Conforme a Philosophical Society, uma contradição performativa “ocorre quando há uma discrepância entre ato e conteúdo, entre a performance e proposição”, ou seja, quando nossas palavras indicam um caminho, mas nossos passos se dirigem para o lado contrário.
Aprendi de maneira bem singela com meu amigo Gilvan Hansen o significado da sentença, através do exemplo da criança que se esconde no armário, quando o pai aderindo a brincadeira pergunta: “tem alguém ai?” e recebe como resposta, “não tem não”, nada mais contraditório com o discurso em questão.
Por outro lado, a contradição performativa é uma cilada, pela qual se pode verificar a real posição que a pessoa adere e se filia, dessa maneira, embora muitas vezes camuflados em discursos besuntados de expressões “apropriadas” para ocasião, alguns mais se assemelham ao caso do “gato escondido com o rabo de fora”, que mais dia ou menos dia se entregam em confissão performática.
Assim, todo cuidado é pouco com os fiscais da boa conduta humana, do hímen alheio ou da moral e bons costumes, via de regra autores contraditos de discursos defensores da mais absoluta liberdade de manifestação e expressão, contanto, que posições contrárias às que irradiam sejam revistas e adequadas ao modelo que entendem mais coerente, ou seja, são autênticos interpretes da democracia de mão única, aquela que não admite oposição.
Defensores da vida, intransigentemente, são contra o aborto a eutanásia ou qualquer forma de sua interrupção; em nome da certeza possuída não querem cizânias entre irmãos, destarte, não querem a guerra ou sequer um ferido caso aconteçam, porém, sabem como é importante em momentos oportunos quebrar alguns dos ovos para fazer as omeletes, ainda mais quando esses não são das suas caixas, em verdade, no final das contas estão pouco preocupados com a vida do outro, o que importa são as convicções que buscam impor, disfarçadas de boa vontade e altruísmo .
Quanto mal esse tipo de gente já fez e faz em nome do bem, quanta dor e sofrimento já apresentaram travestidos de bondades, assim foi na inquisição, justificada na salvação em nome de Deus – não o meu! –; também no nazismo em razão de uma eugenia para “apurar” a raça humana; ou como ainda hoje, na defesa de uma família formada conforme monolítica leitura moral; ou mesmo, através de propostas preconceituosa, como a “cura gay” – pasme, defendida por “autoridade” de governo –; ou, na proteção de fetos marcados por doenças gravíssimas e irreversíveis, fadados ao abandono social, da mesma forma que podem vir a servir à formação de um hipotético exército de miseráveis humanos, futuros carregadores de liteiras.
Assim são as contradições performativas, negativas das falas pelos atos e vice-versa, embora presentes nos nossos dias, muitas vezes de forma estrondosa, boa parte das ocasiões não espantam ou assustam mais, de tão acostumados que ficamos em conviver com a normalidade de nossas incongruências.