Duzentas vezes, obrigado

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Nesta semana completam-se 200 artigos: por duzentas vezes eu fui lido por leitores caridosos e fraternos. Duzentas vezes eu agradeço.

Antes de falar da gratidão, quero fazer um convite: em comunhão com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, convido os católicos, os fiéis de outras religiões e os não-crentes para, amanhã, dia 7 de setembro, participar de um Dia de Oração e Jejum pelo nosso Brasil. Diante do grave momento vivido pelo nosso país, nós, Bispos, convidamos todos para pedir a Deus a bênção da paz para o Brasil. Vamos nos unir, como povo brasileiro, em oração e em espírito de penitência! Vamos pedir a Deus esse grande dom da paz para nossa Pátria amada!

Volto ao tema da gratidão por pensar que só ele é capaz de preencher esse momento. 

Por duzentas vezes fui lido. Duzentas vezes, obrigado!

A gratidão é a mais leve das virtudes, o que não significa que seja a mais fácil. Se fosse fácil, não seria virtude. 

A gratidão nasce do dom. Mas nada se dá sem alguma perda. A gratidão, no entanto, não tira nada; ela é dom, sim, mas dom sem perda. A gratidão nada tem a dar além do prazer de ter recebido. Uma virtude leve e luminosa, feliz e humilde, como um passo de dança, um sorriso ou um trinado de pássaro.

Agradecer já é dar. 

Dessa alegria e dessa felicidade nada sabe o egoísta. O egoísta até consegue regozijar-se com o que recebeu. Mas é um regozijo só dele, guardado só para si. Ou, quando se mostra, é para fazer pessoas invejosas, nunca felizes. O egoísta exibe o seu prazer, mas para prazer dele. É ingrato, não por não saber receber, mas por não saber reconhecer nem partilhar sequer a gratidão de ter recebido. 

É que a gratidão é sempre partilha. A gratidão não dá, ela se dá; dá-se a si mesma como um eco da alegria de que é tecida, e do amor que se faz partilha. Nós absorvemos a alegria como as plantas absorvem a luz. A alegria é o alimento e a água da vida. A gratidão faz essa fotossíntese humana. 

Como não agradecer ao Sol por existir? Como não agradecer a quem fez o Sol? 

Ninguém é causa de si. Há toda uma série de causas, uma infinidade delas, onde tudo se amarra, nos amarra e nos atravessa. Isso produz necessariamente uma gratidão em parâmetro universal, uma gratidão pelo todo que não exclui nem recusa nada, nem mesmo o pior e o trágico. Essa gratidão é verdadeiramente gratuita: dela nada se exige, a ela nada paga. A alegria nutre a generosidade, a generosidade nutre o amor, o amor nutre a gratidão, a gratidão nutre a alegria. Essa é a fotossíntese humana.

O espírito está sempre em dívida do vivido de seu ser. 

A gratidão é a alegria da memória: nada nos pode roubar o que vivemos, nem mesmo a morte. A morte nos rouba o futuro, jamais o passado. Esse tempo reencontrado na gratidão faz da morte uma ideia indiferente. Nem a morte pode anular o que vivemos e a gratidão que sentimos pelo vivido. Ser grato é desfrutar da eternidade, já, aqui. Paulo lembrava que podem nos tirar tudo. Mas algo em nós resiste a tudo: nesse núcleo reside a gratidão.

Não é à toa que no centro da vida espiritual de um terço da humanidade encontra-se um rito vivificante chamado Ação de Graças. A Eucaristia é a gratidão elevada ao patamar da eternidade. A Eucaristia é a garantia de que precisamos por saber que nada em nós será perdido. E que quando enfim nos encontrarmos na Fonte de onde saímos, nada do que fizemos terá sido em vão. Seremos eternos: nada nos fará escapar disso.

Duzentas vezes, obrigado, queridos leitores!