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No final da tarde desta quarta-feira (23), vários postos de Niterói já não tinham mais combustíveis nas bombas. E não há previsão para que haja o reabastecimento dos tanques
Evelen Gouvêa
A paralisação dos caminhoneiros desde a última segunda-feira já começa a gerar o caos em Niterói, onde a população sofre com o desabastecimento. Alguns postos já estão sem combustíveis, e preços de alimentos dispararam no Ceasa. Ônibus já começaram a circular com intervalos maiores e gás de cozinha também já está em falta em alguns distribuidores. Nas farmácias, alguns medicamentos já não são encontrados nas prateleiras. Os Correios também suspenderam as entregas pelo Sedex.
Na manhã desta quarta-feira (23), caminhoneiros mantiveram a barreira na Rodovia BR-101, na altura de Itaboraí, e ainda realizaram ato na Rodovia RJ-106, na altura do Km 30, em Maricá. No município, os Ônibus Vermelhinhos passaram a operar em escala reduzida devido à falta de combustíveis.
No início da tarde, em pelo menos três bairros de Niterói: São Francisco, Icaraí e Centro, já não havia mais combustível. Em um dos estabelecimentos, no número 400 da Avenida Rui Barbosa, em São Francisco, a gasolina havia acabado já no final de terça-feira (22), e o prejuízo do estabelecimento, segundo os frentistas, já ultrapassava os R$ 10 mil.
Em sete postos visitados no início da tarde (nas avenidas Rui Barbosa, Roberto Silveira e Visconde do Rio Branco), o último reabastecimento dos tanques ocorreu na segunda-feira (21) e não há previsão de entrega, já que os caminhões de combustíveis estão bloqueados nas estradas.
Nos postos da esquina entre a Avenida Rui Barbosa e a Presidente Roosevelt, em São Francisco, na Roberto Silveira, em Icaraí, 400, e da esquina com Domingues de Sá, a previsão era de que o combustível não durasse até o fim da tarde. O combustível no posto do número 283 da Roberto Silveira já havia acabado por volta do meio-dia.
Na Visconde do Rio Branco, frentistas do posto do número 756 e do estabelecimento entre as ruas Marquês de Caxias e Saldanha Marinho também afirmaram estar sem combustível.
“Soube da falta de gasolina nos postos e corri para encher meu tanque. Também fui logo no mercado para garantir as compras antes que falte produtos ou o preço aumente muito”, disse a advogada Dirceia Ferreira, de 65 anos, que passou por dois postos antes de conseguir abastecer na Roberto Silveira.
O Sindestado-RJ (Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência no Estado do Rio de Janeiro) informou que, ao longo do dia, cresceu o número de postos sem combustíveis no Estado. Já era esperado, uma vez que, em média, os postos costumam recompletar seus estoques a cada três dias. Portanto, caso o protesto prossiga, a partir desta quinta-feira o desabastecimento deverá se agravar vertiginosamente em todo o Estado.
“Ao menos por enquanto, não há como se falar num município ou região mais afetado, porque a falta de combustíveis depende da capacidade dos tanques de cada posto, assim como da frequência com que ele é reabastecido. Daí haver postos que ainda possuem combustíveis à venda, e outros cujos produtos já se esgotaram”, diz nota do sindicato.![]()
Na BR-101, em Manilha, manifestantes deram prosseguimento ao bloqueio para impedir a passagem de colegas
Evelen Gouvea
Caminhoneiros seguem bloqueando estradas
Apesar de estarem prioritariamente em rodovias federais, caminhoneiros montaram barreira no Km 30 da RJ-106, em Maricá. De acordo com eles, por conta da movimentação nas BRs 101 e 493, caminhoneiros passaram a utilizar a rodovia estadual para fugir do bloqueio imposto. Desta maneira, o ato ganhou mais um braço no município.
Na BR-101, a paralisação estava, novamente, na altura de Manilha, em Itaboraí. Motoristas autônomos, além de pararem seus caminhões, “obrigavam” outros caminhoneiros a pararem também, sob o risco de serem apedrejados.
Na parte da manhã, não havia movimentação na BR-493, apenas havia uma faixa pedindo a redução do diesel. Entretanto, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), às 15h havia informação de ponto de interdição no Km 1,5 da rodovia, com ponto de manifestação, próximo ao trevo de manilha, em ambos os sentidos. Já na BR-101, em Itaboraí, caminhões ficaram parados no acostamento do Km 295 ao 297, em ambos sentidos. A faixa 2 da via auxiliar, no sentido Niterói, estava interditada devido ao local não possuir acostamento.
Ônibus estão circulando com intervalos maiores
Em Niterói, algumas linhas de ônibus intermunicipais já estão operando com frota reduzida. A Urbano 1001 informou que a frota da empresa que opera na Região Metropolitana circula, excepcionalmente, com intervalos maiores. A medida está sendo tomada para assegurar que os ônibus da empresa operem até a normalização do fornecimento de combustíveis, evitando assim prejuízos ainda maiores aos passageiros. Tão logo a situação seja normalizada, as operações retornarão ao padrão, o mais rápido possível.
Os consórcios Transnit e Transoceânico, que operam as linhas municipais na cidade, enviaram ofícios à Subsecretaria Municipal de Transportes também informando do risco de limitação e racionalização na operação das linhas.
A Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) informou que o desabastecimento de óleo diesel nos postos de combustível atingiu um ponto crítico para a operação do transporte público de todo o Estado, onde um levantamento realizado na manhã desta quarta estimou que até 40% da frota do Estado não foi para as ruas por indisponibilidade de combustível, podendo atingir até 70% hoje.
A Fetranspor afirma que as empresas estão abastecendo os ônibus em postos comuns, em caráter emergencial. Segundo frentistas de um posto do Pita, em São Gonçalo, cerca de 50 ônibus de uma mesma empresa abasteceram pela manhã. Já em outro posto da BR-101, pelo menos 15 ônibus de outra empresa também abasteceram seus veículos. Em Niterói, populares presenciaram um coletivo sendo abastecido num posto de Santa Rosa.
O Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Setrerj) confirmou que as empresas de ônibus estão adotando planos de contingência nas operações para continuarem a prestação de serviços, comprometendo minimamente o transporte de passageiros.
“A redução nas operações será mantida, em caráter emergencial, até que a distribuição de óleo diesel volte ao normal. Os respectivos Poderes Concedentes Municipais já foram devidamente informados a respeito. Não há previsão de quanto tempo o problema pode afetar a circulação, uma vez que ainda não há informações sobre o fim da greve e o reabastecimento”, diz a nota.
O município de Maricá divulgou que os ônibus Vermelhinhos, que são o transporte gratuito do município, já operam em escala reduzida desde esta quarta-feira (23) devido ao comprometimento de abastecimento da frota. “Todas as linhas que atendem o município tiveram os horários de circulação reduzidos e alguns itinerários foram unificados. Nos horários de maior demanda, como saída e retorno do trabalho e horários escolares, a operação será normal”, informa a nota.
Alimentos já estão mais caros
Devido à paralisação dos caminhoneiros, os preços dos produtos comercializados nas Centrais de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (Ceasa), os produtos hortifrutigranjeiros, tiveram a primeira grande alta deste ano. O elevado número de protestos em Minas Gerais, um dos principais estados que abastecem o Rio, atrapalhou a distribuição dos produtos e valeu a lei da oferta e da procura. Conforme dados da entrada e saída da portaria dos Ceasas, a entrada de caminhões carregados caiu para cerca de 70% .
A batata foi apontada pela Central como o produto com o maior aumento no preço, seguido da batata-doce, cenoura e morango. O saco de 50 Kg da batata inglesa lisa variou 373%, passando de R$ 74, em média, na semana passada, para R$ 350. A mesma quantidade da batata inglesa comum, que custava na média de R$ 64, aumentou para R$ 300 (369%). Já a caixa de 20 Kg da batata-doce, que custava na média de R$ 24, passou para R$ 55. A caixa de 18 Kg da cenoura passou de R$ 36 para R$ 60 (66%). E a caixa 1,2 Kg de morango aumentou de R$ 12 para R$ 18, uma variação de 50%.
Correios suspendem o Sedex
De acordo com a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos está suspenso temporariamente o Sedex: postagem das encomendas com dia e hora marcados. Ainda em comunicado, a empresa informou que a paralisação também tem gerado “forte impacto” e atrasos nas operações da empresa em todo o país e que, para não comprometer a distribuição, haverá o acréscimo de dias no prazo de entrega dos serviços Sedex e PAC.
A Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) alertou que farmácias e drogarias de todo o país já sofrem com o desabastecimento de produtos essenciais, sendo principalmente os medicamentos termolábeis, que devem ser mantidos refrigerados e necessitam de temperatura estável até o seu destino final. De acordo com a associação, na manhã desta quarta-feira (23), veículos de uma empresa que transportavam medicamentos dos distribuidores e centros de distribuição até os pontos de venda foram apedrejados e seus motoristas, agredidos.
PRF vai reprimir bloqueios
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que autuará os motoristas que usarem qualquer veículo para, deliberadamente, interromper, restringir ou perturbar a circulação nas rodovias federais sem autorização do órgão.
Os motoristas que desrespeitarem a determinação de desobstruir as vias poderão ser multados em R$ 5.869,40. Além disso, terão o direito de dirigir suspenso por 12 meses. Em caso de reincidência, a multa é aplicada em dobro, chegando a R$ 11.738,80. A legislação ainda prevê multa de R$ 17.608,20 para os organizadores do movimento.
O anúncio foi feito após o juiz William Douglas, da 4ª Vara Federal de Niterói, enviar ofício à PRF comunicando sobre liminar de reintegração de posse que determina a retirada de veículos que estejam obstruindo a Rodovia BR-101.
Ainda nesta quarta, caminhoneiros que bloqueavam a estrada ameaçaram interditar completamente a via a partir da próxima segunda-feira, caso as reivindicações da categoria não fossem atendidas.
Serviços e transportes podem entrar em colapso
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