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Aprendemos que somos livres, que temos o direito de ir e vir para todas direções, seja como pedestre, ciclista, motorista ou mesmo passageiro. Essa liberdade de locomoção é que nos emancipa, nos permite autodeterminação nas escolhas dos caminhos. A cidade nos pertence, foi feita pela e para as pessoas e nela podemos decidir o sentido que iremos percorrer. 

Poesia, falácia, utopia... Há tempos nosso direito de ir e vir transita em intermináveis congestionamentos, essa liberdade restrita nos confinam por longas horas em automóveis e ônibus.  

E nossa emancipação para escolher o modo como vamos nos descolocar? Se quisermos ir a pé ou de bicicleta, temos que ter muito cuidado, a violência urbana e a falta de respeito torna essa locomoção cada dia mais penosa. Extensos trajetos ou mesmo pequenas distâncias, dependendo do local e horário não deixam alternativa, senão sujeição a roleta da sorte ou azar.  

O que pode nos acalentar é que não estamos sozinhos nessa penúria, a maioria dos grandes centros urbanos do mundo cresceram à revelia de um planejamento adequado para suportar o aumento populacional. E ainda teve uma agravante, um dado momento histórico se optou em privilegiar o transporte individual – a indústria automobilística – representado o progresso, a geração de empregos e a conquista nos moldes fordista da autonomia do cidadão, com automóveis a preços acessíveis para todos.  

As cidades, aos poucos, ganharam novos traçados, o veículo tomou o lugar das pessoas, os transportes coletivos foram perdendo espaço para o individual. Os investimentos públicos em melhoria nos ônibus, ferrovias, metrô e transporte aquaviário foram substituídos por viadutos, pontes e túneis, visando, sobretudo, o pleno tráfego do automóvel. A ordem era abrir vias, criar espaços atender a demanda. Contudo, algo deu errado, a população e seus veículos individuais cresceram mais do que as ruas pudessem ser alargadas.  

Estamos pagando um alto preço pelas opções do passado. A herança de um pensamento de época se reflete numa grave crise de mobilidade urbana. Por certo, não podemos ser tão reducionista atribuindo somente a esses fatores os problemas viários que enfrentamos, seria até leviano. Questões geográficas, culturais e políticas orbitam esse legado de planejamentos urbanos fracassados. Diagnosticado, o que interessa é: como podemos melhorar a mobilidade? Como podemos transformar cidades já consolidadas?  

Iniciamos essa conversa na semana em que se inaugura a 1ª Travessia do Túnel Luís Antônio Pimentel, também conhecido como Túnel Charitas-Cafubá que ligará duas regiões no Município de Niterói-RJ. As perfurações foram finalizadas, com previsão para a conclusão da obra em dezembro de 2016. Diferentemente do primeiro projeto, esse túnel conta com algumas novidades: prestigia uma via expressa para transporte coletivo; possui uma ciclovia; e, não haverá cobrança de pedágio.  

A pergunta que fica em aberto: o trânsito de Niterói vai melhorar com o túnel? Cremos ser um bom começo de conversa, pois, pensar, planejar e ser usuário da mobilidade não se faz numa só direção, é necessário uma via de mão dupla para democratizar nosso direito de ir e vir.