Amigos, por conta de mais um desses caprichos do destino, escrevo esta coluna em meio aos movimentos da 23ª fase da Operação Lava Jato, denominada Acarajé.
Dentro de uma das empresas mais conhecidas do Brasil, alvo de diversos mandados de busca, percorro corredores e salas à procura de mais provas, que possam fechar o cerco ao redor deste, que é seguramente, o maior escândalo de corrupção do mundo, na era contemporânea.
Ingênuo de nossa parte seria acreditar que tais negócios ilícitos começaram há pouco. Não. Nosso país tem tradição na “arte” de corromper e ser corrompido e é referência mundial em tal “qualidade”.
Juízes, procuradores e policiais trabalham sem descanso, acreditando que será possível mudar os paradigmas reinantes em terras tupiniquins. Entretanto, olhando para tudo o que me cerca, sinto minha esperança ficar pálida.
O mesmo povo que pede a prisão dos endinheirados da empresa mais rica do país, tem o pensamento raso no que diz respeito à sua própria conduta. Negligencia o que há de mais importante na construção de um país confiável, que são a ética e a educação.
Então, olho para mim mesmo, aqui nesta sala, durante a Operação Acarajé, e me questiono se vale a pena lutar por uma sociedade tão enferma como a nossa. Por um instante fico disperso, para logo em seguida me concentrar no meu trabalho. Temos uma missão.
E não é por você, que lê este texto, nem pelo seu vizinho ou pelo seu melhor amigo. É pelo Brasil. Pelo conceito do que é uma nação decente, que precisa ser respeitada e mudar o conceito que o mundo tem dela.
E assim, cumprimos mais uma etapa nessa busca por um novo tempo, por uma nova era. Enquanto houver corações ansiosos por encontrar o que é certo, idealistas contumazes continuarão sua jornada, acreditando até o final, que a justiça será feita.