Ato homenageia Marielle em Niterói

Niterói
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Protesto reuniu centenas de pessoas ontem em frente à Câmara Municipal de Niterói. No plenário da Casa também houve sessão com participação de políticos do partido da vereadora assassinada

Douglas Macedo

Centenas de pessoas acompanharam nesta quarta-feira (21), no final da tarde, um protesto contra o assassinato da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) e do motorista dela, Anderson Gomes, em frente à Câmara Municipal de Niterói, no centro da cidade. Comovidas, as pessoas exigiam, principalmente, justiça.

Entre os participantes estavam integrantes de coletivos e diretórios acadêmicos, parlamentares, artistas, estudantes, professores, etc. 

A companheira de Marielle, Mônica Benício, acompanhou a sessão no plenário da Câmara de Niterói, onde foram prestadas homenagens e solidariedade à perda da vereadora. 

“Esses atos de amor me deixam com muito orgulho dela (Marielle), mas não confortam a dor que eu sinto no meu coração, porque eu volto para casa sem ela. Ela fez nascer uma luz para que a gente lute pela nossa democracia. Esse é o maior e melhor legado dela”, declarou Mônica.

Os vereadores do partido de Marielle em Niterói, Talíria Petrone, a mais votada na cidade nas eleições municipais de 2016, e Paulo Eduardo Gomes, também participaram do ato. Talíria falou da sua proximidade com Marielle e de como seu assassinato impactou no atual momento político. 

“Marielle tem que viver em todos os lugares, inclusive nessa Câmara conservadora, que abafa o debate dos direitos humanos, que quer silenciar as defensoras e defensores dos direitos humanos. Marielle será lembrada no mundo inteiro. Nenhuma gota de sangue será derramada em vão. Como mulher, eu sinto que mataram uma de nós e eu não pude me despedir da minha amiga. Como mulher e vereadora, me sinto despedaçada, mas, ao mesmo tempo, sinto que agreguei a força dela em mim”, disse Talíria.

Também companheiro de partido, o deputado estadual Flávio Serafini disse que o legado de Marielle veio para transformar e fortalecer a política e a democracia brasileira, estimulando que muitos se levantem para lutar por justiça.

“A gente vive um momento no Brasil de enfraquecimento da nossa democracia e da soberania popular. A morte da Marielle está dentro desse contexto. É uma execução política de uma das figuras mais votadas no Rio de Janeiro. Felizmente, despertou mobilização. É uma morte que não ficou calada, que tem feito setores da sociedade perceberem que ou uns se levantam para chorar por essa morte, para transformar o luto em luta, ou a nossa democracia vai se fechar ainda mais”, reforçou Serafini.

Partido acompanha investigações

O vereador do Rio Tarcísio Motta também esteve presente no ato e na sessão da Câmara de Niterói. Ele salientou que o PSOL está acompanhando de perto as investigações sobre a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes.

“Estamos acompanhando o trabalho da polícia, especialmente a partir da nossa direção partidária e do deputado estadual Marcelo Freixo, que já tinha uma proximidade maior com a cúpula de segurança. Temos visto de perto, embora não tenhamos nenhuma informação privilegiada, apenas no sentido de mediar qualquer necessidade que a polícia tenha que possamos ajudar e também, lógico, cobrar o avanço do caso”, explicou Tarcísio.

Segundo uma das organizadoras do evento que pedia justiça pela morte de Marielle, a advogada Marcela Munch, de 29 anos, várias manifestações estão acontecendo pelo Estado e pelo País, mas o protesto realizado nesta quarta-feira (21) foi o primeiro em Niterói. De acordo com Marcela, o objetivo é fortalecer Talíria, já que ela enfrenta forte oposição na Câmara por ser mulher e defender as pautas das minorias sociais. 

Referência – Para o artista Fábio Silva, o MC Guélo, de 36 anos, Marielle representava a voz de quem vive na periferia e luta pelo espaço dentro da comunidade. A autônoma Maria Dalva dos Santos, de 39 anos, contou que nas últimas quatro eleições ela anulou seu voto. Mas agora reconhece um desejo de mudança por causa da morte de Marielle. 

“Marielle é uma referência para cada ser humano que acredita e sonha com a igualdade. Tentaram calar sua voz, mas o tiro saiu pela culatra. Nós vamos lutar por justiça até o fim. Estou cansada de ver mulheres sendo massacradas, estupradas, violentadas, mulheres sem voz e vez. Estou cansada de ver pobre, negro e favelado morrendo em comunidade.

Quando morre um pobre na favela, a família tem que provar que aquela pessoa era honesta, e não é assim que deveria ser. A luta por justiça não é só da família da Mariellle, é de todos nós. Nesta quinta-feira (22), tenho esperança de que irei encontrar alguém que me represente. Ser mulher é uma luta árdua e eu vou lutar, seja em casa, na rua, ou no parlamento”, conclui Maria Dalva. 

Fascismo – Para Godofredo Pinto, ex-prefeito de Niterói e atualmente assessor parlamentar do deputado Waldeck Carneiro (PT) na Alerj, o fascismo está cada vez mais vivo. 

“O Brasil não vive uma conjuntura qualquer, o Estado está em colapso, mas a chama da luta não pode se apagar. Todas essas pessoas reunidas aqui hoje [quarta-feira]representam um movimento de resistência e de acumulação de forças para enfrentar a onda fascista no Brasil. A democracia está ameaçada, porém a esquerda unida há de brecar o fascismo. Conhecia a Marielle e sua trajetória, e ela jamais poderá ser esquecida”, finalizou Godofredo.

Agenda – Amanhã, o deputado estadual Marcelo Freixo, a vereadora Talíria Petrone e o também deputado estadual Flávio Serafini participarão de um debate na Universidade Federal Fluminense (UFF), no campus do Gragoatá, bloco O, 2º andar, às 10h.

O evento, chamado de “Contra a militarização da vida e dos territórios” visa discutir a intervenção federal no Rio e também protestar pela morte de Marielle.

(colaborou Pamella Souza)