![]()
No filme, Henrique vive um frei que apoiou Marighella, dando suporte e protegendo militantes contra a ditadura
Foto: Reprodução
O pastor, ator e ex-vereador de Niterói pelo Psol Henrique Vieira acabou de estrear no Festival de Berlim, na última quinta-feira, dia 14, o filme “Marighella”, o primeiro para o currículo de Wagner Moura como diretor, que teve a obra ovacionada pelo público. O longa – com Seu Jorge como protagonista, Bruno Gagliasso, Adriana Esteves e grande elenco – é inspirado no livro “Marighella – O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo”, do jornalista Mário Magalhães.
No filme, Henrique vive um frei dominicano que apoiou e esteve ao lado de Marighella dando suporte e protegendo militantes contra a ditadura militar. Como pastor, Henrique está à frente da Igreja Batista do Caminho, que não tem sede fixa: os fiéis se reúnem uma vez por mês em Niterói, pelo Rio, e também em suas casas.
A trama acompanha os últimos cinco anos de vida do ex-deputado, poeta e guerrilheiro de esquerda Carlos Marighella (1911-1969), do golpe militar, em 1964, até seu assassinato, em 1969, numa operação da polícia considerada um dos marcos do fim da guerrilha urbana durante a ditadura. Direto de Berlim, na Alemanha, Henrique Vieira concedeu uma entrevista a O FLUMINENSE para falar sobre o filme, a carreira e o fim da legislatura.
Você foi vereador de Niterói de 2012 até 2016. Como era o primeiro suplente de Talíria Petrone e ela assumiu como deputada federal, poderia voltar para Câmara Municipal de Niterói como vereador, mas optou por não dar continuidade à carreira política e, sim, aos trabalhos como pastor e ator. Por quê?
Eu valorizo muito a minha participação na Câmara Municipal de Niterói. Foi um mandato popular, coletivo, sempre ao lado do povo mais pobre e dos trabalhadores. Mas, no atual momento da minha vida, estou me sentindo mais potente, mais criativo, feliz e engajado na minha militância pastoral e artística. Acho que consigo cumprir uma tarefa importante dialogando com muitas pessoas e desfrutando mais das coisas, que eu creio que carrego dentro de mim como potência na arte.
Como surgiu o convite para participar do filme “Marighella”?
O Wagner me conheceu como pastor e ator, e me convidou para o filme. Passei por um processo de teste e fui aprovado, assim, entrei para o elenco. Trabalhar com Wagner foi maravilhoso. Ele é um artista incrível, de uma sensibilidade profunda, comprometido com a arte, um diretor brilhante e uma pessoa ótima de conhecer e conviver.
Como foi trabalhar em um filme que já se mostra aclamado, principalmente por revelar a resistência política no período da ditadura militar?
A experiência do filme é impressionante. Ele denuncia toda a violência do contexto da ditadura civil-militar do Brasil, de 1964 a 1985, mas que tem muita atualidade porque demonstra que essas violências muitas vezes continuam especialmente sobre o povo pobre, o povo das favelas, o povo negro e aqueles que se organizam nos movimentos sociais. É um filme sobre aqueles que resistiram no passado, mas é também um filme sobre aqueles que estão resistindo no presente. Mostra que ainda existe uma ferida aberta no Brasil de uma violência profunda do estado contra os pobres.
O filme foi aclamado em Berlim. O que espera da repercussão dele aqui no Brasil?
Aqui em Berlim foi lindo! O filme foi aclamado, aplaudido de pé. Era possível sentir um amor muito grande entre o elenco, um relação linda com o Wagner. A expectativa é grande para que o filme estreie no Brasil e que chegue às camadas populares e ao conjunto da população para gerar reflexão, conversa, debate, para mostrar um pouco da história tantas vezes silenciadas do nosso País, para acolher também críticas e debates e diversidade de pensamento. A minha expectativa é que ele chegue para dialogar com o povo, estimular a reflexão crítica e para valorizar a arte, os direitos humanos e a defesa radical da democracia e da justiça social. No limite, o filme é sobre o amor, a dignidade humana e a defesa intransigente da humanidade livre. É um filme para honrar aqueles que resistiram à ditadura. É para falar ao coração do povo. E para lembrar que hoje ainda existe muita violência e arbitrariedade.
Tem mais algum trabalho artístico em vista?
Estou no período de ensaios de um espetáculo solo chamado “Doce Bárbaro Jesus”, em que vou para o teatro com uma montagem com histórias do evangelho mostrando o caráter generoso e bondoso da vida de Jesus. Então, vou representá-las a partir de uma ótica popular sobre a diversidade e a simplicidade da vida de Jesus, de maneira divertida, em forma de contação de história, com uma dramaturgia muito interessante.
De Niterói para a capital alemã
Tpografia
- Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
- Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
- Modo Leitura