Estrutura inadequada, poucas embarcações e atraso nas saídas são algumas das reclamações dos passageiros que diariamente contam com as barcas que saem da Ilha do Governador para o Centro do Rio. Motivada por essas e outras reclamações, a Comissão de Transportes da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) vistoriou na última sexta-feira (26/02) as estações Cocotá, na Ilha do Governador, e Praça Araribóia, em Niterói, ambas administradas pela empresa CCR Barcas, e comprovou os problemas.
Os deputados também fizeram a travessia entre Cocotá e Praça XV, e entre Rio e Niterói, nas barcas Ipanema e Corcovado, respectivamente. A primeira opera desde a década de 1970 e a segunda foi inaugurada em 2015. Presidente da Comissão, o deputado Marcelo Simão (PMDB) anunciou que vai convidar o novo secretário de Estado de Transportes, Rodrigo Goulart Oliveira, representantes da Agência Reguladora de Transportes Públicos Concedidos (Agetransp) e do Ministério Público Estadual (MP) para cobrar em medidas de melhoria para o serviço. "O que vimos hoje foi um descaso, os passageiros não podem continuar com esse serviço de péssima qualidade, principalmente na linha de Cocotá", afirmou Simão.
Serviço irregular
Com as obras do BRT Transbrasil, que aumentaram os congestionamentos na Avenida Brasil, as barcas que ligam a Ilha do Governador ao Centro do Rio poderiam ser uma alternativa de transporte. No entanto, os passageiros contam que para usar o serviço é preciso estar atento ao relógio. São só 10 saídas por dia da estação Cocotá, com intervalos irregulares, de cerca de uma hora. E o primeiro horário, 7h da manhã, é um problema pra quem precisa chegar cedo em um compromisso. "Eu nunca consigo bater meu ponto no trabalho, às 8h. Seria necessário ter uma barca que saísse às 6h, pelo menos", relatou o advogado Osmar Pimenta, 58 anos, que mora na Ilha e trabalha no Centro. Segundo passageiros, em dias de chuva também são comuns goteiras dentro da embarcação.
Com barcas antigas e um percurso da viagem de quase uma hora, um grupo de amigos utiliza o tempo para colocar a conversa em dia e jogar cartas. Há 30 anos as partidas de sueca são tradição para esse grupo que trabalha no Centro. As cartas são distribuídas próximo às janelas da barca. "Como não tem refrigeração as partidas são realizadas sempre nessa área, tentamos nos refrescar com a brisa do mar, isso quando venta", relatou o corretor de seguros Marcos Mendonça, de 52 anos.
Acessibilidade
Também existem falhas quanto a acessibilidade. Em Cocotá, há um desnível entre a embarcação e o pier de embarque. Muitos idosos e cadeirantes tem dificuldade ao acessar a barca. "Esse é um erro de estrutura que não poderia acontecer, é um perigo constante para os passageiros", afirmou Marcelo Simão. Os usuários do serviço também relataram a falta de limpeza nos banheiros e o surgimento frequente de baratas.
Salva-vidas vencidos
A segurança dos passageiros também está em risco. Os deputados encontraram bóias e salva-vidas fora da validade e com o lacre de vedação rompido. " Na estação de Niterói conseguimos ver que tinha uma bóia vencida desde 2013 e na Barca Itacotiara, que saiu de Cocotá, haviam salva-vidas desgastados e sem a identificação de validade", explicou Marcus Muller (PHS), integrante da Comissão de Trabalho da Alerj.
Embarcação parada
No início desse ano, a terceira das sete embarcações chinesas compradas para reforçar a frota da CCR Barcas, que já deveria estar em operação, teve sua entrega suspensa por falta de pagamento por parte do Governo do Estado. O catamarã social Itacoatiara desembarcou no estado no dia 13 de novembro com a promessa de entrar em operação em até 60 dias. Passaram mais de três meses e a barca continua lacrada na estação Arariboia. A Secretaria de Transportes sinalizou que houve dificuldades para pagar o fabricante e o presidente da comissão, Marcelo Simão, quer ouvir o secretário e cobrar o restante do pagamento. "Vamos fazer um audiência também para esclarecer essa questão. O catamarã precisa começar a operar", concluiu Simão.