Bandidos dos dois lados

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Com o olhar de espanto, acompanhamos pelos noticiários as prisões dos policiais militares. Aqueles que deveriam ser nos protetores, mandavam traficantes despacharem “bondes” para as ruas, a fim de levantarem fundos para o pagamento de “arrego”. Nós, que esperamos tanto que as armas de guerra sejam retiradas das mãos dos bandidos, observamos, estarrecidos, que entre os maiores fornecedores desses artefatos, estavam (estão) agentes de lei. É praticamente um tiro no peito da esperança.

E segundos após, invadem nossas telas de computadores, TVs e celulares, imagens de assaltos e violências quase inacreditáveis, onde bandidos armados de fuzis caminham livremente pela orla, roubando celulares, anéis e cordões. Quase ao mesmo tempo, assaltante tenta roubar mercado em horário de muito movimento, sem se importar com o que está ao redor, acabando por ferir com um disparo de arma de fogo, uma moça que trabalha no local. Os vídeos não param de chegar às redes. A ousadia do crime parece não ter fim. Quais são nossas alternativas, então? Será que não era previsível que chegaríamos a este ponto?

Décadas de total abandono do assunto (In)Segurança Pública, com gestores insistindo na manutenção de uma estrutura fadada ao fracasso, seguramente não ofereceriam à sociedade um resultado diferente do que nós vemos hoje. Policiais de todas as forças, observando seu mundo imergir no caos, caminhando no limiar entre a retidão e o crime, sem horizontes mínimos de uma carreira digna, perceberam em algum momento que suas carteiras e armas poderiam fazer a diferença, financeiramente, em suas vidas.

Parece uma aberração ouvir um policial ser convidado para um churrasco por um traficante. Mas, aberração maior é um sistema policial arcaico, que se recusa a encarar a modernidade dos tempos. Nossa polícia tem basicamente a mesma estrutura desde 1809. Nosso modelo investigativo data de 1871. Parece brincadeira, mas não é. De fato não é mesmo. Só se for uma piada de mau gosto apurar menos de 10% dos homicídios cometidos no país. Devemos realmente estar dando certo no quesito “investigar”.

Somos um modelo único no mundo. Mas essa singularidade não deveria se sustentar, uma vez que nossos índices são vexatórios. Será que alguém, com consciência social acredita que apenas bacharéis em Direito podem comandar as polícias? Será a atividade de polícia eminentemente jurídica? A quem interessa esse modelo engessado e inerte?

Muito se fala nas Polícias Municipais. Acho mesmo um modelo que dá certo, se for bem gerido. Então eu pergunto, por que os batalhões de Polícia Militar não são compostos por policiais da cidade ou do bairro, se for possível, onde estão localizados? Não seriam estes os maiores interessados na manutenção da ordem de suas áreas, sem acordos espúrios com marginais? Será mesmo necessário que o policial de Niterói, tenha que trabalhar em Seropédica? Coisas simples para se pensar, mas que mudam as vidas de cidadãos e policiais.