Foi uma visita ilustre, a daqueles Três Reis Magos. A bem da verdade, os estudiosos questionam se eram três, se eram reis, se eram magos. O evangelho de Mateus é o único que menciona o acontecimento, mas não menciona quantos eram. O número 3 devemos a Orígenes, escritor do século III.
Quanto à estrela, é provável que tenha havido algum fenômeno meteorológico coincidente com o nascimento de Jesus: uma conjunção de planetas ou o cometa Halley. Mas são conjecturas desnecessárias. O sentido da estrela é outro.
Ele vem acoplado à única pergunta pertinente: por que aqueles Magos se puseram a caminho? Daí a única suficiente resposta ser: porque eles buscavam algo mais. Buscavam luz. Estamos cara-a-cara com a impertinente procura humana que nos faz humanos: queremos sempre mais. Queremos luz.
Mas luz não é laranja em beira da estrada. Os Magos não se puseram a caminho porque viram a estrela – eles viram a estrela porque se haviam posto a caminho. A luz é conquista. Só quem procurar, mesmo, encontrará. Não é um caminho pavimentado de certezas. Perguntas e inquietações acompanham a bagagem.
E é aí que os Magos fazem a diferença. Por não se conformarem com a escuridão, seguiram estrelas.
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...”
Mas para ver estrelas, é preciso mais: é preciso a noite. Só quem não teme a noite, enxerga as estrelas. Nenhuma delas produz luz, sem sombras. Quem caminhar enfrentará eclipses, dias e noites, auroras e crepúsculos, alegrias e cansaços, entusiasmo e desânimo, consolação e desolação. Mas encontrará o que buscar.
Também nós temos caminhos, esconderijos e noites de escuridão. Temos medos de enfrentar exigências e temos nossas estrelas. Temos todas as razões suficientes e estratagemas aparentes para não seguir a luz. Mas temos nossas estrelas. E sabemos que nenhuma escuridão prevalecerá. Pois sempre haverá uma estrela no caminho de quem procura. Os Magos também sabiam. Seu caminho não fora em vão.
Além dos desertos escaldantes, dos centros de poder e das expectativas vãs, foi numa casa comum que encontraram um menino e sua mãe. E estava tudo ali. Eles sabiam.
E como haviam chegado, já não precisavam de nenhum sinal e a estrela desapareceu. Havia luz dentro deles e tesouros a ofertar. E eles que já estavam abertos à luz, abriram seus tesouros.
Então, avisados em sonho, retornaram às suas terras, por outro caminho. É fascinante a preciosidade desse detalhe: “voltaram por outro caminho”. Para os antigos caminhos, aquele encontro foi tão avassalador, que não restava senão encontrar outros caminhos. A partir dali todos os caminhos seriam outros. Ainda que os Magos pisassem nas mesmas areias do mesmo chão, nenhuma estrada seria a mesma.
É que eles não eram mais os mesmos. A luz transforma.