida, para mais de 2 milhões de pessoas. O projeto está pronto. É preciso empenho para exigir a construção da mesma a custo zero, já que a obrigação de implantá-la ficou sob responsabilidade da Petrobras”, disse a Águas de Niterói, através de nota.  

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