Um coração maior que o meu

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A Igreja tem grandes tempos: o Tempo do Natal, o Tempo Pascal, o Tempo Comum, cada um deles com um espírito peculiar.

O espírito do Tempo Pascal começa na Quarta-feira de Cinzas, início da Quaresma. Desde aquele dia, todo nosso pensamento é orientado para uma remodelagem do coração. Os profetas éticos do Antigo Testamento, sobretudo, Ezequiel, os Salmos e os livros sapienciais, muito lidos nessa época, insistem na volta do coração para Deus.

É assim: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro” (Salmo 51), “Tirarei do vosso peito vosso coração de pedra e no lugar colocarei um novo coração de carne” (Ezequiel 11). Uma remodelagem total, desde dentro.

Mas o que significa a palavra “coração”? O que os escritores sagrados querem dizer com isso?

Coração, em hebraico é LEV; em grego, KARDIA: as duas línguas em que a Bíblia foi escrita. Contudo, no contexto bíblico, a palavra coração não significa o músculo cardíaco, em forma de cone, do tamanho de um punho fechado, com massa de aproximadamente 300 gramas num homem adulto. E, olhe que ela ocorre quase 900 vezes ao longo da Bíblia. Mas então, o que significa, se aparece tanto?

Na literatura bíblica, a palavra coração tem quase o mesmo sentido que hoje atribuímos à palavra “alma”, ou à palavra “consciência”, quando dizemos: eu o amo de toda minha alma, minha alma está triste hoje, põe a mão na consciência.

Coração, na linguagem bíblica, significa o centro do ser. Naquela época, pouco se conhecia de anatomofisiologia. Então, eles usavam as partes do corpo para significar aspectos da alma. Assim, coração, no centro do peito, deveria ser também o centro do ser: aquilo que responde por toda a nossa capacidade de querer e desejar, de se colocar ou não no caminho de Deus, de responder a Ele ou de negar sua voz em nós.

Por isso, não é à toa que o espírito do Tempo Pascal, que começa no início da Quaresma, pedindo um novo coração, se estenda até a próxima sexta-feira, quando celebramos o Coração de Jesus. O Coração de Jesus é o coração encarnado, coração de homem, igual ao nosso. Enquanto órgão de um sistema cardiorrespiratório, a mesma coisa.

Por outro lado, imensamente diferente do nosso, enquanto motivação existencial, que nos faz perseguir nossa essência, até confundi-la com a essência de Deus. Em Cristo, tudo era humano, mas nada era do homem. Não desse homem que provoca guerras, morte e destruição, que reduz o ecossistema a desertos, e que desertifica a dignidade humana quando a brutaliza.

O Coração de Cristo é o desejo de Deus em nós, é o querer de Deus que nos faz, justamente, querer a Deus. Ele sabia da nossa insuficiência. Por isso se plantou em nós, com o desejo irresistível de querer só o que Ele mesmo quisesse.

É um coração igual ao meu. Sim. Mas imensamente maior que o meu. E é por isso que o meu é tão grande! No começo, o coração de Jesus era igual ao meu. No final, é o meu que será igual ao dele. Tão grande!