Com o talento na ponta dos pés

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Isabelle e Isabella ganharam uma bolsa de estudos no Miami City Ballet, uma das instituições mais conceituadas do mundo

Foto: Lucas Benevides

Nomes semelhantes, idades parecidas e talentos que se multiplicam. Essa é a história de duas pequenas bailarinas de São Gonçalo que estão prestes a ganhar o mundo com a arte. Isabelle Werberg e Isabella Gouvêa, de 11 e 12 anos, respectivamente, ganharam uma bolsa de estudos no Miami City Ballet, uma das instituições mais conceituadas do mundo. 

Alunas da escola Cenarte Dimensões, no bairro Camarão, as duas foram descobertas por uma olheira da famosa companhia durante um festival no Clube Mauá, também em São Gonçalo. A academia de dança ainda tem mais um motivo para comemorar: outra aluna e moradora da comunidade do Salgueiro, atendida pela escola através de um projeto social, foi escolhida para a bolsa em 2018. 

Isabella e Isabelle viajam no próximo dia 16 de julho e passarão cerca de 15 dias aprendendo novas técnicas de balé clássico em Miami. Mas, para conseguir recursos para arcar com esse sonho foi preciso muita criatividade e força de vontade. 

“Eu e a outra mãe, a Luciana, fizemos um bingo para ajudar nos custos da passagem aérea das meninas. Conseguimos 60% do valor e o resto nós parcelamos. Estamos fazendo algumas atividades também, como barraquinhas em festas para tentar ganhar algum valor”, contou a professora Daniele Werberg, de 33 anos, mãe de Isabelle. 

As duas começaram pelo caminho da dança desde muito cedo. Apesar da pouca idade, a responsabilidade e disciplina de gente grande já é parte da rotina das pequenas bailarinas. Elas treinam seis dias da semana e mantêm um dia a dia diferente das crianças da mesma faixa etária. 

“A nossa alimentação não pode ser igual a de uma criança da nossa idade. A gente faz aula de segunda a sábado, durante umas sete horas por dia. Estudamos de manhã e depois a gente vem para a academia”, explicou Isabelle Werberg. 

Mas, segundo elas, a rotina pesada é superada pela força de vontade de trilhar o caminho da arte e da cultura. Entre um intervalo e outro, elas brincam e não deixam de curtir seu lado criança. 

“Às vezes a gente perde uma festa e outra, mas estamos fazendo o que a gente gosta. Então, a gente brinca e se diverte aqui”, disse Isabella Gouvêa. 

O desafio de viajar para outro país pela primeira vez e dar um grande passo na profissão é o que motiva as bailarinas gonçalenses. Segundo elas, essa é uma oportunidade de aprender diferentes técnicas da dança. 

“Sempre quis seguir a carreira de bailarina, mas estou um pouquinho nervosa e com medo de não entender o que a professora vai falar com a gente, pela dificuldade da língua”, receia Isabelle, que disse, ainda, que vai sentir um frio na barriga como se fosse a sua primeira vez no palco. 

“É um avanço muito grande porque a gente nunca imaginou que ia sair daqui de São Gonçalo direto para Miami. Mas é tudo diferente, cada professor tem o seu jeito de dar aula. A gente vai aprender novas coisas, a diferença do ensino de lá”, completou Isabella Gouvêa. 

Por trás desses talentos, a professora, coreógrafa e diretora da Cernarte Dimensões trabalha para fazer os alunos alcançarem níveis cada vez maiores. Segundo ela, o orgulho das duas se torna ainda maior porque essa foi a primeira escola de dança por onde passaram. 

“É um orgulho imenso, até porque elas foram criadas na escola, sem passar por nenhuma outra formação. Chegaram aqui como dois diamantes brutos e a gente, com muito trabalho, foi conseguindo lapidar. Não é um trabalho fácil, é diário, duro, árduo, mas muito gratificante”, ressaltou Aline. 

Segundo ela, para alcançar essa patamar, Isabelle e Isabella passam por aulas de preparação física, balé clássico e técnicas de ponta para se aperfeiçoar artisticamente. 

“Elas aprendem também trechos de repertórios, variações, conhecem a história do balé, os personagens, os grandes coreógrafos mundiais. É um trabalho longo, mas muito gratificante quando o aluno responde e começamos a colher os frutos, assim como elas duas. É só o início da jornada delas”, orgulha-se a professora. 

Mesmo no início da carreira, as duas já conquistaram um prêmio internacional. No ano passado, elas participaram de um dos maiores festivais do mundo, em Joinville, e conquistaram o título na categoria balé clássico, uma das mais concorridas. 

“Hoje, no Brasil, ainda mais em São Gonçalo, é tão difícil trabalhar com arte e cultura. Quando a gente alcança o objetivo de inserir nossos alunos no mercado de trabalho e em grandes companhias do mundo é um incentivo maravilhoso. Elas ainda estão com 11 e 12 anos, mas já são um exemplo para muitos alunos da escola”, declarou o diretor e cenógrafo do Cenarte, Igor Lopes.