Ainda mais palavras a dizer

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Quando pensamos que não haveria mais palavras a dizer, nos chegam as águas e o fogo de fevereiro. Águas descendo morro abaixo, levando tudo pelo caminho. Fogo entrando sorrateiro entre camas de meninos, não deixando nada, sequer o que pensar. Andamos sendo fortemente testados em nossa capacidade de encontrar respostas para aquilo que nos desarma.

Se elas existem, onde se esconderam? 

As tragédias interrompem os sonhos na melhor parte deles sem a cortesia de deixá-los terminarem. À perda material se acrescenta a incalculável perda humana; à carga emocional se acrescenta a incalculável carga espiritual. Quantas perguntas ficaram sem resposta! Quantas ainda ficarão? Quando tragédias ocorrem, as primeiras perguntas são: Por quê? Onde estava Deus? 

Para os que não acreditam, nenhuma resposta é suficiente; para os que creem, toda resposta é supérflua.

Há séculos nos debatemos com a tragédia, a guerra, a fome, a morte. Há milênios gritamos por respostas. Há dezenas de milênios não nos conformamos. E há centenas de milênios descobrimos, depois de cada desespero, que precisamos continuar. Que precisamos confiar para continuar. 

Israel fez essa experiência e a deixou condensada numa única frase: “Eu sou Deus e não existe outro igual a mim” (Isaías 46,9). Deus continua sendo Deus. E nós continuamos sendo humanos. Invertam a frase, e tudo ganha clareza e densidade. E, sobretudo, a garantia de que não estamos sós. 

Quero expressar meus sentimentos, sobretudo, às famílias que perderam seus entes mais queridos da forma mais brutal, na lama, na água e no fogo. 

A esperança não é a última que morre: a verdadeira esperança é a de que a esperança não morra. É isso que espero. E quando não houver mais palavras a dizer, que a esperança fale por nós e para nós.