O que Jesus sabia

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Ao longo das últimas semanas acompanhamos os personagens que foram testemunhas nervosas, silenciosas, importantes, anônimas da Paixão.

Mas e Jesus? O que Jesus sabia? 

Jesus fala pouco, quase nada faz. Ele deixa fazer.

Em Jesus, a vulnerabilidade de Deus se torna espelho da mesquinhez humana, para que o homem se veja, se horrorize, e aceite o novo jeito de ser que lhe é oferecido em silêncio.

Esse é o apelo de Deus à liberdade humana. É um Deus, dizendo a cada um daqueles personagens: Olhe para você, para suas frustrações, servilismos e medos. Por que você chegou a esse ponto?

Essa seria a cura de que precisamos.

As pessoas e a sociedade precisam ser curadas, entender a palavra cura, em toda sua extensão. Quando, hoje, se fala em cura, geralmente, as pessoas pensam em remoção de sintomas.

É assim que procuram por evidências de cura, seja nas propagandas de medicamentos milagrosos ou nas promessas de canais milagreiros. “Venha, experimente, compre! Sucesso garantido ou seu dinheiro de volta”!

Acontece que o sucesso prometido como “cura” é apenas a remoção de sintomas. Que já é grande coisa, mas não é cura. Curar é proporcionar-se algo muito maior!

Cura é autenticidade. Ser curado é tornar-se autêntico. 

O diálogo de Jesus com Pilatos faz disso uma evidência, numa extensão que desafia as barreiras. Pilatos é o homem do poder, mas preso; ele entra e sai do palácio, obsessivamente; ele quer atender todos os interesses, a começar pelo próprio. Jesus lhe mostra o que é ser um homem autêntico, livre dos medos absurdos que nos tornam ridículos. Mas Pilatos não entendeu. 

Será que já entendemos? Que qualquer situação pode virar uma ocasião de sinceridade? Que um processo libertador só se abre quando colocamos à prova as nossas importâncias, e nos colocamos a proposta de não nos curvarmos às carreiras, à burocracia, ao imperador, ao Sinédrio, à multidão enlouquecida?

Será que já entendemos? 

Quero pensar que, naquele instante de vacilação e incerteza, Pilatos quase entendeu: “Então você é rei? – Você está dizendo” (João 18,37). Jesus lhe devolve a questão para que Pilatos interrogue sua consciência. Porque se ele já sabe a resposta, isso o faz um homem livre. Se for um homem livre, que o mostre, para que sua dignidade triunfe. 

Demais! Demais para Pilatos! Para qualquer um! 

Os anos passam e a verdade não perde o status de ser uma proposta ambiciosa. Os séculos passam e a autenticidade não perde a característica de ser um projeto quase impossível.

Talvez seja essa a grande proposta da Páscoa. Para todos.

Vivenciar o novo lado, o novo método, o novo jeito, a nova vida, o novo amor. Experimentar a possibilidade das coisas novas, e das maneiras novas de inovar o que for velho e desgastado.

Saber que o mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia, a troca.  E que a salvação vem pelo risco, sem o qual a vida passa, sem ter valido a pena.

Jesus sabia. Morreu por isso. 

Ressuscitou para isso.