Blindagem de veículos cresce 46% em Niterói

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Câmeras registram o desespero de passageira com crianças que estavam em Uber que foi assltado na esquina da Barão do Amazonas com Marechal Deodoro

Foto: Reprodução

A escalada da violência, que faz vítimas diariamente, preocupa quem sai pelas ruas de carro. E como ‘todo cuidado é pouco’, conforme diz o dito popular, o cidadão tenta se proteger como pode. Uma das formas, que não é barata, é a blindagem dos automóveis, que cresceu 46% em Niterói no ano passado, em comparação com 2015, conforme apontou o Departamento de Trânsito no Rio de Janeiro (Detran), órgão responsável por regularizar o serviço no estado. Segundo o Detran, no município, em 2016, houve 129 pedidos de blindagem contra 88 em 2015.

Em números gerais, a Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin) informou que a frota de blindados no País, que em 1995 era de 388 veículos, atualmente chega a 160 mil unidades. O Rio de Janeiro (19%) só está atrás de São Paulo (39%). Segundo um site de compras e vendas da internet, a tendência de compra de veículos blindados aumentou. De junho de 2016 a junho de 2017, as vendas aumentaram 21,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.   

Um advogado de 48 anos, morador de Camboinhas, na Região Oceânica de Niterói, blindou o carro após sofrer um sequestro relâmpago em 2013, quando saía de um aniversário em Itacoatiara. Ele contou que o crime mudou a rotina da família e hoje os hábitos são diferentes desde então.  
“Eu fiquei com uma arma apontada contra a minha cabeça por 10 minutos. Parecia uma eternidade. Pensei em deixar o país com medo da violência, mas acabei demovendo essa ideia. A solução foi blindar o carro a pedido da minha esposa, já que também corremos o risco de sofrermos um tiro de bala perdida. Mesmo com tudo isso, evitamos ao máximo andar de madrugada nas ruas”, desabafou o advogado, que gastou pouco mais de R$ 45 mil reais para blindar o veículo, um Corolla 2017.   

Seguros   - Quem não pode arcar com os altos custos de uma blindagem, precisa contar apenas com as seguradoras. No entanto, o aumento da violência também tem impactado no preço do seguro. Em Niterói, no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, o custo subiu cerca de 15%. Essa estatística é quase a mesma média do Estado do Rio de Janeiro, que chega a 16%, com cerca de 84 veículos roubados diariamente, de acordo com informações da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).  

Os dados também apontam que algumas regiões da cidade apresentam esse patamar de crescimento, principalmente o Largo da Batalha, Largo do Barradas, Rio do Ouro e Santa Bárbara. De acordo com a Federação, o cenário de violência e insegurança impacta no preço do seguro, porque as seguradoras levam em consideração tanto fatores de riscos individuais do cliente, como idade, e fatores gerais relacionados à região de circulação do veículo, com índice de roubos e furtos.   

O levantamento identificou, ainda, os principais horários de ocorrências em todo o Rio. Entre às 18h e 24h é registrado o maior número de casos, que correspondem a 47% do total. Em seguida, entre 6h e 18h, os registros chegam a 40%. Já na madrugada, de meia-noite até 6h, as ocorrências representam 13% do total.  O levantamento das seguradoras também identificou que, quando os veículos são roubados, seu principal destino é o desmanche para revenda de peças, clonagem com transferência dos carros para outros estados e países.  

De acordo com o comandante do 12º BPM (Niterói), coronel Márcio Rocha, o roubo de carros e motocicletas se tornou uma tendência criminosa em todo o Estado. Ele afirma que essa é mais uma vertente da criminalidade, assim como o tráfico de drogas e o roubo de cargas. “Estamos falando de crime organizado. Eu penso que o criminoso se articula. O interesse dele é comercial. Vai traficar droga, vai roubar carro, carga. O que há é uma articulação do crime organizado, no sentido de investir em várias vertentes”.
 
Segundo ele, as áreas da 76ª DP (Centro), da 77ª (Icaraí) e da 78ªDP (Fonseca) são as que mais apresentam ocorrências. Alguns casos comprovam essa mancha criminal. No fim do ano passado, quatro homens armados em um Citroen C3 tentaram roubar um Fiat Punto vermelho na Avenida Roberto Silveira, em Icaraí. Um dos bandidos apontou a arma para o motorista, que estava parado no sinal, mas ele conseguiu fugir.

Em outro caso, ainda mais assustador, assaltantes em um sedan prata abordan um motorista de Uber na esquina da Rua Barão do Amazonas com Marechal Deodoro, no Centro. Na abordagem, uma passageira sai do banco traseiro do carro com duas criança, correndo pela rua. Mesmo assim, o coronel afirma que a violência em Niterói está dentro dos limites aceitáveis.  “O roubo de veículos está acontecendo no Estado inteiro, e em Niterói não é diferente. Hoje, os nossos índices estão dentro do limite estabelecido pela Secretaria de Segurança”, declarou o comandante. 

Segundo o Detran, no município, em 2016, houve 129 pedidos de blindagem contra 88 em 2015

Foto: Divulgação

12º BPM já perdeu 23 policiais neste ano

O aumento no número de roubo de veículos é explicado pelo antropólogo e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Paulo Storani, pelo déficit no policiamento. Segundo ele, dados do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) com provam isso. Em visita de 39 promotores à unidades de policiamento do Rio, foi constatado que há deficiência de 14% no efetivo do 12º BPM.  

De acordo com o levantamento, atualmente há 979 policiais militares no batalhão. No ano passado, o quadro era maior, com 23 agentes a mais. Mas, de acordo com a avaliação do conselho, o efetivo ideal seria de 1.145 PMs no 12º BPM, lembrando que o Batalhão de Niterói ainda divide o quadro de policiais com a cidade de Maricá.  “Os criminosos precisam de três fatores para praticar crimes: motivação, oportunidade e meios. Niterói é uma cidade estratégica para o roubo de veículos porque falta policiamento, então atrai criminosos para cometer esse tipo de delito”, explicou Storani.
 
Segundo ele, o déficit no efetivo complicou ainda mais com a criação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Com a crise financeira do Estado, a situação se agravou.  “Durante os últimos seis anos, antes das UPPs, o déficit já existia, e com a criação do programa aumentou mais. Policiais que faziam concursos eram destinados às unidades e reforçavam o policiamento através do RAS(Regime Adicional de Serviço), mas com a crise financeira o Estado passou a não pagar direito e passou a ficar desinteressante para os agentes”, analisou o ex-capitão do Bope.   

Com o atual cenário de crise que afeta o Estado e, consequentemente a Polícia Militar, o especialista não vê expectativa de melhora nos índices de criminalidade. “Com essa incapacidade financeira do Estado, não vejo melhora a curto prazo. A única forma seria uma ação pesada da polícia, mas a população não está preparada para isso”, opinou Storani. 

O coronel Márcio Rocha admitiu a falta de efetivo do 12º BPM, mas alegou que vem trabalhando na prevenção com maior visibilidade da polícia para diminuir os índices criminais.  “Carência de recusos é hoje uma realidade para a PM, isso passa por uma carência de efetivo. O nosso desafio está justamente aí, fazer mais com menos. Como gestor da polícia ostensiva, tenho que alcançar os resultados, e para isso, temos que trabalhar com uma boa dose de criatividade”, ressaltou Rocha. 

Viaturas - A deficiência ainda atinge as viaturas policiais. Em Niterói, há 161 veículos em operação nas ruas, enquanto 44 estão em baixa, necessitando de reparos. Após o fim do contrato de terceirização das manutenções da frota, a PM passou a destinar escassos recursos para cada unidade.  “A manutenção é um desafio para a PM toda. É bem difícil. Estamos em via de finalizar um convênio com a Prefeitura de Niterói para custear a manutenção. Quanto mais viaturas, melhor, porque isso traz visibilidade. É um numero baixo, mas nos dobramos aqui buscando dar maior visibilidade à polícia”, afirmou o comandante.

Colaborou: Vinícius Rodrigues

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