Niterói pode ter perdido acervo de mais de 12 mil anos em incêndio

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Remanescentes humanos encontrados no Sítio Arqueológico “Sambaqui Camboinhas”, em Itaipu, serão prioridades dos pesquisadores

Foto: Divulgação

Os remanescentes humanos encontrados no Sítio Arqueológico “Sambaqui Camboinhas”, em Itaipu, Niterói, que estavam no Museu Nacional, serão prioridades dos pesquisadores, logo após o término do trabalho do Corpo de Bombeiros no local da tragédia. Bastante emocionada, Eunice Batista Laroque, diretora do Museu de Arqueologia de Itaipu (MAI) falou do incêndio e da importância desse acervo de Niterói que estava no Museu Nacional, que pode ter sido totalmente destruído, durante encontro com o presidente da Neltur, José Guilherme de Azevedo, na quarta-feira, visando maior integração entre as secretarias municipais para alavancar e desenvolver este atrativo turístico da cidade de Niterói, que como outros museus do País necessita de reformas estruturais.

“Em 2010, um morador de Itaipu, passeando pelo Sambaqui Camboinhas, percebeu que seu cachorro farejou algo estranho nas areias e depois foi constatado que se tratava de um homem com uma criança no colo e mais 3 crianças. “São remanescentes humanos acima de 12 mil anos, que têm uma importância imensurável para o patrimônio arqueológico mundial, superando até mesmo o crânio de Luzia, considerado o fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas”, destaca Eunice.  

Segundo Eunice Laroque, esses remanescentes humanos encontravam-se no Museu Nacional, mas ainda não sabe o que restou, devido à tragédia acontecida no último domingo, o incêndio do Museu Nacional.

“Vamos aguardar o período do rescaldo, a consolidação das paredes, colocação dos contêineres, para daí montar uma força-tarefa, contando até mesmo com funcionários ligados à Unesco, para realização de um novo trabalho arqueológico no Museu Nacional. Só depois disso, saberemos como ficou este material. Isso é muito sério! Acredito que tenhamos material digital para fazer as réplicas, mas ainda não garanto nada, antes da realização desse nosso trabalho. Mas há esperanças”, esclareceu Eunice. 

Para Eunice, o Sítio Arqueológico de Itaipu é considerado o mais importante do Brasil. Temos que criar em Itaipu um grande centro de referência arqueológica, ampliando o Museu de Arqueologia, para atrair pesquisadores e mais turistas, a exemplo de grandes centros arqueológicos mundiais. 

Quanto à questão da inadequação às normas de segurança dos museus, a diretora do MAI disse que, como o Museu não tem telhado, a situação é considerada melhor, mas apesar do apoio do Corpo de Bombeiros, este não pode liberar o Certificado de Segurança contra Incêndios porque o museu não tem a titularidade do terreno. 

Eunice Batista Laroque, diretora do Museu de Arqueologia de Itaipu (MAI), fala da importância do acervo de Niterói que estava no Museu Nacional

Foto: Divulgação

“Mesmo com essa questão, agora à tona após o incêndio do Museu Nacional, o MAI recebe hoje cerca de 15 mil visitantes e turistas mensalmente, entre eles, muitos grupos de estudantes, turistas europeus e até do Japão. A expectativa é de aumentar significativamente esse número após a conclusão desse projeto de reurbanização da área do entorno do MAI, para o qual estou no momento, captando forças junto à Prefeitura de Niterói e outras instituições”, declarou.

À frente do MAI desde 2015, Eunice vem imprimindo uma gestão participativa, procurando implementar políticas públicas marcadas, acima de tudo, pela cooperação entre a instituição e a comunidade local. Através de oficinas diversas, ela conscientiza os moradores do entorno, visitantes e turistas, de que aquele material arqueológico tem um valor enorme para a humanidade. 

“Precisamos mostrar ao País que remanescentes humanos viveram na Duna Pequena, no Sambaqui Camboinhas, e na Duna Grande, logo, viveram aqui em Niterói há milênios! Mesmo que não consiga atingir esse patamar na minha gestão, hoje procuro deixar esse legado para as gestões futuras”, ressaltou Eunice. 

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