Base Transcultural

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É difícil imaginar a surpresa de Abrão (que ainda não se chamava Abraão), quando chegou a Canãa, na cidade de Salém (que ainda não se chamava Jerusalém), e veio ao seu encontro o sacerdote Melquisedec. A fama dos cananeus era péssima: entre outros boletins de ocorrência havia idolatria, sacrifícios humanos, prostituição nos templos.

Melquisedec abençoou Abrão, gesto aceito por Abrão, que retribuiu com o décimo de tudo o que havia conquistado. O contraste  entre os dois personagens não poderia ser maior. Mas ambos superaram as diferenças e despontaram, Abraão, como nosso pai na fé, Melquisedec, como modelo de um sacerdócio maior que a pessoa de qualquer sacerdote.

É difícil imaginar a surpresa de Paulo de Tarso quando encontrou no areópago de Atenas um altar dedicado “Ao deus desconhecido”. A idolatria de Atenas não se cansava de ser inflacionária. É que um número infinito de meias-verdades não é capaz de suprir nenhuma verdade por inteiro.

Mais tarde, Paulo irá se descrever diante do tribunal, como alguém enviado “para abrir os olhos das pessoas” (Atos 26,18). O mais importante é que ele não fechou os próprios olhos. Assim que se deparou com aquele altar, ele logo percebeu algo no sistema que não fazia parte do sistema. A inscrição dava conta da singularidade daquele altar, naquele lugar. 

Da mesma forma como Abrão não se intimidou nem rejeitou Melquisedec, Paulo se deu conta da grande oportunidade que brotava ali, diante dele: “Aquele que vocês adoram sem conhecer é precisamente o que eu venho anunciar” (Atos 17,22). 

É essa base transcultural que reside nas origens das grandes religiões. É isso que faz certos personagens como Abraão e Paulo ultrapassarem os limites tacanhos de Ur, da Caldeia  de Tarso, da Cilícia e se tornarem universais. Aprendamos!

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