O trabalho de compreensão da verdade está sempre por recomeçar; nunca, nenhuma interpretação é a definitiva.
As interpretações nos dividem. E os cristãos se dividiram entre as variadas formas de interpretar a sua fé. Embora nossas diferenças nos irritem, elas reforçam nossa unidade, porque resultam de uma responsabilidade comum: a exigente mensagem da Páscoa.
A mensagem da Páscoa alterou as nossas vidas, desviou-nos dos caminhos traçados de antemão, atirou-nos para o desconhecido, abriu as portas da vida e da liberdade. A morte de um homem, Jesus de Nazaré, que comia e bebia com gente de má fama, foi o instante de revelação por excelência de Deus na história. Essa é uma proclamação inesperada. E o fato de fazer parte da história a torna ainda mais inesperada.
É que a história é o palco da revelação de Deus.
Seria mais simples se Deus fosse um sistema ao invés de uma pessoa. Mas Deus não se revelou como uma ordem de verdades filosóficas. Ele se revelou na história, e na história particular de uma pessoa: Jesus de Nazaré.
Não foi na encarnação de um sistema abstrato, de uma moral impessoal, de uma máxima a ser seguida e praticada. A revelação se deu numa pessoa, no íntimo de uma pessoa, numa alma humana. A confissão de nossa fé nos faz companheiros e contemporâneos dessa pessoa.
Isso requer de nós um trabalho de imaginação, além de qualquer racionalização. A verdade de Jesus não aconteceu, acontece. A verdade é sempre algo que acontece, e só pode ser verdade na justa medida em que acontece.
Daí em diante, em nome dele, homens e mulheres procuraram a verdade, dia e noite, sem descanso nem descaso, levados pela sede de absoluto. A verdade não transige nem suporta espíritos tíbios. Ela reivindica tudo: corpo e alma.
Só uma verdade acima de qualquer questão teórica poderia reivindicar tudo. Uma verdade assim dispõe a origem, o sentido e o objetivo da vida humana. Funda a existência. Retira a vida do barro para formar figuras humanas, únicas e pessoais. Constrói sujeitos a partir de cada indivíduo e da massa inerte. Confere aos seres a sua humanidade, procura o sentido em cada um, desvenda seus segredos e suas raízes: o chão em que estão plantados e o húmus que os alimenta.
Uma verdade assim inverte a ordem, abre o caminho, empurra ao caminho. Por isso, a compreensão da verdade é sempre um caminho por recomeçar; nunca, nenhuma interpretação é a definitiva.
Apesar das interpretações dividirem os cristãos nas várias maneiras de interpretar a verdade da fé, a verdade, ela mesma, permanece única: nasceu, morreu e ressuscitou. E se isso parece loucura, foi essa loucura que deu consistência à história.
Essa é a semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
Não seria demais sonhar com um mundo unido. Não seria demais esperar que os cristãos fossem unidos. Não seria demais começar por nós.
Até o Domingo de Pentecostes peçamos que o Espírito nos recoloque, unidos, no caminho que ele mesmo traçou.
Unidade dos cristãos
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